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Gorila ou capivara, melhor que ser humano.

Em Belo Horizonte, pelo que se pode constatar no noticiário dos últimos dias, é mais vantajoso ser um gorila ou uma capivara, que ser humano.
Sim, pois, os gorilas do zoológico municipal receberam tanta atenção, que agora, até o Ministério Público (como se faltasse assuntos legitimamente humanos para lhes justificar os altos salários), a título de prevenir uma possível associação das origens dos símios com as origens de certa parte dos humanos (origem essa que é fato inegável, posto que ambos vieram do continente africano, como nos ensinaram os livros escolares), partiu para diante dos holofotes em disputa com a administração municipal, afim de evitar que o gorilinha recém nascido receba nome que faça lembrar a verdadeira origem de seus ancestrais africanos. Temem os Promotores que algum indivíduo humano que tenha ancestrais africanos possa se sentir comparado aos gorilas e por isso, menosprezados, vitimado por algum tipo de racismo.
A administração municipal, por sua vez, visivelmente sem trabalho importante a fazer em prol dos humanos citadinos, gasta seu tempo em estudar um modo de esterilizar as capivaras da Lagoa da Pampulha, de modo que em alguns anos a população dos roedores diminua, fazendo sumir milagrosamente os carrapatos estrela, verdadeiros responsáveis pela transmissão da febre maculosa. Essa história das capivaras já virou novela, e das ruins.
Ora, preciso desesperadamente repetir o que tenho dito, como se fosse eu uma daquelas matracas litúrgicas, que ninguém quer ouvir: Ou mudamos o foco das ações dos governantes e administradores da coisa pública neste país, ou logo logo, não teremos mais país a ser governado ou administrado. Ou cuidamos do que tem que ser cuidado, deixando de lado as ambições pessoais, as vaidades e as paixões individuais, ou a sociedade não suportará tanto desmando, tanto egoísmo e tanto erro. pagamos caro demais para receber tanta incompetência.
Insisto na tese de que nenhuma pessoa poderia ser empossada em cargo na administração da coisa pública, sem que tivesse, antes de postular tal cargo, se submetido a uma formação específica em administração pública. Escolas boas para proporcionar tal conhecimento, é certo que temos. Falta então, a boa vontade e o envolvimento do próprio povo, posto que os atuais administradores, pelas suas ações, certamente não vão querer investir na capacitação de seus sucessores.

Aos que, pelo contrário, se dão ao louvável trabalho de defender as causas da sociedade que lhes remunera e sustenta, parece faltar foco, ou sobrar criatividade, posto que investem em empreitadas que, se não inúteis, no mínimo perdem em importância para tantas outras que são deixadas de lado.

Miopia e demência.

     Uma espécie de miopia acomete os responsáveis pela execução e fiscalização da execução do serviço público. Falta aos administradores, mas falta também aos cidadãos como tal. A visão de curto alcance demonstrada por todos nós nas ações do dia-a-dia não deixa espaço para outra qualificação do nosso povo.
     Sofremos também de uns esquecimentos, uns lapsos de memória, uns verdadeiros apagões, inexplicáveis, mas que geram prejuízos enormes a nós mesmos, à sociedade que formamos. Isso é facilmente perceptível, nessas mesmas ações, que invariavelmente resultam em prejuízo próprio. Parece uma auto-sabotagem coletiva. É como se estivéssemos todos dispostos a sempre escolher o que todos podem ver que será a pior escolha. mas é assim que temos feito. Todos nós.
     Vamos explicar isso. Observemos nossos administradores, servidores públicos, parlamentares, pessoas que ocupam alguma posição pela qual detenha poder. Inclua-se os líderes religiosos e de classe, juízes, comunicadores, etc.etc. Não creio que seria muito esperar que essas pessoas chegassem a tais posições por demonstrarem publicamente a capacidade executar as tarefas inerentes de forma que beneficiassem o grupo por elas representado. Mas o que vemos é, na maioria das vezes, o contrário. A miopia se manifesta e eles não conseguem projetar o próprio sucesso em um futuro coroado pelo bom trabalho, então, buscam o enriquecimento ilícito como forma de se premiarem a si mesmos o quanto antes.
     Por outro lado, os cidadãos, que chancelam os atos dos administradores, elegendo-os, mantendo-os e reconduzindo-os como se fossem os melhores do mercado, demonstram um estado de demência, um esquecimento de como se faz a coisa certa. Agimos como crianças pequenas, que não aprenderam ainda a escolher entre o bom e o ruim. Agimos em desfavor de nós mesmos. Empoderamos alguns e nos submetemos a eles de uma forma louca, perniciosa, suicida.
     Os últimos tempos, com suas atrocidades, com a falência dos princípios morais, com a derrocada das bases éticas da sociedade como a religião, a escola, a família, apontam para um futuro de incertezas e de muita dor. 
Não se pode esperar que as coisas se resolvam e entrem no eixo por si só, considerando o nível de corrupção ao qual chegamos. Nossa sociedade vai precisar refazer o caminho desde o começo.
     Como crianças, precisaremos passar pelas experiências de crescimento, que inevitavelmente causam muita dor. Mas não há outro caminho. Nossos olhos e nossa mente já não são passíveis de cura.

S/A Sociedade Anômala



Extraído do livro 
CIDADE MULHER - Dores e sabores da vida e da morte.
de Weverton Duarte Araújo 



S/A


Sacanagem no congresso
Ouvimos diariamente
Compram-se uns aos outros
Imorais, criminosos
Empregados
Do vício e do erro
Aviltadores
Do bem público
Esbanjadores do alheio

Assim são
Nossos ilustres edis
Ônus que herdamos
Maldição incurável
Aos olhos humanos
Lixo moral abominável
A entregar o país.

Só nos resta lamentar
E orar por
Mudança

De Alah, Javé ou Jesus
E esperar que
Uma luz acenda

Racismo, injustiça ou hipocrisia?

A desigualdade social em nosso país é óbvia e inegável. A diferença do tratamento historicamente recebido por ricos em comparação a pobres, negros, por índios e mestiços em comparação aos chamados brancos, por nordestinos em comparação aos nativos do sul e sudeste é gritante e facilmente explicável.

Tomemos o caso do professor Manoel Luiz Malaguti, da UFES, acusado de racismo, por ter manifestado em sala de aula sua opinião de que os alunos cotistas seriam responsáveis por uma baixa no nível das aulas, ou algo parecido.

Dois aspectos importantes precisam ser levados em consideração: A reação apaixonada e desmedida contra a liberdade de expressão e a realidade escondida sob a fala do professor, mesmo que esta traga em si algum tipo de injúria contra tal ou tal segmento da sociedade.

Se ele disse que os cotistas tiveram, por motivos óbvios e até por isso são cotistas, menores oportunidades de formação, não parece tão absurda sua tese de que haja diferentes níveis de compreensão em uma determinada turma de estudantes, determinada essa diferença por fatores como, alimentação, acesso a saneamento básico, exposição a meio social violento, falta de exemplo familiar, maior facilidade de acesso a drogas (lícitas inclusive) desde a infância, etc. etc. Os que se salvam das garras da criminalidade ainda precisam trabalhar e estudar ao mesmo tempo, para concluir o ensino médio, antes de serem ou não, incluídos no sistema de cotas.
Parece óbvio que as classes até então menos favorecidas, hoje atingidas pelas cotas, certamente não estão atualmente em condições de igualdade com os abastados, que desde crianças comem do melhor, recebem cuidados médicos de qualidade, educação formal fornecida pela rede particular, intercâmbio cultural internacional etc.
Ora, não estou certo de que os que se arvoraram do papel de heróis, (inclua-se o desembargador que disse ter tomado conhecimento do caso pelos jornais e imediatamente entrou com representação) para a imediata repreensão do infeliz docente, em algum momento se atentaram para a grande verdade escondida sob sua fala. Quem em pleno juízo, é capaz de afirmar que existe equilíbrio de condições na formação de nossos profissionais, consideradas suas origens raciais e sociais?

Mais que a apaixonada defesa dos excluídos diante dos holofotes ou pela mera divulgação desse tipo de fato, por mais que ele realmente seja inadequado para a sociedade que desejamos, há que se abandonar a hipocrisia e encarar de frente a realidade do país racista e classista em que vivemos.

Juiz é deus sim senhora.


Três anos depois de ser humilhada em pleno desempenho de suas funções, por um magistrado em pleno cometimento de infrações à Lei, a servidora que teve coragem para enfrentar o corporativismo do judiciário brasileiro se vê condenada a indenizar por danos morais o olímpico e intocável símbolo da truculência de um sistema que continua a dar tudo aos amigos e a LEI aos que o desafiam.
A servidora, mulher de fibra, não se humilhou à carteirada do absoluto e todo-poderoso, nem se colocou abaixo da função que ele representa para a sociedade, já que essa função, ele não exerce dirigindo carro sem placa e sem portar a carteira de habilitação, mas debruçando-se sobre os processos e julgando-os, para o que recebe salário mais que justo.
O juiz, um fraco, escondido sob um título e protegido pelo sistema, esse sim, desrespeitou toda a lei, assim como à sociedade pela qual é pago e à qual devia servir. Achou-se e continua se sentindo mais-que-supremo, entre os “elohim”, poderoso carteirudo, dono da caneta, acima de tudo e de todos, a ponto de desejar quase dois salários dentro do bolso da infame pecadora insubmissa. Coisa de demiurgos de sua laia.
Pois saiba agora, senhora servidora, que a segunda instância é composta de deuses do mesmo sangue e mais poderosos, que protegem o irmão menor. Agora a senhora corre o risco de ter que recorrer a Terminus, deus romano que ensina a reconhecer limites, ou para não sair de nossas terras e nossa língua, a Xangô, o justiceiro, que saberá dar a quem merece o que merece.

Grupos de indivíduos e mútuas influências

Grupos de indivíduos

Weverton Duarte Araújo

Por que nos agrupamos, formamos famílias, turmas, clubes, sociedades? De Freud podemos auferir a ideia de que somos todos vítimas do narcisismo, que em princípio nos leva a odiar o outro, posto que esse outro é marcantemente diferente de nós e está lá, a nos apontar sempre essa diferença como ameaça ao que julgamos mais belo, mais perfeito, ou seja, nós mesmos.
A motivação para nos unirmos a outros humanos, de modo a permitir o surgimento de um grupo, é tratada no Cap. VI do escrito “Psicologia de Grupo e a análise do Ego”, onde Freud evoca Schopenhauer e sua célebre história dos porcos-espinhos, que por necessidade de calor se aproximam uns dos outros a ponto de se ferirem mutuamente, mas se afastam e se aproximam novamente até encontrarem o ponto de equilíbrio, onde se aquecem mutuamente sem se ferirem.
Daí a noção de que também nós, humanos, só refreamos o nosso narcisismo em função de uma necessidade tão importante quanto a que ele protege, ou seja, a preservação da vida. A única barreira do amor por si mesmo seria pois, o amor pelo outro, ou amor objetal.
Há que se pensar seriamente então, a respeito do conceito de amor, já que a relação de sujeito e objeto frequentemente associada a ele, pode não ser exatamente adequada ao que habita o ideário popular como conceito de amor. Nos agrupamos por afinidade, por apego (amor) ao que o outro pode nos oferecer para suprir nossos desejos e necessidades. Assim, como os porcos-espinhos, tanto damos quanto recebemos ao fazermos parte de um grupo, onde aprendemos a suportar os espinhos pontiagudos do narcisismo de nossos semelhantes para não morrermos do frio da solidão.
O casamento e o consequente agrupamento familiar, com suas inúmeras formatações observadas atualmente, talvez seja a forma mais comum e frequente de as pessoas se agruparem. É fácil entender os motivos dessa tendência, que se pode justificar primeiramente pela necessidade de preservação da espécie, não obstante esse aspecto pareça ter perdido a primazia em favor de outros, de cunho social e econômico, uma vez que a família, como "célula mater" da sociedade, agindo como  multiplicadora de ideologias  políticas e religiosas, possibilita assim a perpetuação, não apenas de pessoas, mas de Estados e dinastias.
Quanto às outras modalidades de agrupamentos de pessoas, é certo que cada uma visa a atender também uma necessidade humana. Assim sendo, poderíamos dizer que os grupos são uma maneira de realização coletiva dos desejos individuais. Mais que isso, também a realização em cada indivíduo, dos desejos e expectativas de uma coletividade.
Engels (2006) propõe um processo evolutivo na organização dos grupos familiares, situando-os em três estágios: estado selvagem, barbárie e civilização, nos quais predominavam, respectivamente, os casamentos por grupos, a família pré-monogâmica e a monogamia.
E acerca da monogamia como suposto resultado de evolução onde o amor sexual individual sobrepujasse a conveniência dos outros modelos de agrupamentos de pessoas, Engels discorda, destacando o fato de que essa teria sido “a primeira forma de família que não se baseava em condições naturais, mas em condições econômicas”. Para ele, a monogamia surgiu da concentração de grandes riquezas nas mãos de homens (indivíduos do sexo masculino), que desejaram passar essas riquezas como herança aos filhos, o que não era possível nos modelos anteriores de agrupamentos familiares, organizados que eram em torno das mulheres, a partir das quais se orientavam as regras da hereditariedade.
Um aspecto que chama a atenção daquele que se ocupa em observar um grupo, certamente é o caráter provisório do estado mental de seus membros, que retornam a um estado diferente assim que deixam de estar compondo um grupo, mas, agindo como indivíduos isolados. Os indivíduos se perdem nos grupos, como se a fusão das diversas personalidades causasse um efeito hipnótico, capaz de trazer a tona as características comuns a todos os membros do grupo, que por isso mesmo não assustaria os demais.
Os caracteres individuais se desvanecem e dão lugar ao que há de mais naturalmente humano e menos civilizado em cada um. A união dessas manifestações caracteriza a força do grupo, a capacidade de execução de ações que ao indivíduo isoladamente seria impensável, consideradas as limitações impostas pela ação do superego ou do próprio ego, racionais e carentes que são da aceitação do outro.
Por meio da supressão da repressão imposta pela civilização, já que no grupo o anonimato protege o indivíduo, todos agem e ninguém é responsabilizado individualmente. É possível que boa parte dos indivíduos de um grupo, se questionados acerca da responsabilidade individual pelas ações coletivas de seu grupo, não se sinta individualmente responsável.
De alguma forma, o EU civilizado desaparece, uma vez que o OUTRO que delimita o alcance e a intensidade de suas ações também desapareceu, tornando-se um anônimo como ele mesmo. Daí podermos afirmar que o grupo remete o indivíduo a sua condição anterior à civilização, quando havia a supremacia da pulsão em detrimento do efeito civilizatório da repressão.
No capítulo IV de “Psicologia de grupo e análise do ego” de Freud, aprendemos que a influência do grupo sobre o indivíduo pode alterar profundamente sua atividade mental, reduzindo-lhe a capacidade intelectual ao nível médio dos componentes do grupo, para que possa haver um certo grau de homogeneidade nas ações e no discurso de seus membros.

O “normal” e o patológico


O indivíduo se relaciona com o grupo de tal forma, que podemos supor a ocorrência de uma identificação imaginária, ou seja, uma situação tal, em que o indivíduo se vê representado pelo grupo enquanto está nele, como se o grupo fosse capaz de fazer emergir e dar evidência a uma imagem que o indivíduo tem de si mesmo e não consegue manifestar  enquanto indivíduo isolado.
Trata-se de uma identificação especular narcísica que a civilização eficazmente inibe pela ação da repressão social, vencida pela força da sensação de anonimato do grupo, que permite um certo grau de transgressão.
Podemos assim, afirmar que o pertencimento a um grupo possibilita ao indivíduo alguma espécie de emancipação, já que uma dose de narcisismo não seja exatamente abominável, mas, pelo contrário, até mesmo necessária.
Essa identificação é também de certa forma uma identificação histérica, uma vez que o indivíduo assimila determinados traços do grupo, que não são traços seus, necessariamente. Uma identificação ao desejo do outro, cuja satisfação é alcançada por intermédio da manifestação de traços que o indivíduo toma por empréstimo ao grupo, mas os confunde como seus, manifestando um estado patológico. Por mais que seja legítimo o empréstimo desses traços, já que o indivíduo pertence ao grupo, o equívoco se encontra na confusão entre o que é do grupo e o que é do indivíduo.
O aspecto negativo mais evidente da influência da mente grupal nas ações do indivíduo pode ser observado nos abusos cometidos pelos grupos de manifestantes, “black blocs” e outros do mesmo gênero, que surgiram recentemente, em meio às manifestações que se multiplicaram pelo Brasil, a partir de meados de junho de 2013 e culminaram em fevereiro de 2014, com a morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido na cabeça por um artefato explosivo lançado por um anônimo que, muito provavelmente não o faria se tivesse o rosto descoberto e não estivesse influenciado pelo desejo, pelas emoções e pelo efeito da sugestão a que podem se submeter os membros de um grupo.
Pessoas que, estivessem sozinhas, dificilmente praticariam atos de violência e desrespeito às leis, agem de forma exatamente oposta quando reunidas em grupos, abandonando o sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos, como afirma Freud, ao citar Gustave Le Bon em sua descrição da mente grupal.


Conclusão

  
O indivíduo se perde no grupo. O Eu desaparece e o Inconsciente se expõe e se impõe. É como se todos fossem perversos ou psicóticos, livres das limitações neuróticas, surtados pelo efeito do agrupamento e do anonimato, quando então a lei do pai (a castração, a repressão) é ignorada, rejeitada ou mesmo afrontada, dando espaço aos desejos naturais do indivíduo mais contidos pelo efeito repressivo da civilização.
A mente grupal que invade os indivíduos enquanto membros dos grupos é um vácuo na civilização, uma possibilidade de “não eu”, de transcendência, de negação da ascese imposta pela civilização.
 Não tratamos aqui, como se viu, dos aspectos positivos e benéficos da exposição do indivíduo à influência dos grupos, embora creiamos existam, obviamente, e tanto podem trazer benefícios quanto malefícios ao indivíduo, assim como à sociedade, uma vez que abalam as estruturas de um e de outro.

 

Referências bibliográficas:

ENGELS Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo: Escala. 2006.

FREUD Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Rio de Janeiro: Imago, 1996.(Vol. XVIII).

Bom mesmo é ser criança

Bom mesmo é ser criança
sem vergonha de chorar
sem pensar no que quer dizer
nem ter hora pra sorrir

Bom é só ter na lembrança
a vontade de brincar
de gritar e de correr
ter lugares aonde ir

Tão bom não temer mudança
graça em tudo encontrar
desbravar e conhecer
caminhos novos abrir

E a gente nem se cansa
quer de novo começar
ver o dia amanhecer
e ver a noite a cair

roupa suja, cachos, trança
pouco tempo pra estudar
tanta coisa a aprender
quanta vida a descobrir

gente grande é outra dança
pra tudo tem que pagar
nem tudo pode comer
nem tempo tem pra me ouvir.

Eternas crianças

     O circo está armado. O povo elegeu Tiririca, Bolsonaro, Sérgio Reis, Marcos Feliciano, Delegado Moreira e mais alguns apresentadores de programas de rádio e TV, jogadores de futebol, artistas, padres católicos, pastores evangélicos e policiais. Já se avalia que teremos o legislativo mais conservador desde 1964. Isso porque ficaram de fora as mulheres-fruta, que tentaram, mas não conseguiram por suas bundas e peitos enxertados de hormônio e silicone, alcançar um lugar no picadeiro.
     Mas, o que não se leva em consideração é que essas figuras não passam de personas, de caricaturas daquilo que parecem ser. Mas não o são. Nem é disso que precisamos. Nem de heróis, nem de caricaturas de heróis.
     Então, o que leva o cidadão a escolher para seus representantes esse tipo de pessoas? Seria a nossa democracia tão infante, que não sabe ainda agir com seriedade naquilo que é sério, como crianças rebeldes brincando de punir o sistema, colocando lá os tipos mais esdrúxulos, sem pensar que o prejuízo será de nós mesmos?
     Não haveria em nós ainda a consciência de que nossos representantes nos poderes executivo e legislativo são, ou deveriam ser os responsáveis pela administração do país?
     Que tipo de povo somos nós, que tendo vivido duas décadas sob um regime militar, após conquistar a tão sonhada democracia, com liberdade como nunca se teve antes, não dá conta de administrar essa liberdade, enfiando os pés pelas mãos, cuspindo no prato ainda cheio e quente?
     Sim, não sabemos discernir o sujo do mal lavado. Muito menos pensar a longo prazo. Somos crianças birrentas e imediatistas. Queremos o bom e o melhor, mas não fazemos por onde. Assim, se não nos dão o que queremos, jogamos lama no ventilador.
     Mas é sobre nós mesmos que toda a sujeita retornará. E é assim mesmo que o sistema nos quer: cegos, mimados, dependentes e demandantes, sem capacidade de reagir, à mercê dos predadores e oportunistas de rapina que voltam de dois em dois anos.

O povo precisa de quê mesmo?



O povo precisa de quê?


Marketing entorpecente

     Às voltas mais uma vez com um processo eleitoral o Brasil parece entrar em uma espécie de letargia doentia, que se repete a cada dois anos, com as pessoas se envolvendo no processo como se fosse a sua primeira vez, mesmo aquelas que já trazem as marcas das muitas desilusões.
     Nesse clima de ofuscamento que nos inebria, a memória parece falhar, diante de novas ou antigas promessas, as quais facilmente se mostrarão impossíveis de serem cumpridas, quando cessar o efeito do nevoeiro imposto pelos mecanismos de propaganda aos quais somos inevitavelmente submetidos.
     Dentre esses mecanismos há os tão divulgados números de pesquisas de intenção de voto, que em condições normais, a salvo do efeito entorpecente do bombardeio do marketing, nenhum de nós deveria dar o menor crédito, pela insignificância do público pesquisado, pelo pouco rigor científico dos métodos aplicados, ou até mesmo pela incerteza de que os números divulgados reflitam algo de verdadeiro. Na verdade, não se pode crer na seriedade dos nossos institutos de pesquisa, pois até neles já se encontraram resultados manipulados ou erros escandalosos.
     Tudo isso, obviamente, expõe não mais que a verdadeira cara do nosso povo, que não confia na própria sombra e não tem dela mesma um voto de confiança. Nossa ética é essencialmente corrompida já no nascedouro. Não a temos internalizada como se sabe necessário a um povo que anseie por respeito.
     E como poderemos ser respeitados por quem quer que seja, se não nos respeitamos a nós mesmos? Permitimos se candidatarem à administração do nosso Estado pessoas aparentemente desequilibradas. E ainda rimos disso. Pior: elegemos tais malucos.
     Seja qual for o resultado das eleições deste ano e dos próximos, não se pode esperar um Brasil melhor, se os eleitores, aqueles que detêm em seu voto o poder de escolher bons administradores, não se conscientizarem de que a coisa é séria. Se a Justiça Eleitoral e a Constituição Federal não são barreiras para que alguns banalizem o processo e o tratem como brincadeira ou palhaçada, que o povo, de quem emana o poder, seja o empecilho aos avacalhados e moralize a coisa.
     Quem contrataria um palhaço, ou um pastor evangélico, padre, jogador de futebol, comentarista esportivo, mulher pelada, etc. para administrar a construção de sua casa? Ninguém, certo? Por que então continuamos elegendo e pagando caro a pessoas sem qualificação para administrar o país, o estado, a cidade? Precisamos nos vacinar contra o veneno do marketing das campanhas eleitorais e mudar nosso Brasil para melhor.

Lá vamos nós, improvisar novamente.

E lá vamos nós improvisar novamente. Até parece que é sina, azar, ou coisa assim. Mas, é inegável que sempre somos compelidos ao improviso. Assim tem acontecido por não nos preocuparmos com o futuro, por não sermos adeptos de uma cultura previdente. É do nosso jeito de ser, o improviso, o arranjo de última hora, a gambiarra. É assim nas terras do Pau-Brasil.
Pois bem, morto Eduardo Campos, o candidato à presidência que representava uma possibilidade honrosa a quem não desejava anular o voto, mas não suportava a ideia de votar em Aécio ou Dilma, surge a possibilidade de que esse voto não seja apenas dado a alguém como forma de protesto. Marina, conforme a aliança que fizer nos próximos dias, pode representar uma séria ameaça à polarização PT-PDSB, que até então se mantinha estável, já que Eduardo não representava perigo iminente.
Algum tipo de improviso deve surgir, a partir do inesperado acidente, já que o tempo é exíguo e os sonhos não podem ser abandonados, mesmo diante da mais cruel fatalidade. Assim, os indecisos, os anti-petistas e anti-peessedebistas terão agora uma responsabilidade maior que a dos eleitores fiéis, já fechados com seus representantes.
Se Marina encabeçar a chapa, com Erundina de vice por exemplo, os 10% que Eduardo alcançava podem até dobrar, tirando Aécio do páreo e colocando uma pulga atrás da orelha de Dilma.
Esperemos então, o que esse improviso nos trará. Continuaremos sob o trabalhismo manchado pela fraqueza e pela corrupção, retornaremos ao coronelismo blindado, com ares de moralista, ou partiremos para o ecologicamente correto apoiado pelo latifúndio? 

Nem bacharel, nem analfabeto. A síntese.

Em breve teremos eleições novamente. Quando começa a veiculação de propaganda dos candidatos às vagas nas câmaras municipais, estaduais, distrital e federal, assim como às prefeituras dos municípios, ao governo dos estados e até à presidência da República, as aberrações mais absurdas são jogadas em nossas caras, como se a coisa não passasse de brincadeira. Tem “mulher bambú”, “toninho do diabo”, “gretchem cover” e “cara de hamburguer”. Sim, tem candidatos que se apresentam com esses nomes e esperam ser eleitos. E o pior: muitos são eleitos.

Em interessante debate publicado pelo Jornal O Tempo, de Belo Horizonte, há alguns anos, foi proposta a exigência de bacharelado em Direito ou Administração para os candidatos a cargos eletivos no Executivo e no Legislativo. A proposta foi adequadamente rebatida, mas não se falou em uma terceira via, menos elitizante e não menos moralizante do processo eleitoral.

A ideia já foi proposta por meio de postagens em redes sociais, conclamando a um movimento popular em defesa de uma mudança na legislação referente aos requisitos para o lançamento de candidaturas. Lamentavelmente, nem os políticos abordados, nem os internautas deram ouvidos.

A proposta, obviamente simples e carente de acréscimos, se resumia a que fossem criados cursos de capacitação em administração pública, com conteúdo específico para cada cargo pretendido. Assim, os candidatos a vereador, prefeito, deputado, senador, governador e presidente da república, estariam obrigados a se submeter a tais cursos, cujos certificados de conclusão e aprovação passariam a fazer parte da documentação exigida para o registro da candidatura.

Entidades como a Fundação João Pinheiro, por exemplo, (que tenham reconhecida experiência na formação de administradores públicos), ou as Universidades Federais, poderiam formatar e ministrar os cursos, cada um com conteúdos adequados aos cargos, de modo que os candidatos se ambientassem previamente com o trabalho para o qual se oferecem.

Muitas vantagens poderiam advir dessa mudança, a começar pela exclusão de uma enorme quantidade de oportunistas completamente incapazes e sem o menor conhecimento em administração pública, que encarecem o processo eleitoral e empobrecem o nível das campanhas. Evitaríamos casos ridículos como o Deputado Everardo (Palhaço Tiririca) ou do Vereador “Andreia Verão”, de Carapicuíba-SP, o cantor Agnaldo Timóteo, jogadores de futebol, padres, pastores, celebridades do bbb, dentre outros casos, da mesma forma lastimáveis, que nos envergonha e nos causa prejuízo não só financeiro, mas prejuízo moral e atraso em nosso desenvolvimento como Nação.

         Ora, se todas as empresas exigem dos candidatos a ocupantes de seus cargos um conhecimento prévio na área que pretendem trabalhar, por que não exigir dos candidatos a legisladores e administradores da coisa pública, que no mínimo conheçam razoavelmente a matéria com a qual hão de lidar caso sejam eleitos? Nada mais justo.

             E você, se for contratar alguém para administrar sua casa, vai contratar um analfabeto, um médico, um pastor, um professor, um radialista, um entregador de gás, ou uma pessoa com formação e experiência em administração doméstica? 

          Que não se exija de todos formação superior em Direito ou Administração, mas que não se deixem pessoas não qualificadas administrando nosso país. Eis a síntese para o debate.

Tributo ao corpo de Elisa

Alma lisa, corpo estúdio.


Sua alma se foi, não se vê, não se sente. Só seu corpo insiste em se fazer presente.
Seu corpo, que sem querer lhe deram sem você pedir, pois você não nasceu do amor, nem teve infância. Você nasceu para a dor e foi criada para a ganância. Não lhe ensinaram a amar seu corpo, mas fazê-lo amado. E assim você fez de si um corpo ferramenta, um corpo arma.
Seu corpo você deu a quem pediu, emprestou, alugou, vendeu. Em fotos, em filmes, jornais, revistas, cartazes e outdoors. Seu corpo serviu para alimentar desejos e até dar vida.
Da vida dada, outro corpo a ser usado. O usaram e vão continuar usando. Eis que a ganância orientou a guerra, a ameaça, a extorsão e a loucura.
Um dia tiraram seu corpo de cena. Não mais o vemos nem sabemos se vive como nós. Mas não importa. A lembrança dele, a busca por ele sustentam as ameaças e os processos, os flashes, as promoções pessoais e a venda de jornais. Seu corpo enriqueceu alguns, empobreceu outros. Deu fama e poder, cargos e lucros. Encarcerou, matou, destruiu, espalhou desgraça e dor.
Mas vem a noite e seu corpo habita o imaginário e a lembrança de muitos. Incomoda, assusta, aterroriza talvez. Seu corpo permanece presente. A cada ossada encontrada o suspense se estabelece: pode ser seu o corpo que aparece. Fantasma de uns, tesouro de outros.
Mentem, desdizem, inventam histórias, dizem se lembrar de onde está, mas logo se vê que era só busca de novas glórias. Onde andará seu corpo agora? Nenhum cão o devorou. Não virou fumaça. Você passou, mas seu corpo não passa.

Desproporcional

Israel e Brasil são países muito diferentes. A desproporção é perceptível em qualquer comparação que se faça.
O Brasil é um país habitado por um povo que, embora possa ser considerado pouco instruído e até mesmo bobo, por permitir desmandos internos e até por manter uma violência interna sem igual. Israel educa seu povo e o governa de modo que são gratos e fieis ao Estado.
Sim, há uma enorme desproporção ao se compararem os dois povos, seus valores e éticas.
A ética do povo brasileiro é corrompida em sua origem. Somos um povo sem caráter, sem respeito mútuo. A maioria de nós é adepta da “lei de Gerson”, quer levar vantagem em tudo. Aliamo-nos com os grandes e fortes, dando-lhes o que querem de nós sem questionar, pois nos vemos como fracos e inferiores. Submetemo-nos em troca de qualquer promessa de vantagem, mesmo sabendo que seremos explorados. Sugamos o nosso próprio sangue para oferecer ao explorador com sotaque diferente. Não valorizamos nossa língua, falada em 9 países por quase 300 milhões de pessoas. Antes, deturpamo-la com a inserção de termos estrangeiros.
A ética do povo israelita é da mesma forma corrompida desde a origem. Mas eles, ao contrário de nós, se prezam como povo, amam a ideia de serem uma nação. Eles lutam pelos seus e se percebem diferentes do resto do mundo. Acreditam mesmo que são escolhidos para dominar e buscam isso a qualquer custo. Aliam-se com os grandes e fortes, dos quais usam o poder para o próprio objetivo. Não se deixam explorar. Pelo contrário, são os maiores agiotas do planeta. Preservam e respeitam seu idioma, que só eles falam.
O Brasil vive em plena harmonia com seus vizinhos, resolvendo as eventuais disputas internacionais através do diálogo e de meios pacíficos de negociação. Já Israel, historicamente pode ser reconhecido como um povo que se apropria das terras alheias, mata, subjuga e vive em guerra com os vizinhos. É um povo belicista por excelência. Povo que não leva desaforo pra casa, antes pelo contrário, explode quem o agride.
O Brasil é um dos maiores territórios do planeta, desde 1822 reconhecido como nação independente, não se envolvendo em guerras, salvo o justo caso de 1864, contra o Paraguay. Israel, estabelecido com o apoio do Brasil em 1948, ou os Hebreus de 4000 anos atrás, se confundem pelas mesmas práticas: sanguinários, genocidas, usurpadores de terras, nunca se contentam com o que já possuem. Tomam o do vizinho.

O Brasil é grato até ao seu maior colonizador, com quem mantém relações de amizade e respeito. Israel é ingrato até com quem apoiou seu estabelecimento como nação. Povo que não sabe ouvir críticas e as rebate com dureza e desrespeito.

De improviso em improviso.

     Nada pode ser levado a sério neste país. Nem as leis, nem os homens que as fazem. A palavra de um homem nunca teve tão pouco valor como se vê na administração pública brasileira.
     Houve tempos de quintais, quando a palavra dada valia mais que a própria vida. Desonra seria ter que assumir o não poder cumprir com o combinado. Mas coisas mudaram. Não se valoriza mais o que foi dito, nem mesmo o que foi escrito e assinado. As leis são criadas conforme interesses de grupos dominantes, não do interesse da maioria, como deveria se esperar de um regime democrático, que tanto nos vangloriamos de viver.
     As coisas todas giram ao redor de circunstâncias altamente voláteis. Não se pode afirmar que o que valia ontem ainda esteja em vigor amanhã. Da mesma forma, os compromissos não são cumpridos, como se isso fosse coisa normal.
     Isso tudo se dá pelo fato de vivermos em uma sociedade de valores deturpados, onde governos substituem governos, mas não há um projeto sequer, não há programação. As coisas acontecem por improvisos e improvisos. Vivemos arriscando vidas pra ver no que dá. Se der, deu. Se não der, paciência.
     Assim é na política, assim é no futebol. Da mesma forma desorganizada, improvisando e experimentando, apostando em heróis e idiotas dispostos a se expor à sorte. Assim se constroem nossos objetivos, nossos projetos, nossos sonhos, a toque de caixa, sem previsão, sem inteligência. O resultado é um país de mentiras, cheio de bacharéis analfabetos funcionais, representados por palhaços analfabetos e líderes religiosos extremistas. Nossa seleção de futebol é montada na última hora e os atletas são estrelinhas tatuadas e com cabelos estranhos, escolhidas pelos patrocinadores, sem respeito à meritocracia.
     Não havia como ser diferente. Os resultados aí estão. Não bastasse o vexame inexplicável no futebol, temos que engolir a violência típica da carência de educação e os acidentes próprios da má formação profissional e da pressa para dar conta dos prazos, sempre vencidos.
     Para chancelar a tragédia, os responsáveis declaram calmamente que isso é assim mesmo. Quando não há previsão de punição, assumem a responsabilidade e dizem que tudo é válido para aprendizagem, mas quando há, apenas culpam a fatalidade, dizem que acidentes acontecem.


Caiu um viaduto, começa a caça às bruxas.

Despencou o viaduto, antes mesmo de ficar pronto. O prefeito disse que isso é normal. Talvez seja. Afinal, acidentes acontecem sim, todos os dias em todos os lugares.
Pessoas morrem como morreu a jovem motorista, que alguns insistem em querer transformar em heroína, nesses primeiros momentos de dor e de perda. Também a prefeitura de Belo Horizonte exagerou na dose, tentando aplacar a má repercussão do caso, decretando luto e cancelando todos os eventos festivos previstos, relacionados com a Copa do Mundo de Futebol. Normal.
Não é normal, nem aceitável, que pessoas sem escrúpulo se aproveitem de um acidente, tenha ele as causas que tiver, para promover suas posições e atacar seus opositores, num total desrespeito à opinião pública e ainda mais, às vítimas e seus familiares.
Não é normal, nem aceitável, que em menos de 24 horas, tantos “peritos” tenham se manifestado. Até se divulgou que a FIFA está preocupada, dando início a especulações sem fim. Isso é que não é normal. Políticos e seus seguidores se manifestando, acusando o PT, a Dilma e o Lula de serem os responsáveis pelo acidente.
Até em CPI municipal se falou, como se uma cambada de vereadores, boa parte deles desqualificados até para ler ou escrever um texto simples, fosse capaz de investigar alguma coisa. Nem o que lhes cabe fazer eles fazem a contento. É claro que não passou de mais uma bravata oportunista, pois eles já até entraram em recesso.
Nas redes sociais, apaixonados inconsequentes já derramaram acusações mil, sem a menor preocupação com os fatos em si. E os fatos são claros. É óbvio que houve um erro lá e que isso causou o acidente e as mortes.
Não será criando um tribunal popular virtual para cada situação, nem propondo manifestações para cada erro que resolveremos as coisas. É muito fácil incendiar as redes sociais, propor manifestações e ficar escondido atrás dos teclados.
O processo de democratização que temos experimentado é maravilhoso. De tal forma, que as pessoas podem se perder e estão se perdendo diante de tantas possibilidades de manifestação à disposição. Mas precisamos nos lembrar do velho dito popular: Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Há muito o que se mudar em nossa sociedade adolescente, quase infantil em seus atos.
Liberdade implica em responsabilidade. Isso não podemos esquecer, antes de sairmos atirando pedras em qualquer direção, como se fôssemos incapazes de errar. Amanhã essas mesmas pedras podem vir em nossa direção.

Vândalos e mal educados. O futuro do Brasil?


De mentirinha. Assim está sendo conduzido o governo do Brasil. Sem força, sem moral, sem respeito. Maquiado e mal maquiado. Com a cera a escorrer pela cara suja e sem vergonha. E de onde vem a prova disso? Vem de dentro da antiga classe média, a qual perdeu prestígio em favor dos pobres, que agora é a bola da vez, assistida e cuidada em suas necessidades mais urgentes, como casa e comida. Falo das ações paternalistas do governo federal, que não passam de ferramentas de manipulação de massa.
Mas isso ainda não é o verdadeiro problema. Precisamos entender as origens e a motivação dessas manifestações que o Estado está assistindo boquiaberto e apático. Sim, o Estado tem demonstrado fraqueza e ineficiência em defender o cidadão de bem. O Estado não está conseguindo defender nem mesmo a própria imagem. Estamos à beira do caos institucional.
O dia 12 de junho de 2014 pode ficar marcado como o dia em que a Polícia de Minas Gerais protegeu o relógio da copa e deixou os vândalos destruírem o DETRAN, a Biblioteca Pública Municipal, o Cine Belas Artes e outros símbolos da civilização. Destruíram os canteiros e armaram fitas de slack line no meio da avenida. Nos vídeos divulgados, ouvem-se gritos de comando, o que leva a crer que há certo nível de organização e estrutura de comando. Eles gravam as ações com câmeras caríssimas. Eles contam com o apoio de organizações de defesa dos direitos humanos.
Mas tem o outro lado, tem a responsabilidade de cada um. Tem um povo inteiro que não se preocupa em crescer, que não valoriza os princípios morais e age por impulso, como crianças mal educadas. Assim esse povinho, na primeira oportunidade, mostra ao mundo o quanto miserável é, pois não respeita a própria imagem.
Um povo que grita ofensas tão baixas à Presidente da República diante dos olhos eletrônicos do resto do planeta, não pode exigir respeito de ninguém. Não estamos falando de vaias, nem de discordância política. Estamos falando de desrespeito, de molecagem. É como se, dentro de casa, com as portas abertas para toda a vizinhança ouvir, mandássemos nossa mãe ou nosso pai tomar, como mandaram a Dilma.
Esse mesmo povo, representado pelos mascarados usando tênis e mochilas de marca, destroem o que acham pela frente, principalmente os símbolos da ordem e do progresso. Aliás, são idiotas graduados. Foram identificados entre os anarquistas de Belo Horizonte, um médico, um engenheiro e uma enfermeira. É como se fôssemos idiotas que implodem o prédio, mas permanecem debaixo dele.
Que futuro nos aguarda? Que podemos esperar que o mundo inteiro pense de nós? Quem são os responsáveis pelo futuro do Brasil?

Não. Não precisamos de heróis.


Não. Não precisamos de heróis.
Weverton Duarte Araújo


O digno, ilustre e respeitado cidadão Joaquim Barbosa, Ministro do Supremo Tribunal Federal às vésperas da aposentadoria, recebeu da imprensa nacional, pelo simples fato de anunciar seu afastamento do serviço público, tanta especulação, que chegou a incomodar quem busca os meios de informação não mais do que para se manter informado. Uma radialista de respeitada emissora de Belo Horizonte disse em jornal matutino, que se sentia órfã com a precoce saída do homem que teve coragem, etc, etc.

Não desmereçamos a postura firme do então presidente do STF, que nada mais fez que sua obrigação. Não creiamos que fazer o correto seja digno de tanto louvor, afinal, até parece que agir corretamente é uma exceção a ser elogiada, festejada, com pompas "et al". Joaquim Barbosa fez em sua carreira o que seus pares deveriam fazer, mas infelizmente, por força do cabresto ou por fraqueza do caráter, não fazem.

Não deveria haver o que se comemorar se ele cumpriu sua obrigação, nem o que se lastimar com sua saída. A ele e a todos os servidores públicos que se afastam ao termo de sua carreira, não mais cabe que o reconhecimento público, caso tenha sido honrado o bastante para não se enlamear em falcatruas e mutretas. Nada mais, pois o seu salário vitalício já é mais que um excelente agradecimento.

Se nos sentimos órfãos toda vez que um homem honesto sai de cena, aí sim, temos um problema grave e preocupante em nossa ética, na ética de nosso povo, de cada um de nós, que requer atenção urgente. Não seremos respeitados pelo restante do planeta enquanto houver entre nós a necessidade de forjar um herói onde há apenas um mero cumpridor de seus deveres. Sejamos gratos ao senhor Joaquim, ou doutor Joaquim como quiserem, mas não se confunda sua toga com a capa do Batman ou do Super homem. Não funciona assim.

Por outro lado, em atividade continua o não menos excelentíssimo, festejadíssimo, premiadíssimo e não menos questionável juiz Sérgio Moro, que por força de circunstâncias veio a se encontrar na condição de estrelinha reluzente, mais reluzente que o necessário, para o cargo que exerce.
Esse aí, mais ainda que o Barbosa, em posição muito menos digna das pompas destinadas aos semideuses do STF,  se expõe temerariamente, dando palestras, recebendo prêmios, divulgando informações sigilosas, desrespeitando claramente a legislação e influenciando negativamente o já negativo "modus operandi" do nosso povo, "mais-que-carente" de conhecimento, de prudência, moderação, equilíbrio, sabedoria e bom senso.
Ao contrário da postura ética, equilibrada e principalmente NEUTRA que se espera de um magistrado, Sérgio Moro é indiscreto, tendencioso e partidário. Precisa rever urgentemente sua postura.
Aí precisamos também nós, povo brasileiro, passar a exercitar em certo grau a autotutela por parte de cada indivíduo enquanto cidadão da república, ao contrário de nos entregarmos nas mãos de terceiros e a eles atribuir a prerrogativa de nos salvar e redimir, quando isso compete primeiramente a nós mesmos.
Que os heróis permaneçam na ficção, nos quadrinhos, nos filmes e histórias infantis

Palmadas sim, palhaçada não.

     Desde 2010 ouvimos, cada dia mais estupefatos, as ridículas especulações por parte de indivíduos mais que oportunistas, acerca do bizonho projeto de lei antes conhecido como "lei da palmada" e que agora já uns querem rebatizar com o nome de uma criança mortalmente vitimada pelos pais, mas em um contexto completamente distinto aos que o referido projeto pretensamente atingiria.
     O caso Bernardo, assim como o caso Nardoni e outros similares, de forma alguma podem servir de mote para que os doentes eleitos para legislar neste país, que a cada dia mais reforçam a triste constatação de Charles de Gaulle, se atrevam a propor leis as quais nunca serão levadas a sério.
     O projeto 7672/2010, assim como grande maioria da legislação brasileira recente, não passa de uma cartada de marketing, visando a promoção de uns poucos à custa da decepção da grande maioria, que não sentirá efeito algum, já que seu texto é tão subjetivo quanto possível. Não se vê uma proposta séria, aplicável ou útil. Não se fala das alternativas de forma clara, até mesmo porque sabemos que elas não existem. Na melhor das hipóteses, poderão vir a existir em um futuro ideal.
     Se compararmos o que se propõe para a educação das crianças e adolescentes, com o que se aplica atualmente no Brasil aos adultos que não se encaixam aos comportamentos esperados pela sociedade, já temos as contradições suficientes para não levar a sério o projeto. Quer dizer que os pais não podem mas o Estado pode? 
     O Estado prende, espanca, maltrata, humilha, desrespeita, mas, proíbe o cidadão de fazer o mesmo. O Estado se omite, protela, procrastina, mas, promete punir os profissionais que não denunciarem o cidadão que, em ação de natureza disciplinar ou punitiva assuma conduta que cause dor ou lesão, humilhe, ameace gravemente e ridicularize criança ou adolescente.
     Até que se estabeleçam os conceitos e as lacunas da pífia proposta, os adolescentes continuarão portando armas e se exibindo nas redes sociais, assaltando, matando, enquanto os pais, professores e demais responsáveis pela sua educação estarão se submetendo aos treinamentos e reciclagens que provavelmente serão escritos por Xuxa, Pelé, Ronaldo e alguns pastores e palhaços analfabetos ou representantes de classe sem a menor vocação para legislador, colocado ali pela mera ignorância do povo.
     Assim como a maior parte da legislação brasileira, também essa ridícula proposta é mais uma forma de se empurrar a sujeira pra debaixo do tapete, mantendo o clima de medo e insegurança. Os pais que já não corrigem adequadamente seus filhos, vão agora usar o argumento de que a Lei os proíbe de fazê-lo. Os que corrigem vão continuar corrigindo e que o façam com firmeza e fé num futuro melhor, pois o Estado e os governos brasileiros são formados hoje por filhos de uma geração de pais fracos e mães ausentes, ao ponto de gastarem tempo e recursos na proposição de algo tão inútil.

A quem culpar, senão a nós mesmos?


     Logo após a explosão de violência desmedida e injustificável que temos observado nos últimos tempos, com assassinatos brutais, torturas em via pública, arremesso de vaso sanitário sobre a multidão, injeção de droga para matar o próprio filho, esfaqueamento da mãe e outras manifestações de insanidade partindo, não só das periferias ou dos guetos de pobreza, mas de todas as esferas da sociedade, não há como não se procurar uma explicação para a crescente incidência de tais atos.
     Vivemos em um país potencialmente rico, dotado de recursos naturais abundantes, mas habitado por um povo cujas raízes morais e éticas sustentam uma sociedade oportunista, hipócrita, individualista, imoral e corrupta. Não se acha entre nós um só justo, como diria Paulo aos Romanos.
     Se há oportunistas nos postos de comando, certamente foram colocados e ali mantidos pela massa hipócrita e corrupta, que ao eleger seus representantes, o faz movida por interesses pessoais, focada em demandas individuais, agindo em favor de um grupo menor, em detrimento da sociedade como um todo.
     Assim somos todos nós, em cujas mentes foi e continua sendo plantada desde a infância, a cultura do maior lucro pelo menor esforço. Sonhamos em ganhar na loteria, mas nem sempre nos lembramos de fazer a aposta.
     Não parece ser apenas um resultado proporcional do aumento da concentração da população, mas da diminuição da incidência dos efeitos sublimantes do processo civilizatório. A sociedade tem valorizado por demais os direitos individuais, ao custo do empobrecimento dos ideais coletivos.
     Assim, não há como se esperar do indivíduo, que ele mesmo, voluntariamente e sem qualquer incentivo, abdique de seus desejos em favor de todos os outros, que certamente não foram ensinados a agir da mesma forma.

Evoluindo rumo à barbárie.


    
A cada dia fica mais claro que quanto mais nos orgulhamos da capacidade humana em criar recursos tecnológicos para seu conforto e proteção, mais podemos nos envergonhar de que essa mesma humanidade mantém os dois pés na barbárie, precisando apenas de uma pequena brecha, alimentada pelos mesmos recursos, para que e a animalidade, a ausência de razão, a crueldade não observada nos demais animais terrestres, se manifeste como lava expelida por um vulcão.
Independente de ser ou não aquela mulher do Guarujá (quem aí se lembra do caso?), responsável por qualquer ação criminosa, ela foi apedrejada, espancada e arrastada pela rua como nos primórdios da civilização. E pior. Não houve quem a tenha acusado ante a turba justiceira enlouquecida. Em um vídeo postado na Internet, ouve-se uma voz perguntar: tem certeza irmão, que é ela? É ela sim, responde outro. Vou pegar a foto.
Um “retrato falado” e um boato divulgado em uma página na Internet. Isso foi o suficiente para que a linchassem em via pública, em meio a crianças, sem um julgamento sequer.
Não houve criança sequestrada que se pudesse atribuir a ela alguma participação. Nenhum ritual de magia foi testemunhado ou corpo de criança encontrado. Em 05 de maio de 2014 Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, uma pessoa comum, com seus problemas como todos nós, foi apedrejada em praça pública, sem que houvesse o menor indício de que algum crime houvesse sido por ela praticado. Apenas boatos e um retrato falado divulgados pela internet. seis meses depois, o caso já não era mais lembrado. Os justiceiros dormem o sono dos justos.
Nada houve de concreto nessa história além da truculenta morte provocada pelas mãos de quem? Ninguém foi responsabilizado. O tempo passou e o caso foi esquecido.
Nada provaram no caso da suposta morte da Elisa Samúdio, mas os justiceiros (inclusive "jornalistas") fazem campanha para impedir a progressão de regime e o retorno à sociedade de Bruno Fernandes.
Nada provaram de crime no caso de Dilma Roussef, mas os justiceiros armaram um circo sem precedentes e a expulsaram do palácio do planalto.
Nada há de concreto contra Lula, mas continuam a investir na tentativa de desestruturação de sua imagem.
Por outro lado, os ladrões de milhões e milhões da Petrobras, de Furnas, da JBS, com tudo provado e comprovado, delatam seus cúmplices, prometem devolver uma ínfima parte da fortuna surrupiada dos cofres públicos e fica por isso mesmo. Saem por cima, como heróis. Nenhum justiceiro aparece para linchar, para queimar ônibus, fechar rodovia, nada. Excetuem-se os oportunistas de plantão, que já apresentam “pedidos de impeachment”, sem calcular o que virá no dia seguinte.
Estamos a passos largos evoluindo rumo à barbárie. E estamos usando para isso, as ferramentas que simbolizam a evolução. E a evolução tecnológica não nos impede de agirmos como se não tivéssemos evoluído, como se ainda estivéssemos na infância da humanidade, ou antes mesmo de experimentar qualquer influência da civilização. Será essa a natureza humana da qual jamais fugiremos, por mais que evoluamos?
Somos justiceiros improvisados de momento, quando é contra um fraco, indefeso, já abatido, ou covardes amedrontados incapazes de agir quando é contra bandido de verdade?
Não. Dirão alguns. Estamos mobilizando as redes sociais virtuais para conclamar todos para desligar suas tvs e apagar as luzes na hora do pronunciamento. Também estamos propondo um grande panelaço, apitaço, e faremos também um curtidaço e compartilhaço no “face”, um tuitaço...

Somos todos bananas


O incrível poder das novas mídias, especialmente as redes sociais via Internet, a cada dia, de forma silenciosa, mas fantasticamente eficaz, vem elevando-nos todos a uma condição de participantes ativos dos eventos cotidianos, de forma inevitável.
Vejamos dois casos recentes, envolvendo questões raciais, mas que no fundo são explorados comercialmente, de forma inteligente, mas inquestionavelmente tendenciosa e inconsequente.
Um jogador de futebol e um dançarino se tornaram, na mesma semana, marionetes do famigerado mercado de imagens. Apresentadores de programas de TV vestem a máscara de defensores dos direitos humanos e civis, das minorias excluídas, dando perigosa ênfase a fatos do cotidiano, sem a menor preocupação com a realidade. Mas o que querem eles, além de vender produtos, vender seus programas, suas imagens produzidas, que de humanas nada possuem?
Daniel e Douglas são mestiços, assim como a maioria da população brasileira, onde não se acha mais, salvo raras exceções, negros, brancos ou índios, mas a deliciosa mistura de origens étnicas que nos faz tão belos. Mas o marketing televisivo precisa de notícias bombásticas para se manter. Douglas era um pobre garoto da favela, que de repente se vê em meio ao luxo e a fama. 
Mas suas origens o obrigaram a estar onde as coisas acontecem e aconteceu com ele. Nada mais que isso, se não houvesse a máquina de exploração de fatos para a produção de audiência. O mesmo se pode dizer de Daniel, que pegou a fruta no gramado e comeu. Nem olhou para a câmera. Só comeu e voltou ao seu papel de jogador de futebol.
Mas a imprensa faminta e os marqueteiros de plantão não poderiam deixar passar a oportunidade de fazer um show sobre um tema já exaurido, ma que sempre chama a atenção, que é a ridícula intolerância às diferenças estéticas raciais, principalmente por parte dos que se aproximam mais do padrão proposto pela ditadura do mercado da estética. Horas depois, já se vendiam camisetas alusivas ao ato de Daniel. Horas depois já se vestiam camisetas chamando a atenção para o infortúnio de Douglas. Tudo marketing. Tudo comércio de camisetas e de informações.

         Não somos macacos nem humanos. Somos bananas, que a mídia expõe a nossas próprias bocas. E nos devoramos, não como os macacos, que apenas comem para saciar a fome, mas como autômatos, seguindo modelos impostos pelos que nos manipulam e se enriquecem à custa disso.

Rumo à instabilidade jurídica e social.



O que estamos presenciando nos últimos dias pode ser visto pela grande maioria como apenas resultado de insatisfação de uns ou de outros, que resolveram repentinamente tomar uma atitude. Não. Não podemos ser tão ingênuos.
É óbvio que o que vivemos é a aproximação à instabilidade jurídica, o caos social, a barbárie restaurada a níveis inimagináveis até então.
As pessoas estão simplesmente dando espaço aos instintos animalescos até então escondidos sabe-se lá onde em suas mentes cauterizadas pela civilização. Eis que algo se quebrou. Perdeu-se o respeito pelas leis e o medo da punição, até pelo fato de que as leis são tão flexíveis que não se sabe mesmo o que cada caso de aplicação da mesma norma poderá trazer de novidade.
Confirmando as piores profecias bíblicas, pais estão matando filhos e filhos matando pais, irmãos a irmãos, sem que se consiga vislumbrar uma explicação mínima para tais atos de injustificável selvageria. Mata-se por matar. Toma-se o que é alheio sem o menor constrangimento, sem culpa.
Do ponto de vista da Psicanálise freudiana, talvez seja possível explicar essa tendência à fuga da normatização como uma reação apropriada, se observado o ser humano em sua essência, narcisista que é, cada dia mais mergulhado na busca infinita do prazer da exaltação da própria imagem, em detrimento do outro, com o qual não se identifica mais.
            Mas, por mais que seja doloroso, é em sociedade que vivemos. E é por isso que precisamos nos ocupar na busca por uma solução para o impasse entre a necessidade pulsante de sobrevivência do indivíduo como tal, ou do grupo social de indivíduos. Embora ambos se sustentem e sejam essenciais para a sobrevivência mútua, é negando tal dependência que vivem hoje, indivíduo e grupo, negando até o ar um ao outro, sufocando-se mutuamente, continuamente.

Brasil das castas e cotas

Os normais não terão vez nem voz

     Primeiro vieram as cotas para negros, para índios, para pobres nas Universidades Públicas. De outro lado, com base no mesmo raciocínio, surgem os que clamam por respeito aos nordestinos, aos homossexuais, aos evangélicos. Gritam os portadores de deficiência física, que já nem admitem ser tratados como tal - a cada dia o termo muda - acho que agora é "portador de necessidades especiais".
     Até políticos condenados por desvio de bens públicos pleiteiam direitos aviltados na aplicação das penas e angariam defensores.Também clamam os sem terra, os sem teto, os atingidos por flagelos os mais diversos, mas cada um em sua pequena casta, individualizadas as demandas, se acotovelam os excluídos de toda espécie.
     Por fim, já é Lei a reserva de um percentual de vagas em concurso público para uma determinada "minoria" racial. É o precedente para que as demais minorias logo exijam paridade. Exigirão o direito de serem tratadas desigualmente, mas em defesa da igualdade. Uma igualdade falaciosa, paternalista, placebo social a manter os excluídos na eterna dependência e longe de serem sujeitos da própria emancipação.
     Todos querem ser tratados como iguais, mas exigem respeito a sua diferença. Assim, damos um passo atrás a cada conquista que parece ser benéfica a um grupo. A totalidade da sociedade se vê obrigada a individualizar o atendimento das demandas, criando legislação tão específica, que descaracteriza o aspecto civilizatório e comunitário da mesma, em favor de um discurso que individualiza o que em conceito é coletivo.
     Em breve, respeitando o sistema inclusivista em implantação, o síndico do Condomínio Brasil terá que atender um por um, os moradores com queixas, já que um é negro, outro é gay, velho, sem terra, judeu, loira, PNE, gordo, careca, baixinho... 

     Só os “normais” não terão vez nem voz. A menos que os "normais" se sintam minoria, lutem por seus direitos e também passem a ser atendidos por um programa qualquer de proteção a excluídos.

Autofagia social - Os fortes sobreviverão.

Nossa sociedade está atravessando uma das maiores crises de sua história. É possível que este momento venha a ser lido no futuro como um marco, a partir do qual se definiu o começo da mudança de hábitos e de costumes no Brasil.
Não creiamos que essas mudanças se darão de forma suave, sem sofrimentos. Há que se cortar na carne de cada um. Na carne mesmo.
Exemplo de que há que se mudar posturas é a falta de água nos grandes centros, como já começa a ocorrer em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo. Se no ano passado choveu menos que o esperado, em três meses deste ano já se mostrava o colapso do sistema de abastecimento da maior metrópole do país. Governos se alternam há décadas, sem que uma ação preventiva (de inteligência de Estado) tenha sido seriamente considerada, ou posta em andamento. Agora, quando a natureza não faz cair o maná das nuvens, os "especialistas em ações emergenciais" aparecem com os planos mais exóticos, que todos sabemos, não resolverão o problema. Mais provável é que alguns oportunistas venham a engordar suas fortunas a partir da desgraça e do desespero coletivo. 
É possível que de agora em diante, se perceba que fugir do Nordeste para São Paulo não significa fugir da escassez de água, mas, disputá-la com mais gente em menos espaço. Talvez essas sejam as palavras tortas da Providência a nos advertir sobre o quanto temos andado em círculos, o quanto somos míopes e imediatistas.
Outro aspecto intrigante, resultante da aglomeração de indivíduos em um espaço resumido e inadequado, nos aproxima de outros animais, como as galinhas, cujas sociedades, em casos de superpopulação, entram em colapso e partem para o canibalismo como mecanismo de controle populacional, o que resulta em uma autofagia étnica, um tiro no pé da própria espécie.
Isso de certa forma, explica o acelerado e injustificável aumento dos níveis de violência que temos experimentado. Indivíduos, cada vez mais jovens, se envolvendo em atos de violência jamais vistos, sem uma motivação plausível, ou algo que ao menos explique.
Se não fomentássemos o acúmulo de pessoas nas metrópoles; se, pelo contrário, houvesse investimento em uma distribuição pulverizada de condições de sobrevivência pela vastidão de terras de que dispomos, certamente não se consumiria toda a água dos reservatórios paulistanos, por exemplo.

É possível que em breve, por mera questão de sobrevivência mesmo, haja uma inversão nos movimentos de migração interna no Brasil. Para fugir da violência e da falta de recursos indispensáveis como a água, precisaremos nos dispersar, “desinchar” as grandes cidades. Se não for assim, ficaremos sujeitos ao que previu Darwin: só os mais fortes sobreviverão.

Olho por olho... como conter o efeito colateral do remédio caseiro?

Olho por olho, dente por dente. Acabaremos todos cegos e banguelas.

Há pouco tempo eu mesmo conclamei aqui as pessoas a saírem da inércia e a reagirem contra a violência do dia-a-dia, contra a violência institucionalizada, contra o não reaja imposto pelos que nos querem dependentes.
É claro que não sou eu, nem um outro pensador qualquer, o motivador de quem quer que seja. As pessoas reagem quando sentem que não há quem o faça em seu lugar. Assim, como muitos previam, já estamos experimentando a sensação de insegurança social que prevemos há poucos meses. E nós mesmos não acreditávamos que isso aconteceria tão cedo. Mas já está acontecendo.
Espalham-se pelo país, já dezenas de casos em que os cidadãos, cansados de esperar pela ação da Justiça, cansados de ver se multiplicar a injustiça e a sucumbência da segurança pública, partem para a ação em defesa de si mesmos e de seu patrimônio.
Ladrões estão sendo amarrados em postes, acorrentados, espancados e como era de se esperar, a primeira morte já ocorreu. Sim, um infeliz tentou perpetrar um roubo em um coletivo em Belo Horizonte no dia 01 de março de 2014. Os próprios passageiros, sabedores de que se ele fosse preso, não ficaria na cadeia mais que alguns dias, resolveram dar vazão ao desejo de justiça. Espancaram o sujeito ali mesmo dentro do ônibus e o despejaram em um ponto de parada, já sem vida.
É de se lamentar que as coisas tenham chegado a tal ponto. O Estado não tem, nem terá condições reais de conter a criminalidade e pior que isso, não poderá evitar que o povo, desprovido da proteção pela qual paga e paga caro com impostos e taxas sem fim, parta para a ação e se defenda a si mesmo.
Certamente surgirão os defensores dos direitos humanos, que só aparecem mesmo para defender os direitos dos criminosos, para pregar a não violência por parte da sociedade, a despeito da violência que esta sempre sofre, como vítima que historicamente tem sido. Mas isso também não conterá os justiceiros da causa própria, os quais não podem mesmo ser acusados, já que agem em legítima defesa.
Daí que corremos o risco de entrar em um círculo vicioso sem precedentes e sem uma perspectiva de saída desejável. A lei de Talião é um sopro etílico na centelha de violência em nós contida pela repressão da civilização. Se não se consegue conter a doença, como agora conter o efeito colateral do remédio caseiro?