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Não. Não precisamos de heróis.


Não. Não precisamos de heróis.
Weverton Duarte Araújo


O digno, ilustre e respeitado cidadão Joaquim Barbosa, Ministro do Supremo Tribunal Federal às vésperas da aposentadoria, recebeu da imprensa nacional, pelo simples fato de anunciar seu afastamento do serviço público, tanta especulação, que chegou a incomodar quem busca os meios de informação não mais do que para se manter informado. Uma radialista de respeitada emissora de Belo Horizonte disse em jornal matutino, que se sentia órfã com a precoce saída do homem que teve coragem, etc, etc.

Não desmereçamos a postura firme do então presidente do STF, que nada mais fez que sua obrigação. Não creiamos que fazer o correto seja digno de tanto louvor, afinal, até parece que agir corretamente é uma exceção a ser elogiada, festejada, com pompas "et al". Joaquim Barbosa fez em sua carreira o que seus pares deveriam fazer, mas infelizmente, por força do cabresto ou por fraqueza do caráter, não fazem.

Não deveria haver o que se comemorar se ele cumpriu sua obrigação, nem o que se lastimar com sua saída. A ele e a todos os servidores públicos que se afastam ao termo de sua carreira, não mais cabe que o reconhecimento público, caso tenha sido honrado o bastante para não se enlamear em falcatruas e mutretas. Nada mais, pois o seu salário vitalício já é mais que um excelente agradecimento.

Se nos sentimos órfãos toda vez que um homem honesto sai de cena, aí sim, temos um problema grave e preocupante em nossa ética, na ética de nosso povo, de cada um de nós, que requer atenção urgente. Não seremos respeitados pelo restante do planeta enquanto houver entre nós a necessidade de forjar um herói onde há apenas um mero cumpridor de seus deveres. Sejamos gratos ao senhor Joaquim, ou doutor Joaquim como quiserem, mas não se confunda sua toga com a capa do Batman ou do Super homem. Não funciona assim.

Por outro lado, em atividade continua o não menos excelentíssimo, festejadíssimo, premiadíssimo e não menos questionável juiz Sérgio Moro, que por força de circunstâncias veio a se encontrar na condição de estrelinha reluzente, mais reluzente que o necessário, para o cargo que exerce.
Esse aí, mais ainda que o Barbosa, em posição muito menos digna das pompas destinadas aos semideuses do STF,  se expõe temerariamente, dando palestras, recebendo prêmios, divulgando informações sigilosas, desrespeitando claramente a legislação e influenciando negativamente o já negativo "modus operandi" do nosso povo, "mais-que-carente" de conhecimento, de prudência, moderação, equilíbrio, sabedoria e bom senso.
Ao contrário da postura ética, equilibrada e principalmente NEUTRA que se espera de um magistrado, Sérgio Moro é indiscreto, tendencioso e partidário. Precisa rever urgentemente sua postura.
Aí precisamos também nós, povo brasileiro, passar a exercitar em certo grau a autotutela por parte de cada indivíduo enquanto cidadão da república, ao contrário de nos entregarmos nas mãos de terceiros e a eles atribuir a prerrogativa de nos salvar e redimir, quando isso compete primeiramente a nós mesmos.
Que os heróis permaneçam na ficção, nos quadrinhos, nos filmes e histórias infantis

Palmadas sim, palhaçada não.

     Desde 2010 ouvimos, cada dia mais estupefatos, as ridículas especulações por parte de indivíduos mais que oportunistas, acerca do bizonho projeto de lei antes conhecido como "lei da palmada" e que agora já uns querem rebatizar com o nome de uma criança mortalmente vitimada pelos pais, mas em um contexto completamente distinto aos que o referido projeto pretensamente atingiria.
     O caso Bernardo, assim como o caso Nardoni e outros similares, de forma alguma podem servir de mote para que os doentes eleitos para legislar neste país, que a cada dia mais reforçam a triste constatação de Charles de Gaulle, se atrevam a propor leis as quais nunca serão levadas a sério.
     O projeto 7672/2010, assim como grande maioria da legislação brasileira recente, não passa de uma cartada de marketing, visando a promoção de uns poucos à custa da decepção da grande maioria, que não sentirá efeito algum, já que seu texto é tão subjetivo quanto possível. Não se vê uma proposta séria, aplicável ou útil. Não se fala das alternativas de forma clara, até mesmo porque sabemos que elas não existem. Na melhor das hipóteses, poderão vir a existir em um futuro ideal.
     Se compararmos o que se propõe para a educação das crianças e adolescentes, com o que se aplica atualmente no Brasil aos adultos que não se encaixam aos comportamentos esperados pela sociedade, já temos as contradições suficientes para não levar a sério o projeto. Quer dizer que os pais não podem mas o Estado pode? 
     O Estado prende, espanca, maltrata, humilha, desrespeita, mas, proíbe o cidadão de fazer o mesmo. O Estado se omite, protela, procrastina, mas, promete punir os profissionais que não denunciarem o cidadão que, em ação de natureza disciplinar ou punitiva assuma conduta que cause dor ou lesão, humilhe, ameace gravemente e ridicularize criança ou adolescente.
     Até que se estabeleçam os conceitos e as lacunas da pífia proposta, os adolescentes continuarão portando armas e se exibindo nas redes sociais, assaltando, matando, enquanto os pais, professores e demais responsáveis pela sua educação estarão se submetendo aos treinamentos e reciclagens que provavelmente serão escritos por Xuxa, Pelé, Ronaldo e alguns pastores e palhaços analfabetos ou representantes de classe sem a menor vocação para legislador, colocado ali pela mera ignorância do povo.
     Assim como a maior parte da legislação brasileira, também essa ridícula proposta é mais uma forma de se empurrar a sujeira pra debaixo do tapete, mantendo o clima de medo e insegurança. Os pais que já não corrigem adequadamente seus filhos, vão agora usar o argumento de que a Lei os proíbe de fazê-lo. Os que corrigem vão continuar corrigindo e que o façam com firmeza e fé num futuro melhor, pois o Estado e os governos brasileiros são formados hoje por filhos de uma geração de pais fracos e mães ausentes, ao ponto de gastarem tempo e recursos na proposição de algo tão inútil.

A quem culpar, senão a nós mesmos?


     Logo após a explosão de violência desmedida e injustificável que temos observado nos últimos tempos, com assassinatos brutais, torturas em via pública, arremesso de vaso sanitário sobre a multidão, injeção de droga para matar o próprio filho, esfaqueamento da mãe e outras manifestações de insanidade partindo, não só das periferias ou dos guetos de pobreza, mas de todas as esferas da sociedade, não há como não se procurar uma explicação para a crescente incidência de tais atos.
     Vivemos em um país potencialmente rico, dotado de recursos naturais abundantes, mas habitado por um povo cujas raízes morais e éticas sustentam uma sociedade oportunista, hipócrita, individualista, imoral e corrupta. Não se acha entre nós um só justo, como diria Paulo aos Romanos.
     Se há oportunistas nos postos de comando, certamente foram colocados e ali mantidos pela massa hipócrita e corrupta, que ao eleger seus representantes, o faz movida por interesses pessoais, focada em demandas individuais, agindo em favor de um grupo menor, em detrimento da sociedade como um todo.
     Assim somos todos nós, em cujas mentes foi e continua sendo plantada desde a infância, a cultura do maior lucro pelo menor esforço. Sonhamos em ganhar na loteria, mas nem sempre nos lembramos de fazer a aposta.
     Não parece ser apenas um resultado proporcional do aumento da concentração da população, mas da diminuição da incidência dos efeitos sublimantes do processo civilizatório. A sociedade tem valorizado por demais os direitos individuais, ao custo do empobrecimento dos ideais coletivos.
     Assim, não há como se esperar do indivíduo, que ele mesmo, voluntariamente e sem qualquer incentivo, abdique de seus desejos em favor de todos os outros, que certamente não foram ensinados a agir da mesma forma.

Evoluindo rumo à barbárie.


    
A cada dia fica mais claro que quanto mais nos orgulhamos da capacidade humana em criar recursos tecnológicos para seu conforto e proteção, mais podemos nos envergonhar de que essa mesma humanidade mantém os dois pés na barbárie, precisando apenas de uma pequena brecha, alimentada pelos mesmos recursos, para que e a animalidade, a ausência de razão, a crueldade não observada nos demais animais terrestres, se manifeste como lava expelida por um vulcão.
Independente de ser ou não aquela mulher do Guarujá (quem aí se lembra do caso?), responsável por qualquer ação criminosa, ela foi apedrejada, espancada e arrastada pela rua como nos primórdios da civilização. E pior. Não houve quem a tenha acusado ante a turba justiceira enlouquecida. Em um vídeo postado na Internet, ouve-se uma voz perguntar: tem certeza irmão, que é ela? É ela sim, responde outro. Vou pegar a foto.
Um “retrato falado” e um boato divulgado em uma página na Internet. Isso foi o suficiente para que a linchassem em via pública, em meio a crianças, sem um julgamento sequer.
Não houve criança sequestrada que se pudesse atribuir a ela alguma participação. Nenhum ritual de magia foi testemunhado ou corpo de criança encontrado. Em 05 de maio de 2014 Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, uma pessoa comum, com seus problemas como todos nós, foi apedrejada em praça pública, sem que houvesse o menor indício de que algum crime houvesse sido por ela praticado. Apenas boatos e um retrato falado divulgados pela internet. seis meses depois, o caso já não era mais lembrado. Os justiceiros dormem o sono dos justos.
Nada houve de concreto nessa história além da truculenta morte provocada pelas mãos de quem? Ninguém foi responsabilizado. O tempo passou e o caso foi esquecido.
Nada provaram no caso da suposta morte da Elisa Samúdio, mas os justiceiros (inclusive "jornalistas") fazem campanha para impedir a progressão de regime e o retorno à sociedade de Bruno Fernandes.
Nada provaram de crime no caso de Dilma Roussef, mas os justiceiros armaram um circo sem precedentes e a expulsaram do palácio do planalto.
Nada há de concreto contra Lula, mas continuam a investir na tentativa de desestruturação de sua imagem.
Por outro lado, os ladrões de milhões e milhões da Petrobras, de Furnas, da JBS, com tudo provado e comprovado, delatam seus cúmplices, prometem devolver uma ínfima parte da fortuna surrupiada dos cofres públicos e fica por isso mesmo. Saem por cima, como heróis. Nenhum justiceiro aparece para linchar, para queimar ônibus, fechar rodovia, nada. Excetuem-se os oportunistas de plantão, que já apresentam “pedidos de impeachment”, sem calcular o que virá no dia seguinte.
Estamos a passos largos evoluindo rumo à barbárie. E estamos usando para isso, as ferramentas que simbolizam a evolução. E a evolução tecnológica não nos impede de agirmos como se não tivéssemos evoluído, como se ainda estivéssemos na infância da humanidade, ou antes mesmo de experimentar qualquer influência da civilização. Será essa a natureza humana da qual jamais fugiremos, por mais que evoluamos?
Somos justiceiros improvisados de momento, quando é contra um fraco, indefeso, já abatido, ou covardes amedrontados incapazes de agir quando é contra bandido de verdade?
Não. Dirão alguns. Estamos mobilizando as redes sociais virtuais para conclamar todos para desligar suas tvs e apagar as luzes na hora do pronunciamento. Também estamos propondo um grande panelaço, apitaço, e faremos também um curtidaço e compartilhaço no “face”, um tuitaço...