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Cancelamento gratuito, ou crédito a indignos?


Um fenômeno interessante tem se espalhado em nosso meio e causado perplexidade em quem observa o comportamento humano, especialmente nos últimos tempos -  tempos de globalização, de disseminação descontrolada da informação, de inversão de valores - tudo isso, provavelmente em função de uma falta de conceitos bem estabelecidos, ou de ausência mesmo de conceitos e valores palpáveis. Bauman deve estar se contorcendo lá de cima, dizendo: eu avisei!!!

Ao observarmos o comportamento das pessoas, tanto jovens quanto velhos, homens ou mulheres, das mais diversas origens, raças, classes sociais, etc, o que vemos, e falo isso em relação ao povo brasileiro especialmente, é um total descaso com o que antigamente se respeitava religiosamente; Não quero, obviamente, propor um retorno ao que já se sabe inadequado, mas, uma busca por equilíbrio. Precisamos evitar repetir os mesmos erros dos nossos antecessores.

Não me parece de forma alguma, ser desejável ou proveitoso, sermos guiados por ridículos e anacrônicos defensores do indefensável como a ex-atriz Regina Duarte ou o ex-comentarista Alexandre Garcia, que sem argumento palpável, mancharam indelevelmente um passado respeitável, aparentemente a troco de nada; ou pior, em troca de fazer parte de um grupo execrável e retrógrado, de seguidores de uma figura patética, completamente oposta à formação e à experiência de vida dos dois, que já foram amados e respeitados e hoje são motivo de memes hilários. 

Da mesma forma, urge nos afastarmos de posturas infantis, perversas e inconsequentes, como Monark ou Adrilles, que, diferentemente dos dois antes citados, eram até pouco tempo, meros semianalfabetos desconhecidos, mas que, assim como os famosos citados, alcançaram visibilidade e se julgaram acima da crítica, a ponto de vincularem suas imagens a outras, essas sim, já carregadas de conceitos negativos, diante de uma sociedade apaixonada pela lacração, que empodera o anônimo e desconsidera o currículo, armada com a mais poderosa ferramenta de destruição já conhecida, qual seja, o livre acesso de todos à manifestação indiscriminada de seus instintos mais primitivos, como diria uma outra abjeta celebridade, que da minha parte, não merece ter o nome citado.

Fica então a dúvida: o que faz com que tantas pessoas deem valor a coisas tão  claramente indignas? Seria algum tipo de protesto? Mas que protesto idiota é esse, que arranca o pé, quando o problema era uma unha?

O problema é que não sabemos lidar com a liberdade. O sujeito que nasceu no Brasil "redemocratizado", já livre do regime militar que existiu de 1964 a 1985, foi criado por pais sedentos de liberdade de expressão. Esses pais, imbuídos das melhores intenções, se orgulham até hoje, de dizer que "meu filho não vai passar pelo que eu passei". Tiraram toda a censura, quebraram todas as cercas, em nome da liberdade.

Assim, vimos crescer uma geração de ignorantes da necessidade de limites, da qual todos nós carecemos. Esses acrônicos indivíduos, em cujas mãos está o futuro de todos nós, realmente ignoram importantes conceitos, não dando conta de perceber além do seu próprio tempo, como se o mundo tivesse surgido junto com eles e não fosse existir além deles. Não valorizam a história, nem a própria história procuram conhecer. É a marca de uma geração que evita o passado, tentando fugir da possibilidade de ser tão ruim quanto a sua antecessora.

Assim, erram por mero desconhecimento dos erros do passado e não constroem sequer expectativa de futuro.

Uma pessoa sensata, certamente buscará no passado, orientação mínima que seja, quando estiver insegura em relação a uma situação qualquer. Isso poupará desgaste  desnecessário, desilusões e sofrimentos diversos. 

A repetição é intrínseca ao humano civilizado, mas esse mesmo humano, sabemos, é o único animal até  então capaz de tudo o que fizemos. Não me parece justo permitir que as crianças ou os afetados por demência, desperdicem impunemente tanto esforço já despendido.