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Inversão de valores... continua.

     E continua a inversão de valores na nossa sociedade, cada vez mais avacalhada, cada vez mais afundada em corrupção e corrupção. Observemos que corrupção significa desvio do alvo, fuga da meta. Não é coisa exclusiva de servidor público. Não é falha a ser cobrada somente dos governantes. Qualquer pessoa que faz algo que contraria aquilo que se espera dela, está se corrompendo, está desempenhando papel diferente do qual lhe foi destinado, ou o qual ela mesma escolheu.
     Pois bem, temos visto nossa sociedade inverter sistematicamente a ordem natural das coisas e isso reflete obviamente nas ações dos governantes. É inaceitável que o governo brasileiro gaste tempo em tentar defender traficantes que vão ser fuzilados na Indonésia. Não há qualquer injustiça sendo praticada nesse caso. O sujeito se acostumou a desrespeitar a lei daqui e não acreditou que lá seria diferente. Que pague o preço por sua aventura. O governo do Brasil deveria enaltecer e defender pessoas úteis ao país e ao mundo. Não parece que um traficante de cocaína seja esse tipo de pessoa.       As  famílias dessas pessoas também não se envergonham de usar as desculpas mais esfarrapadas para tentar salvá-las do castigo severo. Isso prova o quanto essas famílias são responsáveis pela má formação dos membros da sociedade. Os pais permitem tudo aos filhos e depois, ainda querem que suas crias irresponsáveis sejam tratadas como doentes, inimputáveis.
     Por outro lado, ainda confirmando a atitude equivocada dos governos, e aí vou  ter que concordar com os que acusam o PT de agir de forma infantil e irresponsável, o governo de Minas Gerais, numa atitude realmente infantil e improdutiva, repetindo o que faziam os seus adversários quando no poder, mas ainda mais que eles, banalizam o significado de uma condecoração importante como a Medalha da Inconfidência, que deveria fazer lembra um feito da mais alta importância para todo o Brasil, distribuindo as comendas a pessoas que em nada lembram Tiradentes, antes pelo contrário, representam interesses e ações completamente avessas aos princípios defendidos por aquele mártir.
     Nobre foi o que, depois de tamanho ridículo, devolveu a medalha outrora recebida, declarando assim, não se agradar de ser comparado com os novos agraciados. Esse sim, é digno de respeito, ao dizer publicamente: Obrigado, mas não aceito o mesmo prêmio dado a tais pessoas. Não aceito ser comparado a esse tipo de gente. O governo de Minas Gerais devia procurar conhecer melhor nossos valores, antes de se submeter aos caprichos do partido.
     Assim, nosso governo, criança que não se cansa de errar, nem aceita aprender com os mais velhos e experimentados, vai errando e "ferrando" o povo, brincando de governar, defendendo bandidos, agraciando inúteis, perdoando ladrões e endurecendo com os pobres.
     O povo, por sua vez, também age como criança. Faz pirraça, grita, chora, mas não reage adequadamente. Muitos criticam o governo por condecorar gente ruim, mas não faz por merecer respeito e distinção. Criticam o governo por defender traficante, mas compram e consomem as drogas que os traficantes vendem. 
     Ora, se não houver corruptor, não haverá corrupto. Todos atacam a PETROBRAS, mas poucos se dão conta de que os grandes responsáveis pela roubalheira são os donos das empresas que pagaram as propinas.  
     Se não houver usuário de  drogas, não haverá traficante de drogas. Os traficantes presos, em sua maioria, são pobres favelados. Os usuários que compram as drogas são também os ricos da nobreza, responsáveis sim, pela manutenção do mercado. Se não houver clientela que paga, quem vai querer vender?

Terceirização. Legalização da corrupção.

     Como já dissemos antes, boa intenção não basta. Da mesma forma, barulho e comoção direcionados, convocado por não se sabe quem, com data marcada e tal, não passa de cortina de fumaça, com a mais descarada intenção de dar um alento aos desesperados e "tirar da reta" o acumulado de descontentamento, cegar e entorpecer os ânimos dos massacrados, conduzindo-os conforme for interessante.
     O povo foi às ruas há poucos dias, gritar contra o governo, enquanto o legislativo preparava mais um golpe contra seus representados. Confiramos se não é o que acontece.
     Está em discussão há vinte anos o projeto de alteração na lei, para a diminuição da maioridade penal. Os legisladores alegam que o assunto não foi ainda bastante discutido, que precisamos de tempo para não cometer injustiça. Se em vinte anos não se consegue chegar a uma conclusão a respeito de um assunto de tamanha importância, a despeito da opinião pública que é esmagadoramente favorável à mudança, não se pode esperar que o sistema democrático representativo seja eficiente. Talvez tenham razão os que clamam pela volta da ditadura.
    E agora, numa velocidade incrível, torcendo a interpretação dos regimentos e contrariando mais uma vez a opinião pública, assim como a opinião dos sindicatos e das centrais sindicais, do executivo federal, do Ministério Público do Trabalho e de boa parcela da imprensa especializada, a Câmara Federal resolve, em atendimento ao interesse das empresas que provavelmente bancaram e continuarão bancando suas campanhas, desarquivar e dar andamento favorável ao Projeto de Lei 4330/04.
     Ora, temos em andamento os efeitos da divulgação do escândalo de corrupção envolvendo a PETROBRAS, que, se detidamente analisado, vai apontar entre as falhas que contribuíram para facilitar a disseminação da corrupção, a quantidade de terceirizações envolvidas no processo. 
      Vamos tentar entender como a coisa acontece, analisando outro caso em andamento, que, se bem averiguado, vai logo apontar erros: A famosa obra de duplicação da BR 381, no trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade, que esperou mais de trinta anos e milhares de mortes para se tornar fato.
Ocorre que o governo licitou a obra. Um consórcio de empresas ganha a licitação, mas nenhuma delas executa a obra. Pelo contrário, terceiriza-se a obra em fatias entre empresas menores, que por sua vez, ainda terceirizam alguns serviços entre outras, que ainda podem terceirizar. Não parece óbvio que alguém está ganhando muito dinheiro sem trabalhar?
     É uma ciranda louca, sem fim. Se acontece um erro, ninguém assume. Lembremos o desabamento do viaduto Batalha dos Guararapes, ocorrido em  Belo Horizonte 03/07/2014, até hoje sem explicação e sem que um responsável tenha sido apontado. Ali ocorreu terceirização de serviços. As empresas vencedoras da licitação contrataram empresas para desenvolver o projeto e outras para executá-lo. Quem é o responsável pela obra? Quem vai arcar com os prejuízos decorrentes da falha que matou duas pessoas, feriu outras dezenas e atingiu indiretamente milhares?
     Sabemos que há outras varias implicações envolvidas. Grande parte dos custos será engolida por pessoas que não terão a menor participação na execução dos trabalhos. O prejuízo será mais uma vez, de quem trabalha. É a legalização da corrupção, imposta pelos que foram eleitos para representar o povo.


Publicado no jornal O Tempo em 19/04/2015