Estruturas psíquicas segundo a Psicanálise
Weverton Duarte Araújo.
O método psicanalítico passa pela elaboração do discurso do indivíduo.
Vale
esclarecer que este trabalho visa a apresentar uma síntese do curso
introdutório às estruturas clínicas, de modo que não haverá aqui
a intenção de abordar com profundidade o tema. Assim, serão
trabalhados apenas os aspectos principais e mais marcantes de um
conteúdo muito maior e mais abrangente.
O
analista precisa ter o pensar psicanalítico embutido em seu
discurso. A ideia deste trabalho é tentar, pela via da construção
de um discurso compatível com o discurso da psicanálise, elencar os
aspectos que individualizam, ou pelo menos, dão pistas em direção
a uma ou outra entre as possibilidades pelas quais se desenvolve a estruturação psíquica do ser humano, uma vez que nada é muito claro, nem
estático, ou padronizado, no desenrolar da experiência analítica, assim como também não o é, no desenvolvimento das estruturas acima mencionadas e a qual estudo nos dedicaremos a seguir.
Assim
sendo, tentaremos construir um discurso acerca da forma pela qual o
analista pode chegar ao "diagnóstico" da estrutura
psíquica do indivíduo submetido à análise.
Vale
lembrar que o analista tem por objeto de sua escuta, entre outros,
fazer um diagnóstico prévio e atualizá-lo constantemente. Não se
pode, portanto, estabelecer um diagnóstico com base na teoria
puramente, mas, e principalmente, pela experiência de se escutar o
analisando e avaliar suas manifestações de transferência.
O
diagnóstico estrutural é feito a partir da estrutura da linguagem.
Essa linguagem é que traz à luz a estrutura, através da leitura
que o analista faz do conteúdo do discurso do paciente. Isso só é
possível na clínica, onde se dá a transferência ideal.
Identificar o tipo de estrutura com a qual se está lidando pode poupar esforço e minimizar o sofrimento do analisante e a angústia do analista, uma vez que a repetição do obsessivo clássico não é a mesma repetição do histérico, por exemplo, embora em alguns pontos possam se aproximar e conduzir a uma interpretação equivocada. É preciso
escutar o sujeito e o seu inconsciente.
Identificar o tipo de estrutura com a qual se está lidando pode poupar esforço e minimizar o sofrimento do analisante e a angústia do analista, uma vez que a repetição do obsessivo clássico não é a mesma repetição do histérico, por exemplo, embora em alguns pontos possam se aproximar e conduzir a uma interpretação equivocada. É preciso escutar o sujeito e o seu inconsciente.
Neurose, Perversão e Psicose:
soluções de defesa diante da
angústia da castração.
Há
um dado momento, dentro do período conhecido como primeira infância, aproximadamente, mas não exatamente por volta dos 2 a 6 anos, quando o indivíduo é exposto à vivência da fase
fálica (terceiro dos cinco estágios do desenvolvimento psicossexual
segundo a teoria freudiana: (oral-anal-fálico-latência-genital)1
e se vê obrigado a optar por um posicionamento em relação à falta
(castração) que se impõe.
Essa
castração é percebida pela criança quando a presença do pai
imaginário, introduzido pelo discurso da mãe como objeto de seu
desejo, abala as "certezas" da criança sobre ser ela o objeto de
desejo da mãe e de ser a mãe, objeto de desejo unicamente seu.
Estabelece-se aí a rivalidade e o Complexo de Édipo, cujos
desdobramentos vão ser decisivos na elaboração da estrutura desse
indivíduo.
Todos
nós optamos, em algum momento dentro daquele período de
constituição do sujeito acima citado, por uma forma de nos
relacionarmos com a ruptura imposta pelo acréscimo da figura paterna
na relação mãe-bebê.
A esta opção se deve a forma pela qual esse indivíduo vai se relacionar com o mundo ao seu redor.
O indivíduo então se estrutura, em uma
operação de defesa. A
opção pela estrutura é involuntária. É uma escolha dirigida por
diversas forças circunstanciais que são regidas pelas experiências individuais. Como e em que
direção vai se dar essa estruturação é o que veremos adiante.
Diante
da angústia da castração o indivíduo cria soluções de defesa e,
irreversivelmente, se estrutura como neurótico, perverso ou
psicótico. Essas
categorias foram consolidadas basicamente a partir dos estudos e
proposições de Sigmund Freud, relidos e atualizados e desenvolvidos
por Jacques Lacan, principalmente.
Diversos outros estudiosos continuaram e continuam
no trabalho de contextualização e atualização. Não se pode deixar de citar, por exemplo e a título de esclarecimento acerca do fato de que não se deve perceber as estruturas como algo fixo, imutável e inflexível, as incontáveis contribuições que o tema já recebeu e continua a receber.
A exemplo disso, temos a proposição de Jean-Claude Maleval, que sugere a possibilidade do autismo como uma estrutura além daquelas acima citadas e já bem assimiladas. Resumidamente
podemos apresentá-las como mecanismos de defesa diante da castração
simbólica.
Convém
destacar que há oposições diversas à proposição de Freud, o que
não obsta estarmos estudando-a agora, a mais de cem anos depois de sua
aparição.
O
mecanismo da neurose (Verdrängung), que se manifesta sob as formas
de histeria e obsessão, se baseia em uma sintomática nostálgica em
função da perda a que o sujeito se submete ao aceitar (recalcar) o
imperativo da castração simbólica.
No
mecanismo da perversão (Verleugnung), o sujeito sintomatiza fixação
ou denegação da realidade, uma vez que reconhece a castração
simbólica unicamente com o intuito de transgredi-la (renegar –
desmentir).
O
mecanismo da psicose (Verwerfung), fortemente marcado pelos delírios
e alucinações, se caracteriza pela rejeição total da castração
simbólica, que o indivíduo forclui (deixa fora) de seu psiquismo,
daí o termo “foraclusão da castração”.
Essas
estruturas apresentam sintomas e traços, os quais, mormente os
últimos, são importante fator para a distinção entre as
estruturas ao se buscar um diagnóstico. Na coleta de traços
marcantes da estrutura do analisando, o PAI e sua LEI formam o
aspecto central a ser observado pelo analista. Como ele se relaciona
com a metáfora paterna, aponta para a origem de sua estrutura
psíquica.
A esta opção se deve a forma pela qual esse indivíduo vai se relacionar com o mundo ao seu redor.
Diversos outros estudiosos continuaram e continuam no trabalho de contextualização e atualização. Não se pode deixar de citar, por exemplo e a título de esclarecimento acerca do fato de que não se deve perceber as estruturas como algo fixo, imutável e inflexível, as incontáveis contribuições que o tema já recebeu e continua a receber.
A exemplo disso, temos a proposição de Jean-Claude Maleval, que sugere a possibilidade do autismo como uma estrutura além daquelas acima citadas e já bem assimiladas. Resumidamente podemos apresentá-las como mecanismos de defesa diante da castração simbólica.
Estrutura neurótica
A
neurose pode ser caracterizada pela submissão (recalque) à Lei do
Pai. O
efeito do recalque permite o esquecimento do sofrimento do atravessar
o Édipo, mas deixa a possibilidade do retorno desse recalcamento. A
criança percebe que a mãe é castrada, quando ela percebe que a mãe
deseja o falo representado pelo pai.
Assim, percebe que a mãe deseja
outro, que não ela própria. Daí surge o sentimento de ódio pela
mãe e pelo pai e começa a estruturação do neurótico. O neurótico
mostra seu sintoma. Ele goza do sintoma. Inconscientemente ele se
alimenta da repetição do sintoma a fim de manter o gozo. Ele
prefere não se lembrar do recalcado para não abrir mão do sintoma.
Assim, percebe que a mãe deseja outro, que não ela própria. Daí surge o sentimento de ódio pela mãe e pelo pai e começa a estruturação do neurótico. O neurótico mostra seu sintoma. Ele goza do sintoma. Inconscientemente ele se alimenta da repetição do sintoma a fim de manter o gozo. Ele prefere não se lembrar do recalcado para não abrir mão do sintoma.
Neurose histérica
Se
uma pessoa não consegue falar de seu desejo sem passar pelo desejo
do outro, provavelmente se trata de uma estrutura histérica, pois
sempre diz através do outro. Quando o sujeito escolhe pelo desejo do
outro, apresenta-se o discurso histérico, onde o seu desejo se
manifesta através do desejo do “grande Outro”.
Neurose obsessiva
O
obsessivo tem um desejo impossível. Realizar seu desejo é realizar
o incesto com a mãe. Ele não pode realizar o desejo. Assim, vai
"empurrando com a barriga", sem chegar a lugar nenhum. Ele imagina que
o pai vai lhe castrar por ciúmes da mãe. Se o indivíduo não
resolve esse problema na infância, há grande possibilidade de se
tornar um adulto neurótico de estrutura obsessiva. O obsessivo se
acha na impossibilidade de poder demandar, tornando-se servo do
desejo do outro.
Estrutura Perversa
O
perverso faz questão de transgredir a lei do pai e ficar com a mãe
para si. Ele deixa a castração entrar parcialmente em seu
psiquismo. Ele recusa terminantemente que a lei de seu desejo seja
submetida à lei do desejo do outro.
Ao
enfraquecer a figura do pai, negando-lhe o status de “suposto ter o
que a mãe deseja”, o perverso pode voltar a se sentir o único
objeto de desejo da mãe, capaz de sustentar-lhe o gozo.
A
angústia da castração do perverso se dá na dificuldade de
assimilar a diferença real entre os sexos. Ele se sente estimulado a
não renunciar o objeto de seu desejo (a mãe), partindo para o
desafio ao pai e à transgressão de sua lei. Ele busca produzir a
angústia no outro.
O
perverso tem modificada sua pulsão quanto à meta e quanto ao
objeto. Isso explicaria tendências fetichistas e homossexuais, respectivamente.
Estrutura Psicótica
O
indivíduo psicótico forclui (deixa de fora) a castração
simbólica, por não dar conta mesmo da castração, porque a ideia
de pai remete à ideia de falta. Ele faz então, uma suplência
através de diversos subterfúgios.
A
construção delirante é um traço forte e a alucinação auditiva é
marcante na psicose. O psicótico fixa no oral.
O
sujeito da psicose não é barrado pela castração como os
neuróticos e nem reconhece parcialmente, que seja, a lei do pai,
como os perversos. Ele simplesmente não deixa entrar a metáfora
paterna em seu psiquismo.
O
desejo do psicótico é ilusório, delirante, alucinado. No delírio
o sujeito “inventa” um Outro do desejo, que sustente o lugar de
sua falta, a qual, embora negada, é presente.
Conclusão
Posto
que o fetiche na perversão, a fantasia na neurose e o delírio na
psicose são, em resumo, sempre uma resposta do real à falta, cada
um desses "sintomas" com seus diversos traços, podemos apostar
preliminarmente, a partir desses pontos em que diferem as estruturas,
para estabelecer o diagnóstico.
Cabe
então, ao analista, estar apto a escutar no discurso do analisando,
seus “ais” (angústias, inibições, sintomas) que a linguagem não
esconde, antes, explicita.
1Freud,
S. (1905). Três
Ensaios sobre a Teoria
da
Sexualidade
1Freud,
S. (1905). Três
Ensaios sobre a Teoria
da
Sexualidade