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Somos todos bananas


O incrível poder das novas mídias, especialmente as redes sociais via Internet, a cada dia, de forma silenciosa, mas fantasticamente eficaz, vem elevando-nos todos a uma condição de participantes ativos dos eventos cotidianos, de forma inevitável.
Vejamos dois casos recentes, envolvendo questões raciais, mas que no fundo são explorados comercialmente, de forma inteligente, mas inquestionavelmente tendenciosa e inconsequente.
Um jogador de futebol e um dançarino se tornaram, na mesma semana, marionetes do famigerado mercado de imagens. Apresentadores de programas de TV vestem a máscara de defensores dos direitos humanos e civis, das minorias excluídas, dando perigosa ênfase a fatos do cotidiano, sem a menor preocupação com a realidade. Mas o que querem eles, além de vender produtos, vender seus programas, suas imagens produzidas, que de humanas nada possuem?
Daniel e Douglas são mestiços, assim como a maioria da população brasileira, onde não se acha mais, salvo raras exceções, negros, brancos ou índios, mas a deliciosa mistura de origens étnicas que nos faz tão belos. Mas o marketing televisivo precisa de notícias bombásticas para se manter. Douglas era um pobre garoto da favela, que de repente se vê em meio ao luxo e a fama. 
Mas suas origens o obrigaram a estar onde as coisas acontecem e aconteceu com ele. Nada mais que isso, se não houvesse a máquina de exploração de fatos para a produção de audiência. O mesmo se pode dizer de Daniel, que pegou a fruta no gramado e comeu. Nem olhou para a câmera. Só comeu e voltou ao seu papel de jogador de futebol.
Mas a imprensa faminta e os marqueteiros de plantão não poderiam deixar passar a oportunidade de fazer um show sobre um tema já exaurido, ma que sempre chama a atenção, que é a ridícula intolerância às diferenças estéticas raciais, principalmente por parte dos que se aproximam mais do padrão proposto pela ditadura do mercado da estética. Horas depois, já se vendiam camisetas alusivas ao ato de Daniel. Horas depois já se vestiam camisetas chamando a atenção para o infortúnio de Douglas. Tudo marketing. Tudo comércio de camisetas e de informações.

         Não somos macacos nem humanos. Somos bananas, que a mídia expõe a nossas próprias bocas. E nos devoramos, não como os macacos, que apenas comem para saciar a fome, mas como autômatos, seguindo modelos impostos pelos que nos manipulam e se enriquecem à custa disso.

Rumo à instabilidade jurídica e social.



O que estamos presenciando nos últimos dias pode ser visto pela grande maioria como apenas resultado de insatisfação de uns ou de outros, que resolveram repentinamente tomar uma atitude. Não. Não podemos ser tão ingênuos.
É óbvio que o que vivemos é a aproximação à instabilidade jurídica, o caos social, a barbárie restaurada a níveis inimagináveis até então.
As pessoas estão simplesmente dando espaço aos instintos animalescos até então escondidos sabe-se lá onde em suas mentes cauterizadas pela civilização. Eis que algo se quebrou. Perdeu-se o respeito pelas leis e o medo da punição, até pelo fato de que as leis são tão flexíveis que não se sabe mesmo o que cada caso de aplicação da mesma norma poderá trazer de novidade.
Confirmando as piores profecias bíblicas, pais estão matando filhos e filhos matando pais, irmãos a irmãos, sem que se consiga vislumbrar uma explicação mínima para tais atos de injustificável selvageria. Mata-se por matar. Toma-se o que é alheio sem o menor constrangimento, sem culpa.
Do ponto de vista da Psicanálise freudiana, talvez seja possível explicar essa tendência à fuga da normatização como uma reação apropriada, se observado o ser humano em sua essência, narcisista que é, cada dia mais mergulhado na busca infinita do prazer da exaltação da própria imagem, em detrimento do outro, com o qual não se identifica mais.
            Mas, por mais que seja doloroso, é em sociedade que vivemos. E é por isso que precisamos nos ocupar na busca por uma solução para o impasse entre a necessidade pulsante de sobrevivência do indivíduo como tal, ou do grupo social de indivíduos. Embora ambos se sustentem e sejam essenciais para a sobrevivência mútua, é negando tal dependência que vivem hoje, indivíduo e grupo, negando até o ar um ao outro, sufocando-se mutuamente, continuamente.

Brasil das castas e cotas

Os normais não terão vez nem voz

     Primeiro vieram as cotas para negros, para índios, para pobres nas Universidades Públicas. De outro lado, com base no mesmo raciocínio, surgem os que clamam por respeito aos nordestinos, aos homossexuais, aos evangélicos. Gritam os portadores de deficiência física, que já nem admitem ser tratados como tal - a cada dia o termo muda - acho que agora é "portador de necessidades especiais".
     Até políticos condenados por desvio de bens públicos pleiteiam direitos aviltados na aplicação das penas e angariam defensores.Também clamam os sem terra, os sem teto, os atingidos por flagelos os mais diversos, mas cada um em sua pequena casta, individualizadas as demandas, se acotovelam os excluídos de toda espécie.
     Por fim, já é Lei a reserva de um percentual de vagas em concurso público para uma determinada "minoria" racial. É o precedente para que as demais minorias logo exijam paridade. Exigirão o direito de serem tratadas desigualmente, mas em defesa da igualdade. Uma igualdade falaciosa, paternalista, placebo social a manter os excluídos na eterna dependência e longe de serem sujeitos da própria emancipação.
     Todos querem ser tratados como iguais, mas exigem respeito a sua diferença. Assim, damos um passo atrás a cada conquista que parece ser benéfica a um grupo. A totalidade da sociedade se vê obrigada a individualizar o atendimento das demandas, criando legislação tão específica, que descaracteriza o aspecto civilizatório e comunitário da mesma, em favor de um discurso que individualiza o que em conceito é coletivo.
     Em breve, respeitando o sistema inclusivista em implantação, o síndico do Condomínio Brasil terá que atender um por um, os moradores com queixas, já que um é negro, outro é gay, velho, sem terra, judeu, loira, PNE, gordo, careca, baixinho... 

     Só os “normais” não terão vez nem voz. A menos que os "normais" se sintam minoria, lutem por seus direitos e também passem a ser atendidos por um programa qualquer de proteção a excluídos.