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Morreu Fidel Castro. Perdemos o quê?



Sempre que morre alguém da importância que teve Fidel Alejandro Castro Ruz, os comentários mais diversos e inusitados são ouvidos.  Atualmente, diante da velocidade pela qual as comunicações fluem, bem como pela urgência com que as pessoas se empenham em emitir uma opinião com o defunto ainda fresco, cada vez mais somos atingidos por arremedos de opiniões, os quais qualquer criança bem informada perceberá facilmente ser pouco mais que uma colagem de frases prontas, velhos clichês incansavelmente repetidos por incapazes ávidos por alguns “likes”.
Para não correr o risco, passado o frisson dos dois ou três primeiros dias, até mesmo em respeito à memória do falecido, que convenhamos, não é um falecido qualquer, eis que ofereço uma breve reflexão sobre o significado de Fidel Castro no mundo, segundo me foi possível captar. Não se espere aqui uma defesa apaixonada de um ou outro regime de governo, etc.
Se existisse INTERNET nos tempos de Alexandre o Grande, creio que a imagem daquele ilustre conquistador de terras e povos não seria tão grande como foi e é.  Tornou-se comum pessoas sem o menor conhecimento de história, política ou administração, cegamente doutrinadas por interesses de terceiros, muitas vezes em desfavor do seu próprio, mas que se sentem importantes ao desvalorizar algo maior que si mesmo, repetirem alguns chavões com ar de autoridade, sem o menor pudor de estar contribuindo para a desinformação. Cegos guiados por cegos espalhando sombras nas trevas.
Quanto ao Castro, só posso falar dele o que a história diz – não o que dizem os EUA ou os apaixonados pelo “american way of life”. E sobre isso, caso o leitor desconheça, entre dezenas de artigos e livros, ele mesmo escreveu, de forma bastante sensata, quiçá se dirigindo aos famigerados destruidores de ícones: A história me absolverá.
Não ouso tomar o lugar da história, posto que esta se escreve ao longo do tempo e não no dia seguinte aos fatos; menos ainda me atreveria a desonrar o nome de um homem cujas ações jamais terei como suplantar, proporcionalizar, ou mesmo abeirar-me em volume ou em efeito, por mais que eu me esforçasse.
E a história de Fidel ultrapassa o mero fato de ter sido ele o único estadista a desafiar o poderio militar norteamericano, ter sofrido juntamente com seus compatriotas os duros efeitos do bloqueio comercial imposto pelos EUA durante 60 anos, mesmo depois de perder o apoio da extinta União Soviética e ainda assim, manter o país livre e independente. A despeito da propaganda contrária, Cuba ostenta há anos IDH mais alto que o Brasil, de modo que não me parece razoável qualquer crítica à eficiência de seu governo.
Posto isso, de Fidel não lamento a morte, tanto quanto não a comemoro. Mas, se perdemos algo dele, certamente não será por sua culpa. Perdemos sim, por não sermos todos homens e mulheres dispostos a enfrentar o mundo em defesa daquilo que acreditamos ser o correto. Perdemos tempo em criticar as ações alheias, enquanto perdemos oportunidades tantas de fazer pelo menos o que o outro não fez e lhe cobramos não ter feito.