Morre sem a menor necessidade, sem um pingo de concordância de quem quer que possamos imaginar, um anjo que a tantos corações acalentou, que a tantos sofredores deu sua dor por espelho, para talvez tornar a dor do outro um pouco menor, já que a desnudava e desmascarava com maestria.
Morre um amigo nosso, que nem precisava nos conhecer para ser mais íntimo. Sinto que ele sentia o que nos tornava iguais. Sinto que ele sofria cada dia e agora não sofre mais, pelo menos no plano em que ficamos sem ele.
Morre um bastião da poesia e da boa música. Cai um balaústre da cultura. E isso deixa à mostra o empobrecimento cultural que nos aflige, pois muito nos custará apontar um que seja, que o possa substituir em qualidade.
Da mesma forma, ficamos sem uma excelente referência no que diz respeito à ética, ao humanitarismo, à decência e aos bons princípios. Esse moço era um exemplo de humildade, de boas maneiras e de doçura, itens em falta nas prateleiras da moral hodierna.
Duplamente então, ficamos a fitar o horizonte, não esperando aviões, mas a desejar que em seu jardim, Deus possa ouvir o menino que viveu 50 anos mas sobreviverá outros tantos, em suas letras e músicas inigualáveis, aqui deixadas órfãs tão precocemente.
Viva bem Vander Lee, onde quer que seu espírito repouse, pois se seu corpo padeceu, sua alma é imortal.