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Sobre estados de ansiedade, seus efeitos e uma proposta terapêutica.

O que é ansiedade?
Como ela se manifesta?
Todos estão sujeitos às crises de ansiedade, ou só eu sofro isso?
O que fazer quando vem a "crise"?
Ansiedade pode levar à morte?
Isso tem cura?

A ansiedade parece ser um “estado de espírito”, provocado pela angústia de não se ter certeza de algo, ou pela falta de habilidade do indivíduo em identificar e saber esperar o tempo de cada coisa, ou ainda, de não dar conta de lidar com restrições e inibições, muitas vezes por ter sido criado sem conhecer o NÃO.
O sofrimento por antecipação, caracteriza esse estado, que, para a Psicanálise, está intimamente ligado à estrutura psíquica do sujeito.
Todos nós, uns mais e outros menos, estamos sujeitos a desenvolver sintomas de ansiedade. Dependendo da intensidade da angústia que a provoca, pode-se observar um certo nervosismo, fala desorganizada, sudorese, tremores e outros.

Certas pessoas chegam a apresentar sintomas parecidos com o que se observa nos quadros conhecidos como "síndrome do pânico", onde a pessoa tem a sensação de que vai morrer, ou que vai faltar ar para respirar.

Situações angustiantes sempre existiram e continuarão existindo. A vida não é um parque de diversões. Mas, a partir do momento em que os efeitos da pandemia de COVID-19 começaram a ser sentidos com mais intensidade, percebemos que aumentou a procura por ajuda psicológica, ou terapêutica. Não foi, nem está sendo diferente comigo, ou com você. Todos nós sentimos as mudanças repentinas e nos assustamos com elas.

Um fato que chama a atenção, é que a maioria das pessoas que passaram a procurar ajuda terapêutica, é de jovens, abaixo dos 40 anos e até adolescentes. Esses últimos, parece que estão sendo afetados fortemente pela limitação imposta pela inusitada circunstância.

Sim. Um quadro de ansiedade não tratado com bastante atenção e cuidado, pode levar o sujeito a situações mais graves e a ações contra a própria segurança e saúde. A sensação de falta de uma possibilidade de solução, pode conduzir ao desespero e à fuga suicida, ou a um estado de depressão profunda, que também mata.

Sugiro que se você vier a se sentir nessa situação, lembre-se de que todo mundo está sujeito a isso. Ou seja, não é motivo para se sentir pior do que ninguém. Então... na hora da crise, (se tiver como) corra para debaixo do chuveiro e sinta a água cair sobre você, até relaxar. Ou, pelo contrário, encontre um lugar amplo e arejado, onde possa experimentar a sensação de respirar livremente. Não existe receita pronta, que sirva para todos. Crie a sua própria solução, observando-se.

Uma "crise de ansiedade" tem um tempo de duração. Se você tomar o controle do seu corpo e da sua mente (dos seus pensamentos) durante o decorrer desse tempo, os sintomas desaparecem. 
Uma técnica interessante e muito eficaz, por mais simples que pareça, é, no momento que você perceber que seus pensamentos estão sendo conduzidos para essa espiral desesperadora, corra até a geladeira, pegue duas pedras de gelo e aperte uma em cada mão. Segure apertando até não conseguir mais... nem vai precisar muito tempo...
Você vai perceber que seu cérebro vai enviar mensagem de urgência a sua consciência, no sentido de cuidar daquela demanda (o gelo vai causar um crescente desconforto, no contato continuado com sua pele). Os pensamentos circulares que causavam ansiedade vão perder prioridade e você vai conseguir readquirir o controle sobre seu corpo. É tão simples,  que nem parece possível. Mas, funciona.

Depois, procure falar sobre isso, de preferência com alguém que tenha experiência e capacitação na área. Não use amigos, medicamentos, soluções mágicas, milagres, ou drogas alucinógenas, para cuidar de algo que exige muito mais que isso. Não resolve!!! 

Nós precisamos dar nome às nossas angústias, buscar conhecê-las e assim, aprender a lidar com elas e evitar que elas nos causem ansiedade além do que suportamos. Um pouco de ansiedade, sempre vai haver. Faz parte da vida.

 
Weverton Duarte Araújo

Analise leiga x formação adequada

Há uma discussão eterna no meio psicanalítico, no que se refere à formação do sujeito que se propõe atuar como Psicanalista. Desde os primórdios, o próprio Sigmund Freud, médico vienense responsável pelo surgimento desse campo de estudo, já enfrentou tais questionamentos; muitos médicos, como ainda ocorre com outros campos de atuação terapêutica, já mesmo naquele tempo, acreditavam que a nova abordagem deveria se submeter à ciência médica.

Atualmente, restringindo-nos à realidade brasileira, as diversas grades de formação em Psicologia, quando muito, destinam uma ou duas disciplinas a uma leve aproximação com a Psicanálise, o que pode ser justificado pelo necessário foco nas muitas abordagens psicológicas necessárias a uma boa formação. Ainda assim, há quem defenda que a Psicanálise só possa ser exercida por Psicólogos, não obstante o já citado exíguo conteúdo da matéria estudado por tais profissionais.

Durante anos a fio, a formação em Psicanálise se deu de forma bastante diversificada, em instituições historicamente envolvidas com as origens da Psicanálise, como os grupos regionais filiados ao CBP (Círculo Brasileiro de Psicanálise), ao Fórum do Campo Lacaniano e à EBP (Escola Brasileira de Psicanálise). Essas três instituições figuram como as que, tradicionalmente, difundem no Brasil, a transmissão da Psicanálise de forma bem parecida, variando principalmente, em relação ao referencial teórico secundário (além de Freud), ou seja: Lacan, Klein, Winnicott, Ferenczi, entre outros.

Entretanto, há um sem fim de entidades autoproclamadas psicanalíticas, mas que divergem, algumas pouco e outras extremamente, do que classicamente se entende por Psicanálise. Mas isso não é exclusividade da Psicanálise, visto que podemos observar o mesmo fenômeno em outras atividades e profissões. Neste nosso Brasil, de uma cultura originada nos hábitos do pior tipo de gente que havia em Portugal, não se pode esperar rigidez ética exacerbada. Assim, frequentemente, nos vemos às voltas com "picaretas" se propondo presidentes de "conselhos brasileiros de psicanálise" e congêneres.

Temos também, pequenas "escolas de psicanálise" ligadas a denominações religiosas, formações em psicanálise pela Internet, oferta de “doutorado” em psicanálise à distância sem exigência de formação superior, e por aí vai…

Na contramão do que defende grande parte dos psicanalistas e suas entidades, uma conhecida instituição de formação superior à distância, passou a oferecer a primeira graduação em psicanálise, em nível de bacharelado, totalmente EAD, com início em 2022. A grade curricular é muito aquém da formação básica oferecida pelas entidades filiadas ao CBP, por exemplo. De qualquer forma, o bacharelado não se propõe como suficiente para a formação de um Psicanalista, mas de um bacharel em Psicanálise. São coisas distintas, é bom que se lembre.

E quanto a nós, o que pensamos?

Ora, se Freud já enxergava a possibilidade de a Psicanálise ser exercida por não médicos, não parece haver coerência em se propor a exclusividade de tal exercício por este ou aquele profissional. O tripé que sustenta a ética do exercício do ofício do Psicanalista: (formação continuada/análise pessoal/supervisão), se devidamente observado, trás a essência do que propunha Freud e seus sucessores mais respeitados.

Ética, parece ser o conceito que mais pesa na formação do Psicanalista. Pensar filosoficamente e fomentar uma visão dialética dos processos mentais individuais e das relações interpessoais e de grupos, essa deve ser a direção para a qual ele olha. Não há então, que se falar em leigo, termo que neste caso, era aplicado a quem não tivesse formação em medicina e que Freud desbanca em 1927.

Parece óbvio que uma formação superior é altamente desejável, já que se espera que o estudante graduado tenha absorvido conteúdo que o afaste minimamente do senso comum e ainda que também minimamente, acrescente conhecimentos que lhe permitam dialogar com a diversidade cultural e se abrir ao controverso e complexo discurso da Psicanálise.

 

Weverton Duarte Araújo

Feliz 2022... sqn.

          E começa 2022.... 

Não me parece adequado, sustentar a menor expectativa quanto à possibilidade de que este possa ser um ano bom. Pelo contrário, temos razões de sobra para acreditar e até mesmo para começar a nos preparar para um período de um grande desgaste emocional, psicológico e físico.

Sim, essas três áreas, provavelmente serão severamente atingidas no decorrer de 2022. Senão, vejamos: nosso povo vive atualmente a experiência do segundo ano sem o carnaval, que foi durante décadas, a normalidade de fevereiro. Grande quantidade de administrações municipais, agindo de forma preventiva contra uma nova onda de COVID que parece se aproximar, cancelaram os festejos momescos e estão investindo no controle sobre as aglomerações comuns nos eventos típicos da época, algo que já fazia parte da cultura brasileira e que a população não está disposta a abandonar facilmente, mesmo que isso possa trazer graves consequências, como o aumento de internações, o colapso do sistema hospitalar e a ocorrência de mortes, como se viu em 2020 e até meados de 2021.

O sofrimento causado pela diminuição das possibilidades de divertimento, afeta o grupo, que percebe negativamente o impedimento da satisfação de sua necessidade de prazer, mas não sente da mesma forma a dor do indivíduo na perda pela morte de algum parente próximo.

Antes mesmo de pensarmos na falta do carnaval, já temos motivos para causar abalo emocional. O ano começou muito mais chuvoso do que o esperado. Os deslizamentos de barreiras, inundações e alagamentos, acidentes diversos, inclusive em localidades onde tais ocorrências não eram comuns, já estão gerando desabrigados e desalojados pelo Brasil afora.

E se isso não fosse desgraça o suficiente, estamos em ano de eleições presidenciais. E estamos vivendo um momento jamais vivido, em que as informações circulam livremente, sem censura, mas também, sem qualquer controle, sem ética, sem respeito pela opinião alheia, sem respeito pela verdade.

Assim, já podemos ir nos preparando para uma campanha suja, com abuso dos meios de comunicação, em desrespeito à nossa inteligência e à nossa capacidade de discernimento. Isso vai custar caro para nossa paciência. Vai nos cansar, nos adoecer física e mentalmente. Mesmo que tenhamos um resultado das eleições favorável à reestruturação do país, o desgaste me parece inevitável, dado o baixíssimo nível de grande parte dos envolvidos. 

Assim, juntando-se todos essas fatores e somando-se o fato de que a pandemia de COVID-19 não parece estar se encaminhando ao fim, 2022 já começa dando pinta de que não vai ter um bom fim. Claro que depende de cada um de nós, do que faremos diante das circunstâncias. Mas que vai ser fácil, não vai não. Bom seria que esta reflexão fosse bastante pessimista e exagerada.

Então, mais que nunca, compete a cada um de nós, uma atitude madura e respeitosa, em relação ao outro e a nós mesmos. Urge que nos abstenhamos de desejar buscar o prazer imediato e desmedido; que observemos os fenômenos naturais com respeito pela Natureza e que sejamos menos susceptíveis às diversas formas de manipulação da opinião, que nos cercam e nos induzem ao erro, como aconteceu com muitos incautos em 2018.  Nos cuidemos e façamos que 2023 comece com mais motivos para otimismo.


Weverton Duarte Araújo

Pequenas mudanças, grandes estragos.

O momento que vivemos tem se mostrado como uma experiência sem par, pelo menos para nós, que o vivemos, sem que tenhamos sido preparados, ou mesmo avisados de que algo tão impactante iria nos ocorrer. Tudo mudou de forma muito rápida…

É assim que percebemos. Não conseguimos entender que as coisas já vinham mudando há muito tempo e agora, por força das circunstâncias, apenas não há mais como não ver o resultado das pequenas mudanças que se acumularam.

Spencer Johnson, autor do best seller "Quem mexeu no meu queijo?", trata ali o assunto e nos mostra o quanto é verdadeira essa lamentável afirmação, de que não nos habituamos a nos preparar para as mudanças e somos frequentemente pegos de surpresa, pela menor delas, a gota d'água que faz entornar todo o caldo. Assim, cada pequena mudança, que deveria ser coisa normal do dia-a-dia, por mera inobservância, se torna uma grande dor de cabeça, causando desconfortos os mais diversos.

Observemos o atual quadro que atravessa a vida político-econômico-administrativa do Brasil. Boa parte dos eleitores que votaram em 2018 se encontram entre os que, embora possuam o direito, podem ser classificados como não aptos a votar. Ou seja, votaram como uma criança escolheria um brinquedo. Pela aparência, pela propaganda que conseguiram ouvir ou ver, sem a menor utilização de sua capacidade inata de exercitar o senso crítico, pensar, avaliar, julgar mesmo o que havia de verdade e falseamento nas notícias veiculadas na época, etc.

Na verdade, o que guiou essas “cecilias” portadoras do poder de decidir o futuro do país, mas claramente despreparadas para usar o título de eleitor, pode até ter sido um sentimento digno, um desejo honesto de mudança, mas, por ignorância e patente falta de capacitação intelectual e cultural, não podendo fazer diferente, fizeram o que fizeram. Deste modo, temos hoje um Brasil acelerando em marcha à ré, guiado pela pior estirpe de seres humanos que ainda rasteja sobre nosso chão.

É certo que os governos anteriores, embora tenham patrocinado avanços sociais e econômicos jamais vivenciados em nossa história, também coabitavam com o joio, assim como os atuais e os próximos terão que conviver, já que é sabido que não se arranca o joio sem matar, ou ferir gravemente o trigo.

Mas isso não pode ser motivo para não observarmos as mudanças, não pensarmos com maturidade e isenção. O prejuízo material, cultural e moral, diante do mundo e de nós mesmos, já é e ainda vai ser, muito maior do que se pode perceber à primeira vista.


Assim também é na vida de cada um de nós. Os erros ou equívocos, que cometemos nas escolhas de pessoas para termos como companheiros de viagem nessa estrada chamada vida, assim como em todas as escolhas que fazemos, como nossa profissão, adesão religiosa, filiação partidária, agrupamentos os mais diversos, quem amamos e quem odiamos, resultarão em consequências inexoráveis.

Feita a escolha, não há como não colher os frutos desta. E as pequenas mudanças cotidianas nos obrigam a escolher todos os dias, às vezes, muitas vezes no mesmo dia.


Daí a necessidade de observar constantemente a natureza e questionar sempre nossas certezas.


Daí a necessidade de nos analisarmos constantemente, assim como, não permitirmos que o desejo do outro nos iniba a subjetividade. Nem isso, nem o inverso disso.




Weverton Duarte Araújo