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Ir pra onde, sem medo de que e servir a quem?


 E o Papa Francisco propôs apenas três pontos a serem observados como manifestação de concordância com o discurso cristão: ir, sem medo, para servir.
Ir para onde, sem medo de quê e servir a quem? É a isso que devemos responder, agora que acabou a Jornada Mundial da Juventude e o Papa voltou para Roma. Sim, o Papa foi embora e nós ficamos com nossa realidade.

Quem acompanhou as manifestações paralelas à JMJ, viu alguns exemplos do que tem movido a parcela corajosa da juventude brasileira, que se expõe e aparece. Como responderiam esses jovens brasileiros a esse chamado? Ir para onde, sem medo de quê e servir a quem?

Ir? Não sabemos aonde ir. Fomos a Copacabana tirar a roupa, mostrar nossos peitos pra pedir respeito, pra provocar os chamados peregrinos. Quebramos, chutamos e queimamos os símbolos sagrados deles, profanando sua religião que não sabe nos respeitar. Da mesma forma que fomos para o portão do governador. Da mesma forma que de lá, saímos pelo Leblon, quebrando tudo. Mas se nos pedirem pra ir a algum lugar onde não haja câmeras, flashes, holofotes, nem alguém para ser escandalizado com nossas ações totalmente sem sentido, para ajudar alguém, não sei se iremos. Estamos acostumados a ir onde as luzes já estão acesas e nos iluminem. Não sabemos ser luz.

Sem medo? Não temos medo de nada. Nem sabemos se deveríamos ter medo de alguma coisa. Apenas vamos na direção apontada pelo instinto. Como nos interessa aparecer, não temos medo da polícia, nem do Estado, mas, não sabemos, nem tememos o que pode resultar de nossas ações que desestabilizam o Estado, colocam em descrédito e desrespeitam toda forma de fé, além de não darmos a mínima pelo direito alheio, à sociedade organizada, ao outro. Nada nos põe medo. Dane-se o amanhã. Não sabemos o que temer.

Servir? Que papo é esse? Não servimos nem nossa comida. Que nos importa se existem pobres, se existem outras pessoas além de nós. Servimos ao nosso ideal, que em resumo, é... é... Ahhh... não sabemos exatamente, mas o importante é que lutamos contra a opressão do governo cheio de pessoas corruptas, contra a opressão da igreja cheia de pessoas fanáticas, contra a opressão das famílias cheias de pessoas retrógradas. Não podemos servir a esse tipo de gente. Não vamos gastar nosso dinheiro das bombas, dos molotov e das máscaras, com vagabundos famintos abandonados pelo governo ladrão, pela igreja manipuladora e pela família ineficiente. Não sabemos a quem servir. Na verdade, não sabemos servir.

Se formos a algum lugar, tenho medo de que não sirvamos para algo, tão vazio, tão subjetivo, tão sem sentido tem sido os discursos e as formas pelas quais se manifesta nossa juventude, ou, pelo menos a parcela dela que tem se manifestado ultimamente.
E o Papa terá desperdiçado seu discurso franciscano, sua fé liberacionista, malhando no ferro frio dos afogueados corações de uma geração que não sabe aonde ir, nem o que se deve temer, muito menos o quanto faz bem servir.

Cadê o pedal de freio?


Quem já dirigiu um carro antigo, fabricado antes dos anos 1960, que usava sistemas de freios a tambor nas quatro rodas, vai ter noção do que pretendo usar como ilustração. Eram freios fracos, lentos, mas, adequados aos veículos da época, que por sua vez, tinham motores menos eficientes, menos potentes, mais lentos. Já a sociedade da época, essa andava a passos moderados, com tendência a acelerar, mas tinha fortes e eficientes sistemas de freio social.
O sistema de freio social composto pela família, pela escola, pela igreja, impunha limites éticos, morais, relacionais. É claro que ninguém se submetia com total prazer às limitações impostas pelo sistema, mas temos que admitir que ele funcionava.
Acontece que os sistemas de freios foram se aprimorando conforme os veículos foram se desenvolvendo. Mas, os freios sociais foram abandonados pelos construtores da sociedade, tratados como item supérfluo e até mesmo indesejável. Assim, começaram a ser copiados os modelos sociais de povos em estado de desenvolvimento completamente diferente do nosso, mas, tidos como modelos mundiais. E esses modelos já estão dando sinais de mau funcionamento há tempos, embora continuem sendo largamente copiados, pra não dizer adorados.
Os carros passaram a usar sistemas de freios hidráulicos e recentemente, o ABS já é usado na maioria dos veículos, dando grande segurança nas frenagens, evitando alguns acidentes. Mas, na contramão dessa evolução, os freios sociais foram completamente abandonados, tratados agora, como coisa de gente atrasada.
Os jovens vão para as ruas, quebram tudo, jogam bombas e coquetel molotov na polícia e fica por isso mesmo. Os jovens, por não terem sido dotados de sistema de freio social individual, o qual deveria ter sido instalado na criança e testado com frequência, pegam os carrões potentes, com excelentes sistemas de freios, mas não o usam adequadamente, matando pessoas nos passeios públicos e se matando entre as ferragens retorcidas. Um sistema de freio social devia ter funcionado para evitar tais situações.
Concluo pois, que a indústria automobilística parece estar melhor capacitada para criar filhos e formar cidadãos, que as nossas famílias, nossas instituições, nosso Estado.

Seguindo o mesmo princípio que parece ter sido usado pelos desenvolvedores de veículos, não deveríamos aumentar a capacidade dos freios sociais, à medida que se desenvolve a capacidade de aceleração das pessoas? Sim. As pessoas a cada dia conseguem fazer as coisas mais rapidamente, com mais liberdade, com acessibilidade, com menos entraves. Quem quer correr, corre.Quem quer voar, voa. Mas, onde está o pedal de freio?

O que eles querem?


Estamos no meio de uma revolução. Isso não é novidade. Mas, que revolução é essa? Que pretendem os sujeitos dessas ações que temos presenciado recentemente, tais como quebradeiras, incêndios, depredações, furtos, danos, tudo isso debaixo dos olhos dos governantes, que e não sabem o que fazer. Na verdade, as pessoas que governam o Brasil jamais esperavam que algo parecido pudesse acontecer. Mas, está acontecendo. E está acontecendo de forma sistematizada.

Não é obra do acaso. Não é resultado de pressão momentânea. As pessoas estão se preparando, se armando e indo para a rua, descarregar seu ódio, sua insatisfação, sua bestialidade. Para isso, se misturam aos que se unem em torno de causas legítimas e usam de meios legítimos para manifestar seu descontentamento. São, pelo que se pode observar nas gravações, muitas delas postadas na Internet por eles mesmos, jovens saudáveis e capazes, que poderiam estar envolvidos na construção de um país mais justo, mas, que optaram pelo vandalismo, pela demonstração de força e pelo anonimato.

Entre nossos jovens há muitos que não aprenderam a ser cidadãos, preferindo cobrir o rosto com máscaras e agir como manda sua falta de educação. Sim, falta de educação, pois pessoas que receberam uma educação adequada, que tenham sido preparadas para pensar nas consequências de seus atos, não quebrariam o bem público, já que saberiam que o custo do conserto vai sair do seu próprio bolso.

E o que pedem, ainda que sem saber, esses que destroem o que seus pais pagam caro para existir?

Não pedem eles por um pai, por uma lei, por limites?

E o pior de tudo é que não temos limites. O Brasil de hoje é resultado de gerações forjadas sob um discurso que se repetiu nos últimos trinta anos. Um discurso que foi construido com base no desejo honesto de pais que não tiveram uma educação adequada para repassar a seus filhos e se deixaram influenciar pela “psicologia fast food” das receitas prontas compradas nas revistas como a tão lida Pais e Filhos. Quem não lembra?

E aí está o resultado. A figura do pai que impunha limites foi deposta, em favor de um pai amigo, que nunca dava um puxão de orelha, porque isso poderia traumatizar a criança. Por consequência natural, as instituições tiveram que se adaptar à mudança.

A mãe, que trazia em sua fala a lei do pai, ameaçando de punição o filho pretenso rebelde,  não existe mais, não ameaça mais.

Os filhos foram abandonados à sorte. E sorte é o que eles não estão tendo, pois, como era de se esperar, optam pelo caminho mais curto e que melhor atende aos seus desejos imediatos e sem qualquer noção de regra, de ética, de moral. Simplesmente dão vazão ao seu instinto, no sentido lato da palavra.

O Estado foi enfraquecido, ao ponto de não poder mais usar a força para conter os filhos alucinados dos pais desajustados. Ou seria o inverso? Nossos governantes continuam a fingir que governam. Continuam a aplicar toneladas de maquiagem sobre a cara suja da situação.

A igreja não exerce mais seu antigo papel regulador do comportamento das massas. A igreja mudou. Hoje está cheia de estelionatários, de profissionais da religião e de fieis de “meia tigela”, falsos seguidores de falsos líderes. Pura encenação. Dá pena ver.

Agora nos encontramos em uma situação desesperadora. Basta olhar para o futuro pra ver que a coisa não vai prestar. O que se pode esperar de um país que é e será governado por pessoas com tal formação moral?

O vôo será curto como o de Ícaro. A maquiagem certamente derreterá como a cera, ao sol da verdade que não se pode conter. Aliás, eis que já está se derretendo. E todos já estão vendo, uns mais e outros menos claramente, o quão feia é a cara desse lindo país, cujos paisanos nem sabem mesmo o que é ser um cidadão.

Faltou a essas crianças que brincam de quebrar tudo, uma mãe que lhes mostrasse os conceitos de certo e errado. Faltou-lhes e continua faltando um pai que lhes mostrasse o conceito de sociedade e de respeito ao outro. Falta-lhes uma sociedade organizada (o Estado, a Igreja, a Escola), capaz de lhes provar que é verdade o que lhes disseram sua mãe e seu pai.

Mas as mães não disseram, os pais não mostraram, a sociedade não quer respostas violentas... Pode traumatizar as crianças.