Compartilhe nosso conteúdo

Sem anonimato nos plenários... sem máscaras nas ruas.


Que queremos nós? Uma sociedade que se queira sustentar como tal,  pode permitir o anonimato de seus membros?

Em junho de 2013 milhares de brasileiros saíram às ruas e, aproveitando o momento em que todas as atenções estavam voltadas à realização da Copa das Confederações, inaugurações de estádios, etc,  com muito barulho, com até certa desorganização, justificável talvez pela falta de experiência, manifestaram insatisfação, indignação e, de certa forma, influenciaram grandes mudanças. Muitos despertaram para a possibilidade de que um grupo de pessoas organizado e com um objetivo comum é capaz de se aproximar mais facilmente de tal objetivo.
Mudanças significativas ocorreram desde então, em vários aspectos da vida política e social do Brasil. Ao mesmo tempo, pode-se observar que o mundo todo tem sofrido o mesmo tipo de influenciamento. Não só aqui, mas ao redor do planeta, as pessoas estão se dando conta de que essa forma de manifestação produz resultados.
Mas, há entre os idealistas de um mundo melhor, pessoas e grupos totalmente avessos à civilização, que tornam público seu desejo, sua pulsão irrefreada, a despeito do ideal coletivo e da coisa pública, que somente em parte lhes pertence. Se agrupam unicamente pela impunidade proporcionada pelo anonimato do grupo, onde ninguém mostra o rosto, onde ninguém se responsabiliza por qualquer prejuízo das ações, que ficam atribuídas ao grupo e não ao indivíduo.
Em agosto de 2013, a Câmara Federal brasileira permitiu, pelo voto secreto e pela abstenção injustificada, a permanência do mandato de um deputado condenado pelo STF a treze anos de prisão, por peculato e formação de quadrilha. Eles assim, declaram que aceitam entre si um condenado por atos completamente descondizentes com a função de um administrador público. Esses brasileiros não se mostram dignos do crédito que lhes foi dado pelo povo. Eles não representam, nem defendem os desejos das massas que os elegeram.
Na outra extremidade da organização social, vândalos também protegidos pelo anonimato das máscaras que lhes cobrem os rostos, partem para a violência gratuita contra as instituições, como se isso não lhes custasse absolutamente nada. Ignoram que o que destroem, sendo de todos, não é somente seu. Destroem sua parte, mas desrespeitam o desejo do outro, que talvez não deseje ter a sua parte destruída. Alguns, assim como os deputados que se abstiveram de votar, fecham os olhos e nada fazem para impedir o vandalismo. Inertes, apenas acusam os vândalos daquilo que está mais que evidente. Sua voz é inútil.

A civilização se mostra em crise, como já previa Freud em 1927, em seu celebre “O futuro de uma ilusão”. Tiraram o freio social representado pela figura paterna divinizada, mas nada foi posto em seu lugar. Daí, a pulsão ficou solta, descontrolada, sem qualquer limite. Isso pode ser delicioso, se observada somente a necessidade do indivíduo, que passa então a sofrer menos, quando menos tem que conter seus desejos naturais, mas transforma-se em uma verdadeira desgraça para a sociedade de indivíduos, que para garantir sua existência, precisa estabelecer limites à atuação de cada um. Há que se impor a moderação da ação individual, pelo bem da coletividade. E isso não se faz ofertando flores, nem livros. Sabemos todos o quanto é difícil conter nossos desejos mais íntimos, mais primitivos.

Só o medo da punição, pela exposição pública, nos inibe. Nem é tanto o caso de perdermos o direito à vida eterna no céu, mas, que DEUS tome conhecimento do que fizemos. Que DEUS nos veja nus, sem máscara e assim, possa nos identificar e mostrar a todos nossa verdadeira face, a qual lutamos tanto para manter escondida nos anonimatos cotidianos.