In form ação
Weverton Duarte Araújo
Hoje eu quero falar de economia. Na
verdade, quero falar de desperdício. Vou falar do desperdício enorme de
energia, de tempo, de capacidade produtiva que podemos perceber ao acessar as
redes sociais, especialmente o Facebook, que já está ficando chato e cansativo,
de tanta bobagem, de tanta inutilidade, de tanta má utilização de recursos, os
quais poderiam fazer diferença na vida de muitas pessoas ao nosso redor, se
usados de forma racional, inteligente e responsável.
Mas o que temos de fato, é uma legião
de zumbis viciados na repetição onanística dos incontáveis aplicativos
disponíveis, como crianças mal criadas, com muitos direitos e poucos deveres,
sem a menor noção do espaço que ocupam, sem respeito, sem educação mesmo.
A sociedade de consumo trouxe a
liberdade de expressão e as ferramentas necessárias para essa expressão estão
disponíveis a todos e a qualquer um. Mas as regras de utilização do espaço da
informação não foram estabelecidas.
Não podemos esperar que o mercado crie
regras de conduta, uma vez que isso seria papel de antigas instituições que já
não existem. Falo das instituições que outrora eram responsáveis pela formação
e manutenção dos valores morais. Falo da família, da igreja, da escola. Falo
desses redutos de disseminação valores que a sociedade mercantilista moderna precisa
sufocar e manter contidos para que as fábricas continuem a produzir, as lojas
se mantenham abertas e os consumidores tenham o que comprar. Não importa o
futuro do planeta, nem mesmo dos seus habitantes. O que importa é fabricar e
vender.
Pois a cada dia novas ferramentas de
comunicação são desenvolvidas. Isso é bom e poderia ser de grande utilidade.
Infelizmente nos falta saber como utilizá-las. Daí vivermos reféns do que o
mercado nos oferece. Nossos limites são estabelecidos por discursos cujas origens
e interesses jamais questionamos.
Nossa educação é determinada não por
conceitos sociais, mas por interesses comerciais. E não sabemos quem
define os limites, quais interesses os orientam. Apenas nos cabe curtir,
compartilhar e, raras vezes comentar.
Pensar é um verbo que está caindo em
desuso. O tempo que se gastaria pensando é melhor gasto - disse gasto e não
utilizado - em jogos digitais ou aprisionado na repetição de curtidas e
compartilhamento de informações que já vieram prontas e parecem boas - com
imagens fortes e o mínimo de texto. Pouco importa o conteúdo, a fonte ou a
veracidade.
Então gastamos desordenadamente o
nosso tempo, sem compromisso com o futuro do mundo, da sociedade que estamos
construindo para nossos filhos e netos. Procuramos apenas algum tipo de
satisfação da necessidade individual de pertencimento, de forma hedonista e
irresponsável.
É a economia da construção social
atual, que derruba paredes em nome da liberdade, mas não oferece substitutivo à
função protetiva que as paredes desempenhavam. Ficamos livres das limitações
sociais, mas completamente expostos e desprotegidos, presos a regras
desconhecidas, impostas por desconhecidos.
Nossas emissoras de rádio e TV e até
mesmo canais na Internet, se tornaram vitrines tão moralmente reprováveis
quanto as que expunham prostitutas em Amsterdam.
Sim. Tomemos os noticiários policiais,
tanto de rádio quanto de TV, que exploram a desgraça, o crime e a violência de
forma irresponsável, ao ponto de já estarem sendo alvo de protesto por parte de
alguns jornalistas e entidades, os quais não desejam que tais programas sejam
classificados como de cunho jornalístico. Ou seja, a própria classe já percebeu
o tamanho do desrespeito cometido por esses pseudojornalistas, não só contra a
profissão de jornalista, mas também contra os direitos humanos e contra
diversas leis do país.
Humoristas de gosto duvidoso apelam
para a exploração de situações escandalosas, travestida de jornalismo.
Levando-se em conta o nível intelectual de boa parcela do nosso povo, é
possível perceber a clara manipulação dos meios de comunicação, não para fins
de informação, mas para a "idiotização" das massas.
Infelizmente, nosso povo adora a
chamada cultura inútil, o que dá grande audiência a esses
"pinga-sangue", que guardam suas origens num passado não tão próximo,
se considerarmos clássicos como Jacinto Figueira Junior, o homem do sapato
branco, que já usava tais recursos desde os anos 60 do século passado. Mas a
coisa tem saído do controle. Os caras não observam mais qualquer limite ético
ou moral. Expõem cenas brutais e situações de violência e mais que isso,
estimulam à violência.
Os meios de comunicação no Brasil se
tornaram, assim como tudo o mais, meros palanques eleitorais, vendendo imagens
falsas e criando ícones a partir de pessoas visivelmente descomprometidas com a
verdade, com o jornalismo ou com a política. Basta buscarmos a quantidade de
vereadores e deputados eleitos unicamente por terem se tornado conhecidos após
se tornarem apresentadores dessas resenhas policiais vespertinas,
principalmente. São muitos e quase todos se mostram políticos inúteis.
Alguns grupos como o ANDI e o
INTERVOZES tem se posicionado em defesa de uma efetiva democratização da
comunicação no Brasil. Mas precisamos todos nós, cidadãos desta república,
atentarmos para a gravidade dos fatos e nos posicionarmos com firmeza enquanto
algo pode ser feito. Cabe a cada um de nós, fazer!!!