Todos
esperando uma manifestação de alguém, que possa nos dar uma
centelha de esperança em dias melhores, pessoas melhores, relações
melhores.
É
assim que nos encontramos agora. E pasmemos, é assim que nos
encontramos desde sempre. Até parece que é assim que somos e que
não há outra forma de sermos, de agirmos.
Pois
falemos dos últimos acontecimentos no Brasil. Falemos da assim
intitulada greve dos caminhoneiros, que agora leva a má fama de
responsável por todas as desgraças que nos sobrevierem nos próximos
tempos.
Hoje
pela manhã, um jornalista conhecido e que não julgo digno de ser
chamado ao nosso convívio reflexivo, lá de sua alienada e alienante
redoma global, após mostradas algumas imagens que todos já estão
saturados de ver, repetiu o que ele mesmo vem dizendo há dias. Disse
o infame, em palavras outras, mas que em suma, nada mais procuram que
engrossar a já densa cortina de fumaça produzida pelos que são
pagos para clarear as coisas: … blablabla e os efeitos da greve dos
caminhoneiros foram e estão sendo sentidos no desaquecimento da
economia, que vai ainda demorar a se recuperar... blablabla...
Bom,
o cadavérico e mal embalsamado boneco de ventriloquismo ousa
ostentar a empáfia de, num passe de mágica midiática, encontrar
culpados para algo que nem mesmo temos a capacidade de definir,
tentando assim livrar a cara de seus patrões, os que bancam a já
citada cortina de fumaça.
Outras
vezes já me manifestei aqui acerca da função precípua da
imprensa, a qual tem sido frequentemente preterida pelos que mais a
deviam defender.
Mas
não é esse o nosso assunto de hoje. Hoje falamos de caminhoneiros,
que podem e devem dirigir seus caminhões, ou não dirigir, se não
se sentirem devidamente remunerados, ou se entenderem que há algum
erro na taxação do frete, ou dos pedágios, ou do combustível.
E
há os donos de transportadoras, que podem e devem gerir suas
empresas com vistas ao lucro, pois vivemos sob um regime capitalista.
As empresas precisam lucrar, para que a coisa funcione.
E
há os servidores públicos eleitos para administrar todo o nosso
gigante adormecido, que mais parece entorpecido, babando e roncando
que está, pois esses que nos deviam proteger, nos cuidar, mas pelo
contrário, pois sabem bem que nada lhes cobraremos, nos usurpam, nos
fraudam, nos furtam a cada piscada de olhos.
Mas
ainda isso não nos move a mudar as coisas. Somos como que fantoches,
alienados ao modelo imposto, que nos inebria como o álcool, não o
que faz funcionar alguns motores, mas o que compõe o absinto que parece termos bebido.
Estamos como jovens em uma “rave”, alucinando, gozando, cagando e
andando para a realidade.
E
depois vem o velho repórter dizer que toda a culpa dos crimes, pelas
mortes e pelas abusos de drogas nas “raves” é dos motoristas dos
carros que levam as drogas para serem consumidas lá.
O
que tem uma coisa com a outra? Tudo. Enquanto se responsabiliza quem
interrompe uma parte do processo, não se olha para o processo
inteiro. Assim o mostra Kafka. Assim o mostra Nietzsche. Assim
podemos ver, se não nos impedirem os que manipulam as informações
e se não nos entregarmos à tentação de não pensar, de engolir o
que eles nos tentam empurrar goela abaixo, a fim de defender a
manutenção de sua estrutura, da qual somos meras engrenagens.