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Tributo ao corpo de Elisa

Alma lisa, corpo estúdio.


Sua alma se foi, não se vê, não se sente. Só seu corpo insiste em se fazer presente.
Seu corpo, que sem querer lhe deram sem você pedir, pois você não nasceu do amor, nem teve infância. Você nasceu para a dor e foi criada para a ganância. Não lhe ensinaram a amar seu corpo, mas fazê-lo amado. E assim você fez de si um corpo ferramenta, um corpo arma.
Seu corpo você deu a quem pediu, emprestou, alugou, vendeu. Em fotos, em filmes, jornais, revistas, cartazes e outdoors. Seu corpo serviu para alimentar desejos e até dar vida.
Da vida dada, outro corpo a ser usado. O usaram e vão continuar usando. Eis que a ganância orientou a guerra, a ameaça, a extorsão e a loucura.
Um dia tiraram seu corpo de cena. Não mais o vemos nem sabemos se vive como nós. Mas não importa. A lembrança dele, a busca por ele sustentam as ameaças e os processos, os flashes, as promoções pessoais e a venda de jornais. Seu corpo enriqueceu alguns, empobreceu outros. Deu fama e poder, cargos e lucros. Encarcerou, matou, destruiu, espalhou desgraça e dor.
Mas vem a noite e seu corpo habita o imaginário e a lembrança de muitos. Incomoda, assusta, aterroriza talvez. Seu corpo permanece presente. A cada ossada encontrada o suspense se estabelece: pode ser seu o corpo que aparece. Fantasma de uns, tesouro de outros.
Mentem, desdizem, inventam histórias, dizem se lembrar de onde está, mas logo se vê que era só busca de novas glórias. Onde andará seu corpo agora? Nenhum cão o devorou. Não virou fumaça. Você passou, mas seu corpo não passa.

Desproporcional

Israel e Brasil são países muito diferentes. A desproporção é perceptível em qualquer comparação que se faça.
O Brasil é um país habitado por um povo que, embora possa ser considerado pouco instruído e até mesmo bobo, por permitir desmandos internos e até por manter uma violência interna sem igual. Israel educa seu povo e o governa de modo que são gratos e fieis ao Estado.
Sim, há uma enorme desproporção ao se compararem os dois povos, seus valores e éticas.
A ética do povo brasileiro é corrompida em sua origem. Somos um povo sem caráter, sem respeito mútuo. A maioria de nós é adepta da “lei de Gerson”, quer levar vantagem em tudo. Aliamo-nos com os grandes e fortes, dando-lhes o que querem de nós sem questionar, pois nos vemos como fracos e inferiores. Submetemo-nos em troca de qualquer promessa de vantagem, mesmo sabendo que seremos explorados. Sugamos o nosso próprio sangue para oferecer ao explorador com sotaque diferente. Não valorizamos nossa língua, falada em 9 países por quase 300 milhões de pessoas. Antes, deturpamo-la com a inserção de termos estrangeiros.
A ética do povo israelita é da mesma forma corrompida desde a origem. Mas eles, ao contrário de nós, se prezam como povo, amam a ideia de serem uma nação. Eles lutam pelos seus e se percebem diferentes do resto do mundo. Acreditam mesmo que são escolhidos para dominar e buscam isso a qualquer custo. Aliam-se com os grandes e fortes, dos quais usam o poder para o próprio objetivo. Não se deixam explorar. Pelo contrário, são os maiores agiotas do planeta. Preservam e respeitam seu idioma, que só eles falam.
O Brasil vive em plena harmonia com seus vizinhos, resolvendo as eventuais disputas internacionais através do diálogo e de meios pacíficos de negociação. Já Israel, historicamente pode ser reconhecido como um povo que se apropria das terras alheias, mata, subjuga e vive em guerra com os vizinhos. É um povo belicista por excelência. Povo que não leva desaforo pra casa, antes pelo contrário, explode quem o agride.
O Brasil é um dos maiores territórios do planeta, desde 1822 reconhecido como nação independente, não se envolvendo em guerras, salvo o justo caso de 1864, contra o Paraguay. Israel, estabelecido com o apoio do Brasil em 1948, ou os Hebreus de 4000 anos atrás, se confundem pelas mesmas práticas: sanguinários, genocidas, usurpadores de terras, nunca se contentam com o que já possuem. Tomam o do vizinho.

O Brasil é grato até ao seu maior colonizador, com quem mantém relações de amizade e respeito. Israel é ingrato até com quem apoiou seu estabelecimento como nação. Povo que não sabe ouvir críticas e as rebate com dureza e desrespeito.

De improviso em improviso.

     Nada pode ser levado a sério neste país. Nem as leis, nem os homens que as fazem. A palavra de um homem nunca teve tão pouco valor como se vê na administração pública brasileira.
     Houve tempos de quintais, quando a palavra dada valia mais que a própria vida. Desonra seria ter que assumir o não poder cumprir com o combinado. Mas coisas mudaram. Não se valoriza mais o que foi dito, nem mesmo o que foi escrito e assinado. As leis são criadas conforme interesses de grupos dominantes, não do interesse da maioria, como deveria se esperar de um regime democrático, que tanto nos vangloriamos de viver.
     As coisas todas giram ao redor de circunstâncias altamente voláteis. Não se pode afirmar que o que valia ontem ainda esteja em vigor amanhã. Da mesma forma, os compromissos não são cumpridos, como se isso fosse coisa normal.
     Isso tudo se dá pelo fato de vivermos em uma sociedade de valores deturpados, onde governos substituem governos, mas não há um projeto sequer, não há programação. As coisas acontecem por improvisos e improvisos. Vivemos arriscando vidas pra ver no que dá. Se der, deu. Se não der, paciência.
     Assim é na política, assim é no futebol. Da mesma forma desorganizada, improvisando e experimentando, apostando em heróis e idiotas dispostos a se expor à sorte. Assim se constroem nossos objetivos, nossos projetos, nossos sonhos, a toque de caixa, sem previsão, sem inteligência. O resultado é um país de mentiras, cheio de bacharéis analfabetos funcionais, representados por palhaços analfabetos e líderes religiosos extremistas. Nossa seleção de futebol é montada na última hora e os atletas são estrelinhas tatuadas e com cabelos estranhos, escolhidas pelos patrocinadores, sem respeito à meritocracia.
     Não havia como ser diferente. Os resultados aí estão. Não bastasse o vexame inexplicável no futebol, temos que engolir a violência típica da carência de educação e os acidentes próprios da má formação profissional e da pressa para dar conta dos prazos, sempre vencidos.
     Para chancelar a tragédia, os responsáveis declaram calmamente que isso é assim mesmo. Quando não há previsão de punição, assumem a responsabilidade e dizem que tudo é válido para aprendizagem, mas quando há, apenas culpam a fatalidade, dizem que acidentes acontecem.


Caiu um viaduto, começa a caça às bruxas.

Despencou o viaduto, antes mesmo de ficar pronto. O prefeito disse que isso é normal. Talvez seja. Afinal, acidentes acontecem sim, todos os dias em todos os lugares.
Pessoas morrem como morreu a jovem motorista, que alguns insistem em querer transformar em heroína, nesses primeiros momentos de dor e de perda. Também a prefeitura de Belo Horizonte exagerou na dose, tentando aplacar a má repercussão do caso, decretando luto e cancelando todos os eventos festivos previstos, relacionados com a Copa do Mundo de Futebol. Normal.
Não é normal, nem aceitável, que pessoas sem escrúpulo se aproveitem de um acidente, tenha ele as causas que tiver, para promover suas posições e atacar seus opositores, num total desrespeito à opinião pública e ainda mais, às vítimas e seus familiares.
Não é normal, nem aceitável, que em menos de 24 horas, tantos “peritos” tenham se manifestado. Até se divulgou que a FIFA está preocupada, dando início a especulações sem fim. Isso é que não é normal. Políticos e seus seguidores se manifestando, acusando o PT, a Dilma e o Lula de serem os responsáveis pelo acidente.
Até em CPI municipal se falou, como se uma cambada de vereadores, boa parte deles desqualificados até para ler ou escrever um texto simples, fosse capaz de investigar alguma coisa. Nem o que lhes cabe fazer eles fazem a contento. É claro que não passou de mais uma bravata oportunista, pois eles já até entraram em recesso.
Nas redes sociais, apaixonados inconsequentes já derramaram acusações mil, sem a menor preocupação com os fatos em si. E os fatos são claros. É óbvio que houve um erro lá e que isso causou o acidente e as mortes.
Não será criando um tribunal popular virtual para cada situação, nem propondo manifestações para cada erro que resolveremos as coisas. É muito fácil incendiar as redes sociais, propor manifestações e ficar escondido atrás dos teclados.
O processo de democratização que temos experimentado é maravilhoso. De tal forma, que as pessoas podem se perder e estão se perdendo diante de tantas possibilidades de manifestação à disposição. Mas precisamos nos lembrar do velho dito popular: Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Há muito o que se mudar em nossa sociedade adolescente, quase infantil em seus atos.
Liberdade implica em responsabilidade. Isso não podemos esquecer, antes de sairmos atirando pedras em qualquer direção, como se fôssemos incapazes de errar. Amanhã essas mesmas pedras podem vir em nossa direção.