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As novas moscas azuis.

Centenas vinte e uma se arrastaram
de anos de labuta em vã procura
que tantos homens bons a si mataram
sem conseguir ao mal trazer a cura.
De tanto se esforçar se arrebentaram
sem ver a causa da própria loucura.

Como o insano "rei" que diz Machado...
movido pela vil excentricidade
e pelo torpe amor a seu império
já não se importa em ser tido por louco
espreme entre os dedos o belo achado
dá fim precoce à suma raridade
sufoca a mosca azul e seu mistério
e fecha a porta a tudo por tão pouco

Assim, o mundo e eu e todos nós
sem nos ater ao que mesmo interessa...
pra dentro e só pra dentro enfitamos.
Por fim, no fundo o breu e estamos sós
não nos valeu correr, viver em pressa...
pois nos perdemos em crer que lucramos.

Buscamos não o bem, mas sua forma.
Pra que ser?  Nos importava o parecer...
até que ninguém mais nos suportasse,
de tanto nossa falsidade conhecer.
Já que em ouro a mica não transforma
ainda que se burilasse a não mais poder...
e mesmo assim nenhum de nós parasse
na ânsia louca de parecer mais ter.

Barbosa até se envergonhou de ser honesto
Aos moços ora, implora por virtude
que não sejam silentes, mas se irem sabiamente
pra não deixar prosperar as maldades.
E eu de cá repito meu lúgubre canto infesto
e já com o peito abarrotado de inquietude
Pois não há  Ruis e Assis ultimamente
Nem há quem queira ouvir as verdades.

Weverton Duarte Araújo

A força oculta do discurso

Por discurso se pode entender uma forma organizada de se apresentar uma ideia. Um discurso pode ser um texto que alguém apresenta a um determinado público, a fim de manifestar seus sentimentos, interesses e desejos. Mas o conceito pode abarcar uma extensão muito maior de sentidos. Assim, podemos dizer que o discurso de uma sociedade abrange toda uma infinidade de pressupostos, dogmas e códigos morais, com a finalidade de dar sustentação à sobrevivência daquele grupo de pessoas.
Foucault nos ensina que o discurso tem em uma sociedade a função de controlar, selecionar e organizar, pela via de processos de exclusão e interdição as possibilidades de manifestação dos sujeitos enquanto seus membros, revelando assim o estado de permanente tensão entre os discursos dos indivíduos com o discurso da sociedade. As instituições das quais a sociedade se utiliza para ratificar seu discurso se encarregam de estabelecer os sistemas de averbação da voz do indivíduo, permitindo-lhe ou negando-lhe acesso ao direito de ter seu discurso acolhido, reconhecido como portador de valor.
Isso por sua vez, revela o vínculo do discurso com o desejo e com o poder. Foucault evoca ainda o discurso da Psicanálise para afirmar que “o discurso não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo, mas também é aquilo que é o objeto do desejo. O discurso não é somente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo pelo que se luta, o poder do qual queremos nos apoderar”.
Então, um discurso não apenas relata, explica, expõe, mas, traz em seu cerne, mesmo que na maioria das vezes de forma deliberadamente oculta, uma intencionalidade, um conteúdo ideológico o qual pretende transmitir juntamente com seu relato, sua explicação, sua exposição. 
Essa intencionalidade, ouso afirmar, é aquela que ferirá de morte o sujeito em sua essência, a partir do momento em que o prender em suas malhas ocultas sob o denso nevoeiro da manipulação consciente e direcionada das ferramentas metalinguísticas em desfavor da semântica, que enfatizam o código em detrimento do conteúdo com o intuito claro de não ser claro, mas, obscurecer para confundir e assim atingir com menos resistência seus objetivos.

Policiais grevistas no ES: Covardes e perjuros.

   



Se você discorda da Lei, lute para mudá-la. Mas, enquanto essa Lei vigorar, cumpra-a. Se não for assim, quando a Lei estiver a seu gosto, os que dela discordarem não se verão obrigados a cumpri-la.
Se você estiver em uma situação de risco, é justo colocar sua família à sua frente para livrar sua pele? É adequado jogar a opinião pública contra sua família baseado na desculpa esfarrapada de que seus direitos trabalhistas não estão sendo respeitados? E para encerrar: É lícito, ético, moralmente justificável, abandonar à deriva, entregar nas mãos das feras a sociedade à qual você jurou lealdade, jurou proteger ao custo da própria vida?
O pouco conhecido poeta Natalino Gomes da Silva teria dito: "Policiais militares, pretorianos, homens treinados, preparados para missão. Honrar seu juramento é sua meta, cuidar e defender a sociedade é seu objetivo".
Pois os policiais militares do Espírito Santo, numa demonstração de total falta de respeito para com os cidadãos de bem de seu Estado, os quais são quem em última análise, pagam seus salários. Agiram de forma nojenta, cruel, irresponsável e covarde. Lançaram mão de um recurso inadmissível, rebaixando-se ao nível dos governantes que mal e porcamente os administram.
Impedidos pelo regulamento, ao qual um dia se obrigaram de livre e espontânea vontade, burlaram-no assim mesmo, ocultando-se à sombra de suas mulheres e seus filhos, os quais "bloquearam" as saídas dos batalhões para evitar que as viaturas saíssem para o trabalho.
Ora, se for assim, que polícia é essa? Se meia dúzia de mulheres e filhos dos bandidos "bloquearem" a saída dos quartéis da PM espírito-santense, o restante da população estará entregue à sorte? Que braço armado do Estado é esse, que se acovarda diante dos embaraços sabidamente inerentes ao servidor público no Brasil, ombreando-se aos milicianos e mafiosos que optam pelo "ordo ab chao", ou seja, crie o caos para se oferecer como solução?
O povo do Espírito Santo não merece tal tratamento por parte de quem devia morrer em sua defesa, já que, voluntariamente optou por ser policial e se submeter às agruras típicas do ofício, que deveria observar como um sacerdócio.
São um bando de covardes que, assim que o Exército e a Força Nacional restaurarem a sensação de segurança, enfiarão o rabo entre as pernas e voltarão a seus postos, onde continuarão a exercer as arbitrariedades costumeiras, a achacar comerciantes e turistas incautos.
E suas esposas e filhos, poderão se orgulhar de ter contribuído para absolutamente nada de útil. Pelo contrário, serão lembrados como os que fecharam as portas dos quartéis para alí conter a polícia e abriram as portas da cidade aos bandidos.

Morreu Mariza Leticia Lula, perdemos o quê?

Embora eu já tenha atravessado meio século de vida, perdi poucas pessoas pelo caminho. Isso me torna um pouco suspeito para me manifestar sobre a perda de entes queridos. Creio também, pelo mesmo motivo, que não sou exatamente habilitado a oferecer opinião, ou mesmo comentar a manifestação pública de alguém que se viu privado de uma pessoa que amou e com quem conviveu por longos anos, como fez o viúvo Luiz Inácio. 

Acho que seria um grande desrespeito de minha parte, se me arvorasse de alguma suposição de saber, de qualquer suporte epistemológico para parolar nefastas bazófias, como se pode lamentavelmente colher aos borbotões Internet a dentro, face ao recente padecimento e expiração de uma cidadã brasileira, segundo o que há de provado até o presente, em nada prejudicou quem quer que seja, assim como seu enlutado marido, do qual as incontestáveis provas existentes nos anais da história, excluindo-se obviamente o palanfrório leviano que hodiernamente em lei se torna, da mesma forma nada testemunham.

Patavinas!!!  Pois é que há, ao alcance de todos, como sabiamente classifica o filósofo Leandro Karnal, muitos que tornam pública sua condição desumanizada ao exibir seu sentimento de "felicidade" com a morte de alguém. Parece que essas pessoas adoeceram de tal forma que, a exemplo de um célebre juiz de primeira instância paranaense, incapazes de fugir à tentação midiática, que não conseguem discernir entre o razoável e o inadequado e ficar caladas, nem mesmo diante de um momento em que qualquer boçal percebe ser inconteste a necessidade de comedimento,  respeito e silêncio.

Estamos pois, rodeados de zumbis narcisistas. Necrófilos, como alertou Leonardo Boff em artigo recente, os quais gozam onanisticamente num solilóquio de escárnio e aridez, expondo a própria necrose, já que, segundo dito atribuído ao Papa Francisco, aquele que comemora a morte de alguém, atesta a própria morte.

Pois, se perdemos alguma coisa com a morte da ex-primeira-dama, não deve ter sido a oportunidade de provar a capacidade que temos, de ser insensíveis, ingratos, maledicentes e desumanos. Isso é certo... e doloroso.