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Intolerância e violência. Marcas de nossos dias.

O paradoxo da tolerância é uma formulação que requer esforço das mentes menos preparadas para pensar. Nele, o pensador Karl Popper em seu livro The Open Society and Its Enemies, afirma que a tolerância sem limites leva ao extermínio da própria tolerância. Ou seja, ele quis dizer, e disse, que não devemos tolerar tudo, inclusive os intolerantes, posto que esses, sendo tolerados ilimitadamente, farão com que desapareçam os tolerantes e a própria tolerância.

Desse modo, podemos pensar que os intolerantes precisam ser contidos, pelo bem da sobrevivência da civilização, que a intolerância ameaça. Não é difícil aceitar tal proposição, se nos ativermos aos fatos assustadores que o Brasil tem presenciado nos últimos tempos, quando a evolução da sociedade, proporcionada pelo maior acesso à educação e aos meios de comunicação, tornou evidentes algumas diferenças, que antes, eram sufocadas, ou simplesmente relegadas à marginalidade, de onde raramente tinham suas indefesas vozes ouvidas.

Em outubro de 2022, quando poderíamos estar comemorando grandes avanços tecnológicos alcançados pela humanidade, o que vemos? Intolerância generalizada por todos os lados.

E não falo do Brasil, apenas, mas do planeta como um todo. Mas, fiquemos só por aqui, que já é muito. Vamos aos fatos…

Que tipo de intolerância nos assusta, ou deveria nos assustar neste momento?

O cantor negro reconhecido nacionalmente, não somente por sua voz inconfundível, mas por sua história de vida e de sua capacidade de reagir às adversidades, foi vitimado pela incapacidade de parte de nossa população em lidar com as diferenças. Ao deixar claro seu posicionamento político, foi chamado de macaco e vaiado por um grupo que gritava mito, mito.

Da mesma forma, intolerantes extremistas mancharam no dia 12, uma das maiores festas católicas no Brasil (o dia da padroeira), com atos de vandalismo e violência, agredindo trabalhadores da imprensa local e tentando impedir o curso normal da programação oficial do evento.

Os debates públicos na TV entre os candidatos à presidência apresentaram um show de horrores, uma falta de respeito com a inteligência dos espectadores. Mentiras deslavadas de um lado e despreparo emocional do outro. A partir daí, nos dias seguintes, o que se viu foi uma guerra de narrativas completamente vazias de proposta para a administração do país. Precisamos entender que o problema ultrapassa a disputa eleitoral que se encerra em 30 de outubro.

Os governadores, deputados e senadores eleitos no dia 2, refletem o tamanho da incapacidade desse povo, de escolher com coerência seus representantes.

Continuamos elegendo para o legislativo, jogadores de futebol, artistas polêmicos, líderes religiosos, comunicadores em geral e representantes de grupos étnicos, sociais e comerciais. Não se percebe aí a intenção de promover igualdade de direitos para todos, mas, quando muito, de buscar marcar espaço para seu pensamento, ou sua demanda específica e particular. Dentre essas pessoas, eleitas para nos representar, muitos são analfabetos funcionais, ou não possuem uma formação mínima, que os habilite a minimamente, conhecer a história do Brasil e do mundo, ou as ciências em geral. Muitos, nem ao menos conseguem se comunicar na forma padrão, ou conhecem a legislação brasileira. É uma lástima, um atraso de anos e anos, com consequências lastimáveis e irreparáveis.

Nosso povo, em sua grande maioria, infelizmente, não recebeu educação suficiente para discernir entre os sentimentos envolvidos em grupos de torcedores por equipes de futebol (que frequentemente exibe cenas da mais pura brutalidade), grupos que defendem posições políticas antagônicas e grupos religiosos com percepções distintas.

Esses três tipos de agrupamento de pessoas, que deveriam ter pontos de vista, discursos e atitudes marcadamente distanciados, estão agindo da mesma forma. E de uma forma que não deveria existir em nenhum deles.

O jogador de futebol que está sendo processado por sonegação de impostos e fraude processual, apoia o candidato que chama o opositor de ladrão; o cantor evangélico que diz defender os princípios bíblicos, inventa e publica uma farsa que não consegue sustentar por dois dias; o senador eleito, acusado de parcialidade no exercício da magistratura, adere à campanha do candidato que há pouco chamou de ladrão e corrupto, numa clara intenção de se autopromover. E a cereja do bolo: o ex-deputado armamentista, processado pelo STF por afrontar publicamente as instituições democráticas, tendo sua prisão domiciliar revogada, recebe a Polícia Federal com tiros de fuzil e lança granadas sobre a viatura, ferindo dois policiais.

Lamentavelmente, a oposição ao atual governo (que se propõe como solução aos atuais problemas), numa atitude desesperada e que sugere despreparo, também está usando as armas usadas pelo adversário, quais sejam, a mentira e a disseminação de informações claramente focadas na intenção de plantar a dúvida no eleitor.

Engana-se, quem imaginar que a solução está na eleição de Lula ou Bolsonaro.

O ódio pelo diferente, a discriminação do dissonante e a intolerância a tudo que não seja espelho, são marcas do “modus operandi” dos nossos tempos, não só de jovens afoitos, de centro, esquerda ou direita, mas de velhos alucinados, mulheres desequilibradas e crianças sem limites. Isso nos leva de volta ao estado de barbárie, provando que a civilização não tem atingido o objetivo a que se propôs.

Os pedófilos (de ambos os sexos e todas as idades), os assassinos (homens e mulheres, pobres e ricos, famosos e anônimos) e os ladrões (que roubam um celular ou pagam por mansões em dinheiro vivo), estão circulando e se proliferando livremente.

Atribui-se a Nicolau Maquiavel a afirmação de que "os preconceitos têm raízes mais profundas que os princípios". Assim sendo, podemos identificar em nós mesmos, as origens arcaicas de nossas crenças equivocadas e buscar transformá-las. Da mesma forma, urge identificar aquilo que não podemos aceitar no comportamento da sociedade que compomos e fazer com que alguma mudança ocorra.

A intolerância e a violência, em todas as suas formas, precisam ser contidas, rechaçadas e não toleradas, se desejamos que a civilização prevaleça à barbárie.

Darcy Ribeiro pode nos servir como modelo de atitude diante da atual situação, quando disse que "só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.

Agora é com você...

Véspera de eleição.

Véspera de eleição.

Amanhã logo cedo, ou na hora que for mais adequada, levarei minha contribuição à urna, com uma intenção clara em mente: eu preciso fazer algo pelo país, por Minas e pela cidade onde moro. Eu, como membro dessa república, tendo em vista os princípios republicanos que eu tenho a obrigação de conhecer e que devem reger meu agir, tenho a obrigação moral de opinar de forma séria e responsável, ciente dos efeitos que meu voto pode trazer. 
A melhor forma de cumprir esse papel, de modo a correr menos risco de me arrepender, é olhando para trás, analisando o passado dos candidatos, seus feitos pessoais e suas participações em feitos coletivos. Também devo olhar para o presente e ver com quem eles andam hoje e o que fazem, quem apoiam e com quem se aliam.
Mais ainda, devo olhar para o futuro, já que minhas escolhas farão efeito lá. Essas pessoas vão me representar por algum tempo e não é fácil tirá-las de lá se a escolha não for boa.
A história (não as narrativas apaixonadas e tendenciosas) pode me ajudar a discernir entre homens dignos e vermes oportunistas.
Amanhã,  bem cedinho, na primeira oportunidade, vou depositar meu voto de confiança em algumas pessoas que pensam parecido com o que eu penso, para me representarem. Não a fim de atender os meus anseios particulares, ou de um certo grupo do qual participo. Vou tentar eleger pessoas interessadas no bem comum; vou tentar eleger pessoas focadas na maioria e não em interesses de grupos específicos.
Depois de amanhã, eu e todos nós, devemos respeitar a escolha da maioria. Isso é o que precisa acontecer em uma república democrática.

Weverton Duarte Araújo.

Bravateiro eu


O motorneiro gritava 
bom dia e o bonde ia
para onde não se sabia
se descia ou subia
a algum lugar me levava 

E a lava 
que do meu vulcão escorria
por meu corpo todo ardia
e eu chorando, ria
pois meu fogo não se apagava

Se aquietava
logo ressurgia
boa noite então dizia
e fingia que dormia
mas, louco, se levantava

Como era bom como estava 
nesse tempo de alegria
que o menino não sofria
pois olhava e nada via
o tempo ali não passava.

Cada dia de outono

 

Cada dia de outono

Weverton Duarte Araújo

 

Cinzento inicia ruidoso

Assim percebo chegar

Do nada, insiste em voltar

Agourento dia teimoso

 

Diz que não vai demorar

Inocente, outra vez acredito

Até me cansar do maldito

 

Demora sim, com calor desditoso

E é sem-fim, sem hora de acabar

 

Outra vez não, senão vira moda

Um dia assim tão sem prazer 

Tudo fica ruim ter que fazer

O menor movimento incomoda

No calor infernal de onde habito

Ou me mudo daqui, ou louco vou ficar.

Primeiros efeitos imediatos...

Bem.... não é o caso de sermos pessimistas, mas realistas, pé no chão e olhos abertos.

Daí, que já podemos observar as pequenas reações, com não tão pequenos efeitos, advindas do ato presidencial, aclamado por muitos e abominado por outros tantos.

Não estou aqui para demonizar Bolsonaro, posto que ele dispensa ajuda para tal feito, já que por si mesmo, coloca em crescente descrédito a própria imagem, dia após dia, ato intempestivo após ato temerário.

O que me instiga a retomar o assunto é  o movimento, cada vez mais claro, em direção à crise institucional, essa sim, receptora cotidiana dos investimentos de sua excelência, o chefe do Executivo, quando, por exemplo, faz ataque direto e desnecessário ao Juduciário, o qual não consegue corromper como, à luz do dia, silencia a parcela do Legislativo que se oferece à corrupção (nenhuma novidade).

Antes que me sobrevenha a precipitação lítica, já faço a necessária declaração de ciência que todos os que se aventuram pela senda do exercício filosófico deveriam fazer: sei muito bem que os governos anteriores se corromperam, ou se aliaram a corruptos. Todos nós  sabemos. Sei que não existe salvador da pátria e não estou aqui para defender nenhum nome para nenhum cargo. 

Meu convite é, e sempre foi, à reflexão, ao bom senso. Se isso me torna um comunista comedor de criancinhas no café da manhã, um esquerdopata que deseja mudar a cor da nossa bandeira, um ateu defensor do aborto, defensor das aberrações sexuais e sei lá mais que tantas ofensas já ouvi, não posso fazer absolutamente nada, pois tais adjetivações estarão vindo de uma leitura desconexa da minha proposta. Aí já entramos no campo da incompatibilidade entre o desejo de produzir reflexão e a incapacidade de refletir.

Pois bem.. Mal foi editado o decreto presidencial, já podemos perceber suas primeiras consequências negativas. Por exemplo, o inepto ex-presidente da Fundação Palmares (entidade completamente descaracterizada pela ação estratégica de se colocar o lobo para cuidar do galinheiro, coisa que se repetiu por exemplo, na mina de ouro sem dono, chamada Ministério da Educação), já  mostrou a que vem e para onde vai, incitando em rede social, o desrespeito ao STF e inclusive citando o presidente da república como possível defensor de quem venha a se complicar com isso.

Também um general da reserva, associado de um "clube militar", em consonância com outros clubes militares brasil afora, trata publicamente, com palavras desrespeitosas (inadequadas ao que se espera dos militares, enquanto defensores da patria), o ícone do STF.

O próprio presidente de república, já se pronunciou ameaçando desobedecer decisão do STF, caso este aprove a revisão do marco temporal referente à demarcação das terras indígenas, o que seria desfavorável ao agronegócio, forte patrocinador de sua excelência. 

Eis, em suma, as primeiras consequências observáveis, como desdobramento de um ato que, à primeira vista, parecia mera intempestividade. Não. Claro que não. O processo de investimento proposital na deterioração das relações entre os Poderes está em movimento constante e não vai parar por aí. E sabemos que toda ação provoca reações.

Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, que não fique de boca aberta.

 

    


"Ordo ab chao" tupiniquim.

    Se você acompanha minhas inquietações cotidianas, vai lembrar que já falamos sobre os perigos da instabilidade jurídica, da instabilidade institucional, no âmbito de uma república. Relembremos...  

   Eis que, pouco tempo atrás, compartilhamos com nossos leitores nossa preocupação com o sistemático investimento de certa parcela da nossa elite política, na desmoralização das instituições da república. Que intenções haveria por trás dessa atitude, que aparenta não fazer sentido?

    Ora, nós que não somos crianças, que vivemos no período da ditadura militar, ou mesmo os que não experimentaram de per si, mas que estudaram a verdadeira história do que nos ocorreu de 1964 até os dias atuais, temos elementos suficientes para saber como funcionam os métodos dos militares para atingir seus objetivos.

    E sabemos que o atual ocupante da presidência da República, não esconde sua predileção pelo autoritarismo, como mais uma vez demonstrou, ao afrontar intempestivamente o STF, decretando sumariamente a ineficácia da decisão daquela corte contra o deputado federal Daniel Silveira, mesmo antes do trânsito em julgado da sentença, o que parece atitude impensada, mas certamente não o é. Isso mais parece arapuca.

    Ao que parece, a ideia é provocar o STF a entrar na briga pelo cumprimento da sentença, voltando à situação de instabilidade institucional que reinou em 2021. Isso seria um prato cheio, para o projeto golpista que, não nos iludamos, não foi abandonado. 

    É conhecida a tática de guerra atribuída ao governante romano Julio Cesar, "dividir para dominar". Sim, essa parece ser a estratégia utilizada pelo déspota atual. Dividir a oposição, enfraquecer a imagem do adversário, infiltrar elementos nocivos e confundir a opinião pública.  Eis o método em utilização, às vésperas das eleições, que já  se sabe, ele pretende avacalhar o quanto puder, já que a oposição tem conseguido se organizar de forma a oferecer grande margem de possibilidade de vitória.

    Observemos ainda, se não parece fazer sentido nossa opinião, se fizermos uma breve análise dos tipos defendidos pelo presidente, ou de seus apoiadores, já ocupando espaços em todas as esferas governamentais. Temos vereador militar acusado de crimes diversos; deputados na mesma situação; lideres religiosos fazendo trambiques e manipulando verba do Ministério da Educação; servidor do ministério da Cultura incentivando o uso de verbas da pasta na propaganda armamentista; Ministros desmoralizados por ações e omissões que evidenciam caráter duvidoso... Não me lembro de um governo que tenha errado tanto na escolha de seus quadros e que tenha se envolvido tão abertamente com o crime, com criminosos e com a criminalidade. 

    Daí, meus caros, que a intenção do presidente não é apenas livrar a cara do seu amigo, mas vai muito além disso. Essa cortina de fumaça apenas oculta temporariamente a real intenção de quem deveria estar se ocupando de proteger a nação, diante das dificuldades que todo o mundo está enfrentando, face à pandemia de COVID, a guerra na Ucrânia e nossas próprias dificuldades internas. 

    Fica fácil aceitar a hipótese de que a ideia é promover o caos para que haja demanda de ordem. Sim, outra velha tática de dominação baseada no lema "Ordo ab chao", a qual se pressupõe que Nero, o imperador romano, tenha usado, quando supostamente tocou fogo em Roma para que ele mesmo a "salvasse", trazendo a ordem a partir do caos, que ele mesmo provocara.

Quem duvida disso? Acompanhemos o andamento das coisas.....

Por que a guerra?

    Bombas e mais bombas sendo lançadas, da Rússia sobre a Ucrânia; da Ucrânia sobre seus próprios territórios, tomados pela Rússia; das mãos ocultas da OTAN, que promove e fomenta a guerra, em nome de um tratado de paz. Ora, isso não deveria ser percebido como novidade.  Como sempre digo, uma guerra não começa (e não termina) de uma hora para outra.

    Os caras vivem uma história de disputa por minas de carvão, assim como os árabes vivem constante necessidade de defender o seu quinhão de terras petrolíferas. Nem a Ucrânia, nem a Rússia e pasmem, nem os EUA ou a OTAN vão se posicionar de um ou outro lado gratuitamente. Há interesses historicamente perseguidos naquela região. E é bom que os incautos se conscientizem disso, para que não caiam na tentação de emitir opinião rasteira, movida pela influência do discurso midiático, ou mesmo dos defensores da paz, ou dos direitos de um ou outro lado.

    Os russos têm grande interesse em manter o controle sobre aquela região, sem perder, obviamente, espaço estratégico para a famigerada OTAN, reduto do comércio armamentista, tanto dos EUA, quanto da Europa. Não nos iludamos, pois muito dinheiro tem circulado na manutenção dessa guerra, até a exaustão dos perecíveis estoques de munição. Assim foi com o Afeganistão e com o Iraque. Assim está sendo na Ucrânia. Se assim não fosse, os russos já teriam feito como fizeram os EUA contra o Japão na segunda guerra. Sim, já teriam lançado um único artefato nuclear e destruído uma cidade inteira, ditando o fim do conflito. Não foi assim em Hiroshima e Nagazaki? Quem foi punido?

     Ou algum de nós é tão inocente, ao ponto de crer que Joe Biden está injetando bilhões de dólares a troco de nada? É óbvio que eles estão investindo, em busca de altos lucros, assim como sempre o fizeram. Isso não diminui a responsabilidade da Russia, nem ainda, da Ucrânia, ou da Europa como um todo. É uma briga de cachorros grandes. Só raposas velhas em busca de sangue alheio para sugar.

Em 1932 Freud e Einstein, perguntavam "por que a guerra?" E nós continuamos repetindo a mesma pergunta, quase cem anos depois? Por quê a guerra?

    

 

Cancelamento gratuito, ou crédito a indignos?


Um fenômeno interessante tem se espalhado em nosso meio e causado perplexidade em quem observa o comportamento humano, especialmente nos últimos tempos -  tempos de globalização, de disseminação descontrolada da informação, de inversão de valores - tudo isso, provavelmente em função de uma falta de conceitos bem estabelecidos, ou de ausência mesmo de conceitos e valores palpáveis. Bauman deve estar se contorcendo lá de cima, dizendo: eu avisei!!!

Ao observarmos o comportamento das pessoas, tanto jovens quanto velhos, homens ou mulheres, das mais diversas origens, raças, classes sociais, etc, o que vemos, e falo isso em relação ao povo brasileiro especialmente, é um total descaso com o que antigamente se respeitava religiosamente; Não quero, obviamente, propor um retorno ao que já se sabe inadequado, mas, uma busca por equilíbrio. Precisamos evitar repetir os mesmos erros dos nossos antecessores.

Não me parece de forma alguma, ser desejável ou proveitoso, sermos guiados por ridículos e anacrônicos defensores do indefensável como a ex-atriz Regina Duarte ou o ex-comentarista Alexandre Garcia, que sem argumento palpável, mancharam indelevelmente um passado respeitável, aparentemente a troco de nada; ou pior, em troca de fazer parte de um grupo execrável e retrógrado, de seguidores de uma figura patética, completamente oposta à formação e à experiência de vida dos dois, que já foram amados e respeitados e hoje são motivo de memes hilários. 

Da mesma forma, urge nos afastarmos de posturas infantis, perversas e inconsequentes, como Monark ou Adrilles, que, diferentemente dos dois antes citados, eram até pouco tempo, meros semianalfabetos desconhecidos, mas que, assim como os famosos citados, alcançaram visibilidade e se julgaram acima da crítica, a ponto de vincularem suas imagens a outras, essas sim, já carregadas de conceitos negativos, diante de uma sociedade apaixonada pela lacração, que empodera o anônimo e desconsidera o currículo, armada com a mais poderosa ferramenta de destruição já conhecida, qual seja, o livre acesso de todos à manifestação indiscriminada de seus instintos mais primitivos, como diria uma outra abjeta celebridade, que da minha parte, não merece ter o nome citado.

Fica então a dúvida: o que faz com que tantas pessoas deem valor a coisas tão  claramente indignas? Seria algum tipo de protesto? Mas que protesto idiota é esse, que arranca o pé, quando o problema era uma unha?

O problema é que não sabemos lidar com a liberdade. O sujeito que nasceu no Brasil "redemocratizado", já livre do regime militar que existiu de 1964 a 1985, foi criado por pais sedentos de liberdade de expressão. Esses pais, imbuídos das melhores intenções, se orgulham até hoje, de dizer que "meu filho não vai passar pelo que eu passei". Tiraram toda a censura, quebraram todas as cercas, em nome da liberdade.

Assim, vimos crescer uma geração de ignorantes da necessidade de limites, da qual todos nós carecemos. Esses acrônicos indivíduos, em cujas mãos está o futuro de todos nós, realmente ignoram importantes conceitos, não dando conta de perceber além do seu próprio tempo, como se o mundo tivesse surgido junto com eles e não fosse existir além deles. Não valorizam a história, nem a própria história procuram conhecer. É a marca de uma geração que evita o passado, tentando fugir da possibilidade de ser tão ruim quanto a sua antecessora.

Assim, erram por mero desconhecimento dos erros do passado e não constroem sequer expectativa de futuro.

Uma pessoa sensata, certamente buscará no passado, orientação mínima que seja, quando estiver insegura em relação a uma situação qualquer. Isso poupará desgaste  desnecessário, desilusões e sofrimentos diversos. 

A repetição é intrínseca ao humano civilizado, mas esse mesmo humano, sabemos, é o único animal até  então capaz de tudo o que fizemos. Não me parece justo permitir que as crianças ou os afetados por demência, desperdicem impunemente tanto esforço já despendido.

 

 

Sobre estados de ansiedade, seus efeitos e uma proposta terapêutica.

O que é ansiedade?
Como ela se manifesta?
Todos estão sujeitos às crises de ansiedade, ou só eu sofro isso?
O que fazer quando vem a "crise"?
Ansiedade pode levar à morte?
Isso tem cura?

A ansiedade parece ser um “estado de espírito”, provocado pela angústia de não se ter certeza de algo, ou pela falta de habilidade do indivíduo em identificar e saber esperar o tempo de cada coisa, ou ainda, de não dar conta de lidar com restrições e inibições, muitas vezes por ter sido criado sem conhecer o NÃO.
O sofrimento por antecipação, caracteriza esse estado, que, para a Psicanálise, está intimamente ligado à estrutura psíquica do sujeito.
Todos nós, uns mais e outros menos, estamos sujeitos a desenvolver sintomas de ansiedade. Dependendo da intensidade da angústia que a provoca, pode-se observar um certo nervosismo, fala desorganizada, sudorese, tremores e outros.

Certas pessoas chegam a apresentar sintomas parecidos com o que se observa nos quadros conhecidos como "síndrome do pânico", onde a pessoa tem a sensação de que vai morrer, ou que vai faltar ar para respirar.

Situações angustiantes sempre existiram e continuarão existindo. A vida não é um parque de diversões. Mas, a partir do momento em que os efeitos da pandemia de COVID-19 começaram a ser sentidos com mais intensidade, percebemos que aumentou a procura por ajuda psicológica, ou terapêutica. Não foi, nem está sendo diferente comigo, ou com você. Todos nós sentimos as mudanças repentinas e nos assustamos com elas.

Um fato que chama a atenção, é que a maioria das pessoas que passaram a procurar ajuda terapêutica, é de jovens, abaixo dos 40 anos e até adolescentes. Esses últimos, parece que estão sendo afetados fortemente pela limitação imposta pela inusitada circunstância.

Sim. Um quadro de ansiedade não tratado com bastante atenção e cuidado, pode levar o sujeito a situações mais graves e a ações contra a própria segurança e saúde. A sensação de falta de uma possibilidade de solução, pode conduzir ao desespero e à fuga suicida, ou a um estado de depressão profunda, que também mata.

Sugiro que se você vier a se sentir nessa situação, lembre-se de que todo mundo está sujeito a isso. Ou seja, não é motivo para se sentir pior do que ninguém. Então... na hora da crise, (se tiver como) corra para debaixo do chuveiro e sinta a água cair sobre você, até relaxar. Ou, pelo contrário, encontre um lugar amplo e arejado, onde possa experimentar a sensação de respirar livremente. Não existe receita pronta, que sirva para todos. Crie a sua própria solução, observando-se.

Uma "crise de ansiedade" tem um tempo de duração. Se você tomar o controle do seu corpo e da sua mente (dos seus pensamentos) durante o decorrer desse tempo, os sintomas desaparecem. 
Uma técnica interessante e muito eficaz, por mais simples que pareça, é, no momento que você perceber que seus pensamentos estão sendo conduzidos para essa espiral desesperadora, corra até a geladeira, pegue duas pedras de gelo e aperte uma em cada mão. Segure apertando até não conseguir mais... nem vai precisar muito tempo...
Você vai perceber que seu cérebro vai enviar mensagem de urgência a sua consciência, no sentido de cuidar daquela demanda (o gelo vai causar um crescente desconforto, no contato continuado com sua pele). Os pensamentos circulares que causavam ansiedade vão perder prioridade e você vai conseguir readquirir o controle sobre seu corpo. É tão simples,  que nem parece possível. Mas, funciona.

Depois, procure falar sobre isso, de preferência com alguém que tenha experiência e capacitação na área. Não use amigos, medicamentos, soluções mágicas, milagres, ou drogas alucinógenas, para cuidar de algo que exige muito mais que isso. Não resolve!!! 

Nós precisamos dar nome às nossas angústias, buscar conhecê-las e assim, aprender a lidar com elas e evitar que elas nos causem ansiedade além do que suportamos. Um pouco de ansiedade, sempre vai haver. Faz parte da vida.

 
Weverton Duarte Araújo

Analise leiga x formação adequada

Há uma discussão eterna no meio psicanalítico, no que se refere à formação do sujeito que se propõe atuar como Psicanalista. Desde os primórdios, o próprio Sigmund Freud, médico vienense responsável pelo surgimento desse campo de estudo, já enfrentou tais questionamentos; muitos médicos, como ainda ocorre com outros campos de atuação terapêutica, já mesmo naquele tempo, acreditavam que a nova abordagem deveria se submeter à ciência médica.

Atualmente, restringindo-nos à realidade brasileira, as diversas grades de formação em Psicologia, quando muito, destinam uma ou duas disciplinas a uma leve aproximação com a Psicanálise, o que pode ser justificado pelo necessário foco nas muitas abordagens psicológicas necessárias a uma boa formação. Ainda assim, há quem defenda que a Psicanálise só possa ser exercida por Psicólogos, não obstante o já citado exíguo conteúdo da matéria estudado por tais profissionais.

Durante anos a fio, a formação em Psicanálise se deu de forma bastante diversificada, em instituições historicamente envolvidas com as origens da Psicanálise, como os grupos regionais filiados ao CBP (Círculo Brasileiro de Psicanálise), ao Fórum do Campo Lacaniano e à EBP (Escola Brasileira de Psicanálise). Essas três instituições figuram como as que, tradicionalmente, difundem no Brasil, a transmissão da Psicanálise de forma bem parecida, variando principalmente, em relação ao referencial teórico secundário (além de Freud), ou seja: Lacan, Klein, Winnicott, Ferenczi, entre outros.

Entretanto, há um sem fim de entidades autoproclamadas psicanalíticas, mas que divergem, algumas pouco e outras extremamente, do que classicamente se entende por Psicanálise. Mas isso não é exclusividade da Psicanálise, visto que podemos observar o mesmo fenômeno em outras atividades e profissões. Neste nosso Brasil, de uma cultura originada nos hábitos do pior tipo de gente que havia em Portugal, não se pode esperar rigidez ética exacerbada. Assim, frequentemente, nos vemos às voltas com "picaretas" se propondo presidentes de "conselhos brasileiros de psicanálise" e congêneres.

Temos também, pequenas "escolas de psicanálise" ligadas a denominações religiosas, formações em psicanálise pela Internet, oferta de “doutorado” em psicanálise à distância sem exigência de formação superior, e por aí vai…

Na contramão do que defende grande parte dos psicanalistas e suas entidades, uma conhecida instituição de formação superior à distância, passou a oferecer a primeira graduação em psicanálise, em nível de bacharelado, totalmente EAD, com início em 2022. A grade curricular é muito aquém da formação básica oferecida pelas entidades filiadas ao CBP, por exemplo. De qualquer forma, o bacharelado não se propõe como suficiente para a formação de um Psicanalista, mas de um bacharel em Psicanálise. São coisas distintas, é bom que se lembre.

E quanto a nós, o que pensamos?

Ora, se Freud já enxergava a possibilidade de a Psicanálise ser exercida por não médicos, não parece haver coerência em se propor a exclusividade de tal exercício por este ou aquele profissional. O tripé que sustenta a ética do exercício do ofício do Psicanalista: (formação continuada/análise pessoal/supervisão), se devidamente observado, trás a essência do que propunha Freud e seus sucessores mais respeitados.

Ética, parece ser o conceito que mais pesa na formação do Psicanalista. Pensar filosoficamente e fomentar uma visão dialética dos processos mentais individuais e das relações interpessoais e de grupos, essa deve ser a direção para a qual ele olha. Não há então, que se falar em leigo, termo que neste caso, era aplicado a quem não tivesse formação em medicina e que Freud desbanca em 1927.

Parece óbvio que uma formação superior é altamente desejável, já que se espera que o estudante graduado tenha absorvido conteúdo que o afaste minimamente do senso comum e ainda que também minimamente, acrescente conhecimentos que lhe permitam dialogar com a diversidade cultural e se abrir ao controverso e complexo discurso da Psicanálise.

 

Weverton Duarte Araújo

Feliz 2022... sqn.

          E começa 2022.... 

Não me parece adequado, sustentar a menor expectativa quanto à possibilidade de que este possa ser um ano bom. Pelo contrário, temos razões de sobra para acreditar e até mesmo para começar a nos preparar para um período de um grande desgaste emocional, psicológico e físico.

Sim, essas três áreas, provavelmente serão severamente atingidas no decorrer de 2022. Senão, vejamos: nosso povo vive atualmente a experiência do segundo ano sem o carnaval, que foi durante décadas, a normalidade de fevereiro. Grande quantidade de administrações municipais, agindo de forma preventiva contra uma nova onda de COVID que parece se aproximar, cancelaram os festejos momescos e estão investindo no controle sobre as aglomerações comuns nos eventos típicos da época, algo que já fazia parte da cultura brasileira e que a população não está disposta a abandonar facilmente, mesmo que isso possa trazer graves consequências, como o aumento de internações, o colapso do sistema hospitalar e a ocorrência de mortes, como se viu em 2020 e até meados de 2021.

O sofrimento causado pela diminuição das possibilidades de divertimento, afeta o grupo, que percebe negativamente o impedimento da satisfação de sua necessidade de prazer, mas não sente da mesma forma a dor do indivíduo na perda pela morte de algum parente próximo.

Antes mesmo de pensarmos na falta do carnaval, já temos motivos para causar abalo emocional. O ano começou muito mais chuvoso do que o esperado. Os deslizamentos de barreiras, inundações e alagamentos, acidentes diversos, inclusive em localidades onde tais ocorrências não eram comuns, já estão gerando desabrigados e desalojados pelo Brasil afora.

E se isso não fosse desgraça o suficiente, estamos em ano de eleições presidenciais. E estamos vivendo um momento jamais vivido, em que as informações circulam livremente, sem censura, mas também, sem qualquer controle, sem ética, sem respeito pela opinião alheia, sem respeito pela verdade.

Assim, já podemos ir nos preparando para uma campanha suja, com abuso dos meios de comunicação, em desrespeito à nossa inteligência e à nossa capacidade de discernimento. Isso vai custar caro para nossa paciência. Vai nos cansar, nos adoecer física e mentalmente. Mesmo que tenhamos um resultado das eleições favorável à reestruturação do país, o desgaste me parece inevitável, dado o baixíssimo nível de grande parte dos envolvidos. 

Assim, juntando-se todos essas fatores e somando-se o fato de que a pandemia de COVID-19 não parece estar se encaminhando ao fim, 2022 já começa dando pinta de que não vai ter um bom fim. Claro que depende de cada um de nós, do que faremos diante das circunstâncias. Mas que vai ser fácil, não vai não. Bom seria que esta reflexão fosse bastante pessimista e exagerada.

Então, mais que nunca, compete a cada um de nós, uma atitude madura e respeitosa, em relação ao outro e a nós mesmos. Urge que nos abstenhamos de desejar buscar o prazer imediato e desmedido; que observemos os fenômenos naturais com respeito pela Natureza e que sejamos menos susceptíveis às diversas formas de manipulação da opinião, que nos cercam e nos induzem ao erro, como aconteceu com muitos incautos em 2018.  Nos cuidemos e façamos que 2023 comece com mais motivos para otimismo.


Weverton Duarte Araújo

Pequenas mudanças, grandes estragos.

O momento que vivemos tem se mostrado como uma experiência sem par, pelo menos para nós, que o vivemos, sem que tenhamos sido preparados, ou mesmo avisados de que algo tão impactante iria nos ocorrer. Tudo mudou de forma muito rápida…

É assim que percebemos. Não conseguimos entender que as coisas já vinham mudando há muito tempo e agora, por força das circunstâncias, apenas não há mais como não ver o resultado das pequenas mudanças que se acumularam.

Spencer Johnson, autor do best seller "Quem mexeu no meu queijo?", trata ali o assunto e nos mostra o quanto é verdadeira essa lamentável afirmação, de que não nos habituamos a nos preparar para as mudanças e somos frequentemente pegos de surpresa, pela menor delas, a gota d'água que faz entornar todo o caldo. Assim, cada pequena mudança, que deveria ser coisa normal do dia-a-dia, por mera inobservância, se torna uma grande dor de cabeça, causando desconfortos os mais diversos.

Observemos o atual quadro que atravessa a vida político-econômico-administrativa do Brasil. Boa parte dos eleitores que votaram em 2018 se encontram entre os que, embora possuam o direito, podem ser classificados como não aptos a votar. Ou seja, votaram como uma criança escolheria um brinquedo. Pela aparência, pela propaganda que conseguiram ouvir ou ver, sem a menor utilização de sua capacidade inata de exercitar o senso crítico, pensar, avaliar, julgar mesmo o que havia de verdade e falseamento nas notícias veiculadas na época, etc.

Na verdade, o que guiou essas “cecilias” portadoras do poder de decidir o futuro do país, mas claramente despreparadas para usar o título de eleitor, pode até ter sido um sentimento digno, um desejo honesto de mudança, mas, por ignorância e patente falta de capacitação intelectual e cultural, não podendo fazer diferente, fizeram o que fizeram. Deste modo, temos hoje um Brasil acelerando em marcha à ré, guiado pela pior estirpe de seres humanos que ainda rasteja sobre nosso chão.

É certo que os governos anteriores, embora tenham patrocinado avanços sociais e econômicos jamais vivenciados em nossa história, também coabitavam com o joio, assim como os atuais e os próximos terão que conviver, já que é sabido que não se arranca o joio sem matar, ou ferir gravemente o trigo.

Mas isso não pode ser motivo para não observarmos as mudanças, não pensarmos com maturidade e isenção. O prejuízo material, cultural e moral, diante do mundo e de nós mesmos, já é e ainda vai ser, muito maior do que se pode perceber à primeira vista.


Assim também é na vida de cada um de nós. Os erros ou equívocos, que cometemos nas escolhas de pessoas para termos como companheiros de viagem nessa estrada chamada vida, assim como em todas as escolhas que fazemos, como nossa profissão, adesão religiosa, filiação partidária, agrupamentos os mais diversos, quem amamos e quem odiamos, resultarão em consequências inexoráveis.

Feita a escolha, não há como não colher os frutos desta. E as pequenas mudanças cotidianas nos obrigam a escolher todos os dias, às vezes, muitas vezes no mesmo dia.


Daí a necessidade de observar constantemente a natureza e questionar sempre nossas certezas.


Daí a necessidade de nos analisarmos constantemente, assim como, não permitirmos que o desejo do outro nos iniba a subjetividade. Nem isso, nem o inverso disso.




Weverton Duarte Araújo