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Por um Estado menos interveniente e cidadãos mais responsáveis


Por um ESTADO MÍNIMO e por cidadãos mais responsáveis.

Se o governo me impedir de educar meu filho, vai se ver obrigado a puni-lo um dia. E nós sabemos que o governo não educa ninguém. Pune menos ainda. Não corrige, nem ressocializa. Se a moça gaúcha que não recebeu educação dos pais para saber que todas as pessoas são iguais, independente da sua cor de pele, vai ao campo de futebol e chama o jogador de macaco, nenhuma punição vai curá-la dessa ignorância, inculcada pela cultura racista de suas origens.
Tem muita gente por aí que apoia e defende a intervenção estatal, com imposição de leis até para regulamentar o modo como se educam os filhos, tolhendo o direito natural dos pais de agir com rigidez se julgarem necessário. O problema é que não se pensa na prevenção. Apenas se ameaça com punição, caso aconteça o que o senso comum taxa de inadequado. Nem um estudo sério e aprofundado é feito. Cria-se uma lei que promete punir e pronto. O assunto é dado por resolvido, sem que suas causas tenham sido sequer analisadas.
Tem muita gente também, querendo que o governo faça tudo, inclusive, se responsabilize pelos atos dos filhos que não tiveram uma educação e uma formação moral em casa. A maioria de nós quer é que alguém seja responsabilizado cada vez que algo sai dos trilhos. Nem importa tanto que haja uma punição efetiva. Basta que seja apontado um culpado. Basta que seja feita a justiça, como sempre ouvimos repetir as vítimas.
Vamos pensar: porque será que essa ideia de não reação tem se propagado tanto? Não parece claro, que o que se pretende é nos colocar em um estado de inércia, de modo que fiquemos completamente dependentes, como se fôssemos incapazes de nos defender? Somos ensinados a não reagir, a não reclamar, a não ensinar os filhos a serem éticos, a deixa-los fazer o que quiserem. Os bandidos chegam a dizer que mataram a vítima porque ela não obedeceu a orientação de não reagir. Ou seja, o Estado orienta o cidadão a ser conivente com o crime e aceitar o crime como normal. Engolir e se virar.
Onde chegaremos com isso? Aliás, já chegamos. Veja como as pessoas agem hoje. Ora, a quem cabe fornecer à criança as bases éticas, morais, religiosas, sociais, etc? Ao governo ou à família?
Se todos nós ficarmos esperando que o governo faça o que nos cabe fazer, continuaremos a criar monstros, sem educação, sem regras, sem limites. Esses serão enfim, os que nos governarão no futuro. Ou seja, piores do que os que nos governam hoje.
O que se prega por aí é uma falsa liberdade, sem qualquer respeito pelo outro, sem obrigações, sem deveres. Só se diz dos direitos. Cabe a cada um de nós impedir que essa onda se propague. Liberdade gera responsabilidade. Direitos implicam em deveres. Vamos reagir. Reagir sim e com força.
Então, precisamos assumir nossas responsabilidades. Cada um fazendo o que lhe cabe como membro da sociedade. Só assim mudaremos o atual estado de coisas. Não se pode acreditar que o ser humano aprende sozinho, sem que haja limites e imposição de limites desde a tenra infância. E com punição adequada desde a infância também, para que não se continue a intervir sempre depois que o caldo já entornou. 

Conflito...

Os homens vem e vão,
Hoje existimos, amanhã talvez não.
Como a vida é vista por aqueles que existem?
Se parar pra responder, pode se enlouquecer!

Tudo se conflita.
E a vida se esquiva...
Carros em alta velocidade,
E a violência estampada e propagada pela publicidade!

Se ando na rua, vejo gente: muda e nua.
Colápso, stresse, manias, esquisitices, esquizofrenismo, parasitismo, militarismo...
O neo-liberalismo ligado a globalização,
A sociedade em destruição!

Vou Gritar!
Talvez alguma coisa possa se alarmar.

Andamos como se fossemos uma bomba atômica,
Muitas vezes com insônia, não sabendo se vamos ou se ficamos
Enquanto isso, eu fico por aqui,
Pensando se vou rir!

João Weslley

Reflexão

Cada vez que respiramos, afastamos a morte que nos ameaça.
(...) No final, ela vence, pois desde o nascimento esse é o
nosso destino e ela brinca um pouco com sua presa antes de
comê-la. Mas continuamos vivendo com grande interesse e
inquietação pelo maior tempo possível, da mesma forma que
sopramos uma bolha de sabão até ficar bem grande, embora
tenhamos absoluta certeza de que vai estourar.

A cura de Schopenhauer / Irvin D. Yalom; tradução de Beatriz Horta. — Rio de Janeiro: Ediouro,
2005.

Precisamos de Motivação no Brasil


Por João Weslley

Motivação (do Latim movere, mover) designa em psicologia , em etologia e em outras ciências humanas a condição do organismo que influencia a direção (orientação para um objetivo) do comportamento. Em outras palavras é o impulso interno que leva à ação .
Motivação é um construto e se refere ao direcionamento momentâneo do pensamento, da atenção, da ação a um objetivo visto pelo indivíduo como positivo. Esse direcionamento ativa o comportamento e engloba conceitos tão diversos como anseio, desejo, vontade, esforço, sonho, esperança entre outros.

O homem tem várias necessidades que devem ser satisfeitas, algumas delas o são através do salário recebido outras não podem ser “compradas”, são relativas aos sentimentos, desejos, vontades, etc. das pessoas.

Como foi definido por Maslow existem necessidades básicas que devem ser satisfeitas para que outras necessidades de um nível mais alto sejam satisfeitas para explicar melhor ele criou a pirâmide das necessidades:
·            Necessidades fisiológicas (básicas), tais como a fome, a sede, o sono, o sexo, a excreção, o abrigo;
·            Necessidades de segurança, que vão da simples necessidade de sentir-se seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida;
·            Necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos tais como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube;
·            Necessidades de estima, que passam por duas vertentes, o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos;
·            Necessidades de auto-realização, em que o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser.

No mesmo sentido Walton estudando a qualidade de vida no trabalho definiu 8 fatores para que a mesma seja atingida:
1.          Compensação justa e adequada;
2.          Condições de trabalho;
3.          Uso e desenvolvimento de capacidade;
4.          Oportunidade de crescimento e segurança;
5.          Integração social na organização;
6.          Constitucionalismo: Caracteriza pelos direitos dos empregados cumpridos na instituição;
7.          Trabalho e espaço total de vida;
8.          Relevância social da vida no trabalho.

Já Herzemberg estudando o mesmo assunto dividiu os fatores que alteram o comportamento dos indivíduos em 2 grupos: higiênicos e motivacionais.

Os fatores higiênicos são extrínsecos ao individuo, por exemplo, o salário e benefícios recebidos. No caso da insuficiência, provocariam insatisfação, porém atendidos eles não despertariam a motivação (a energia interior) do individuo. Esta seria despertada pelos fatores motivacionais, que são intrínsecos ao profissional, como o reconhecimento, desafios, status e oportunidades de crescimento.
           
            Todos esses estudiosos falaram da importância do salário justo, mas também de necessidades que o salário não atende. O dinheiro paga nossas contas, nos traz oportunidades de lazer, conforto, etc. Porém na busca por melhores salários muitas vezes nosso tempo é sacrificado, nossa qualidade de vida, nossa convivência familiar. Tudo que pode ser “comprado” com nosso salário não será usufruído por nós uma vez que não temos tempo para isso, ou quando temos estamos exaustos.

Vamos nos lembrar da propaganda da Mastercard: tem coisas que “não tem preço”.

Sem jeito

Sujeito sem jeito,
Vindo de um lugar que não tem jeito
Onde o jeito é desajeitado
Desajeitado é o sujeito.

Sociedade Obscura
Que vive na rua
Comendo comida crua
Gemendo na madrugada...

Grito dos inocentes...
Será que é inconsciente?
Ou será por causa dos imprudentes?
Cadê o PRESIDENTE?

O sujeito sem jeito
Da sociedade obscura
Grita!:
Cadê o PRESIDENTE?

João Weslley

Os desafios sociais da Igreja brasileira

Por Pr. João Weslley

Não são poucos e nem pequenos os problemas sociais brasileiros. A igreja evangélica brasileira tem desafios enormes nesta área. Porém, de início é preciso que encaremos com seriedade e maturidade o dilema de até onde podemos e devemos nos envolver nestes desafios. Que a igreja evangélica brasileira não deve se esquivar de sua missão integral é o nosso comum acordo com a declaração de Lausanne:

Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão.

É preciso sim que a Igreja seja a consciência da sociedade e a voz profética que denuncia os desmandos desta mesma sociedade. Não devemos como Igreja de Cristo, partir para a ignorância e violência, mas podemos e devemos fazer confrontações sociais sérias. Confrontação não é violência. Robert C. Linthicum (1996, pp. 171,2) explica:

Há muita confusão sobre a natureza da confrontação e da violência. Confrontação é simplesmente a atividade entre seres humanos na qual eles discordam, e devido a esta discordância, estão desafiando uns aos outros. A palavra significa literalmente “testa a testa” - isto é, as testas colocadas fisicamente uma contra a outra. É um encontro face a face, direto, procurando o fim da resolução.

Por outro lado, violência é o exercício da força física, a fim de ganhar uma disputa. Enquanto a confrontação é verbal, a violência é física. De uma forma mais profunda, essas palavras não são sinônimas, e sim antônimas, pois, em sua própria natureza, um ato de violência é a indicação de que a confrontação falhou. A confrontação boa e eficaz nunca deve levar à violência, mas à resolução do problema.

É nesse espírito de verdadeira confrontação que a Igreja deve encarar seus desafios sociais, com propostas terapêuticas para uma sociedade enferma. Portanto, empenhemo-nos pela dignidade do povo brasileiro. Reivindiquemos, pois, os seus e os nossos direitos: Saúde, segurança, educação, trabalho e salário digno.

E até onde podemos e devemos ir nesta questão toda? Até onde os direitos sejam verdadeiramente assegurados, o amor ao próximo evidenciado, a moral dignificada, o evangelho e o bom testemunho não sejam prejudicados e, sobretudo, o nome de Jesus seja glorificado.

O governo tem (e como tem!) suas culpas e responsabilidades, mas não podemos ficar indiferentes ao que ocorre em nossa volta, simplesmente criticando por criticar o governo. Pesa (e como pesa!) sobre o povo de Deus também a responsabilidade pelo bem-estar social do nosso país.

A Moda

Fechar a boca, a porta, a tampa.
Abrir a boca, a porta, mostrar a estampa.
A Moda que molda a sociedade,
É a Moda que estampa a desigualdade.

Valorização, desvalorização...
É a Moda da globalização!
Materialismo, realismo...
Mate-realismo, morte realismo.

O produto do meio não têm valor,
Recebe uma moeda e agradece ao seu senhor...

Fechar a boca, a porta, a tampa.
Abrir a boca, a porta, mostrar a estampa.
A Moda que molda a sociedade,
É a Moda que estampa a desigualdade.

João Weslley

Compromisso com o Pacto. Hoje?


       1Reis – 8:1-6

“Então congregou Salomão diante de si em Jerusalém os anciãos de Israel, e todos os cabeças das tribos, os chefes das casas paternas, dentre os filhos de Israel, para fazerem subir da cidade de Davi, que é Sião, a arca do pacto do Senhor.
De maneira que todos os homens de Israel se congregaram ao rei Salomão, na ocasião da festa, no mês de etanim, que é o sétimo mês.
E tendo chegado todos os anciãos de Israel, os sacerdotes alçaram a arca;
e trouxeram para cima a arca do Senhor, e a tenda da revelação, juntamente com todos os utensílios sagrados que havia na tenda; foram os sacerdotes e os levitas que os trouxeram para cima.
E o rei Salomão, e toda a congregação de Israel, que se ajuntara diante dele, estavam diante da arca, imolando ovelhas e bois, os quais não se podiam contar nem numerar, pela sua multidão.
E os sacerdotes introduziram a arca do pacto do Senhor no seu lugar, no oráculo da casa, no lugar santíssimo, debaixo das asas dos querubins.”  [1]

O texto sagrado se refere ao momento máximo da construção do grande Templo de Salomão, quando o rei, herdeiro da promessa de seu pai Davi ao Deus Altíssimo, faz com que a Arca da Aliança, símbolo maior do pacto e da presença de Yahveh em Israel, seja conduzida ao lugar de destaque no templo, o “sancto sanctorum”.
Ali se pode notar o quanto isso foi importante para todo o povo, pois que todos os homens, todos os anciãos, os cabeças das tribos, os chefes das casas paternas, se reuniram ali e apresentaram sacrifícios incontáveis, bem como se dispuseram ao culto e à adoração ao Altíssimo.
Ora, que nos faria pensar tal referência nos dias de hoje, mormente na vida do homem que se reconhece como herdeiro e mordomo da Criação?
Talvez a certeza de que ainda é possível a reunião dos anciãos de hoje, dos homens de boa vontade de hoje, os sábios, os filósofos, para “erguer a arca” da liberdade, da igualdade e da fraternidade, colocando-a no lugar mais destacado do templo-corpo-vida de cada um e de todos, na entrega de sacrifício agradável ao Eterno, não obviamente, de bois ou ovelhas, mas de luta e dedicação por uma humanidade mais justa e perfeita, de entrega da própria vida pela causa na qual alegamos estar envolvidos.

Este momento que vivemos, de crise de conceitos e falta de ideais,  pode ser de fundamental importância na consolidação do caráter daquele que se volta para dentro de si mesmo, em busca da serenidade dos sábios, demonstrada pela prática a Caridade, pela exaltação das Virtudes e pelo estudo constante, exigências impostas ao homem sensato pela sua própria consciência.

Para se preparar para a batalha contra a ignorância e a tirania, o obreiro da libertação precisa se orientar pela Verdade, pela Ciência e pela Tolerância. O silêncio e a meditação fazem o homem prudente, menos exposto ao erro e à repreensão, apto ao desenvolvimento de suas potencialidades, como a polir mais ainda a pedra em que molda seu caráter, com assiduidade e tenacidade, em detrimento dos caprichos do ego.

É a isso que Paul Tillich[2] chama de “coragem de ser”, ou seja, é a decisão que se toma de ir em direção a um ideal, sem se importar com a possibilidade de não ter um retorno satisfatório ou qualquer reconhecimento. É fazer algo que se acredita ser adequado. Escolhe-se ser um defensor da liberdade, da justiça e da verdade. O eu fica em segundo plano.

Então, algum mistério move o sujeito a buscar se unir com outras pessoas e tratá-las como se fossem seus irmãos. Algum mistério divino incomoda o homem, ao ponto de fazê-lo sair do seu ostracismo quase que natural dos dias atuais e buscar se encontrar com outros, que incomodados da mesma forma, se propõem a serem como irmãos e a buscar o bem mútuo.

Assim, o silêncio e a meditação serão ferramentas de suma importância, pois, o homem loquaz não pode ouvir a voz da prudência, nem dar espaço à especulação científica, que conduz à Verdade. 

Aquele que tem coragem para se calar e se colocar na posição de ouvinte, este sim, está preparado para ouvir, escutar e entender. Porque se ouve com os ouvidos, mas se escuta com o coração e se entende ao meditar longamente.

Isso nos esclarece ainda mais sobre a nobreza da opção do homem que busca na prática do bem a possibilidade de servir ao propósito do crescimento da humanidade. Na verdade ele está atendendo ao chamado do próprio Deus, conforme diz Vanhoye[3], ao afirmar que "o sacerdócio não é uma posição à qual o homem possa elevar-se para colocar-se acima dos seus semelhantes. É um dom de Deus, que coloca o sacerdote a serviço de seus irmãos".
E com o dom vem o Dever, inevitável necessidade que tem o homem social, ou seja, aquele que vive em comunidade com outros homens, de servir ao outro, a quem convencionamos chamar de “o próximo”.
Diante de tal compromisso, se impõe a necessidade de preparo constante, de busca incessante de capacitação, de conhecimento de si mesmo, do mundo ao seu redor e da Vontade Divina, a qual é necessariamente, o motivo da busca do Homem, que pode ser traduzida pela busca da libertação de si mesmo e de todos os homens das garras da ignorância e do fanatismo, das trevas da idolatria e da loucura do egoísmo.
A chave para alcançar tal fim é o silêncio contemplativo, emblema do domínio da razão sobre as palavras, que indica mais uma vez a necessidade de uma busca silenciosa, cuidadosa e bem administrada, pelo cumprimento do ideal estabelecido, qual seja, encontrar o elo de reconciliação com o Criador.
Assim devemos viver, conviver e coexistir, nós, os seres humanos, herdeiros e mordomos da criação. Nesse ambiente de autopromoção e cuidado mútuo é que é possível se manifestarem as bênçãos do Senhor, sejam elas no campo material ou no espiritual. Nesse ambiente é que pode haver vida para sempre, como nos lembra o Salmo 133.

Referências:

A BÍBLIA SAGRADA. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2ª ed. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
TILLICH, Paul. A Coragem de ser. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
VANHOYE, Albert. Sacerdotes Antigos e Sacerdote Novo. São Paulo: Academia Cristã.2006


[1]     Bíblia  - Almeida Revista e Atualizada, 1999. p318.
[2]     Tillich, 1976. p 122.
[3]     Vanhoye, 2006. p 197.

A gente se cala...

A gente se cala,
Se cala a gente.
Se a gente se cala,
Cala a gente.

A gente se cala...
Quando diante da irresponsabilidade nacional não nos posicionamos ante a corrupção.

A gente se cala...
Quando diante da falta  de cavalherismo e respeito não nos impomos ou manifestamos nossos desejos.

A gente se cala...
quando diante da televisão, vemos nossos filhos, pais e irmãos sendo manipulados, marionetados, pelo sistema capitalista macificante.

A gente se cala...
Quando o próximo demonstra desprezo pelo outro, por causa de diferenças sociais, físicas e religiosas.

A gente se cala...
Quando olhamos para a vida e não acreditamos que tudo pode ser diferente, se quisermos, se fizermos.

A gente se cala...
Por não termos palavras... por causa da inculturiedade que é disseminada pela imprudência daqueles que estão no poder.

A gente se cala,
Se cala a gente.
Se a gente se cala,
Cala a gente.

João Weslley 

Dignidade Humana

Por João Weslley

“O cuidado expressa a importância da razão cordial, que respeita e venera o mistério que se vela e re-vela em cada ser do universo e da terra” (Leonardo Boff).

“A imagem de Deus distingue o homem de todas as outras criaturas; é o que nos faz humano.”( Millard J. Erickson)


Liberdade! Liberdade consiste em nada mais do que “fazer uso público de sua razão em todas as questões”. Trata-se de levar as pessoas a raciocinar antes de obedecer, saber dar as razões por que agem de certa maneira, enquanto cidadãos. Aqueles que fazem o uso da sabedoria como cerne da sua missão, devem instruir as pessoas à maioridade da consciência através do uso público da razão.

Dignidade... No reino dos fins tudo tem ou um PREÇO ou uma DIGNIDADE. Quando uma coisa tem preço, pode-se trocá-la por algo equivalente; mas, quando está acima de todo preço e, portanto, não admite equivalente, então ela tem dignidade.

Moralidade? Sim, a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um fim em si mesmo, pois só por ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins. Portanto, a moralidade e a humanidade, enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade. Três características da dignidade próprias da moralidade: incondicionalidade (absoluta prioridade), superioridade absoluta (acima de qualquer preço) e incomensurabilidade (nenhum equivalente).

Autonomia. O ser racional é considerado como legislador num reino de fins pela autonomia da vontade. O ser racional é autônomo por ser autolegislador num reino de fins .

Kant afirma quer a pessoa é fim em si mesmo e não pode ser usada como meio, essencialmente, porque, todo ser humano, diferentemente de outras criaturas, é uma realidade moral; em outras palavras, a pessoa tem dignidade porque é fundamentalmente capaz de auto-realização; é chamada a realizar com sua inteligência e liberdade sua própria moralidade. A dignidade especial do ser humano não consiste em viver como um exemplar da sua espécie, mas a cada ser humano é dada uma tarefa específica e proporcionada: ser sob o ponto de vista moral e pela força da sua liberdade um ser humano bom. O significado da vida humana não é estar bem, mas ser bom. Em outras palavras realizar sua moralidade. A dignidade humana para Kant fundamenta-se no fato de a pessoa ser essencialmente moral.

A sociedade foi organizada sob critérios de igualdade e liberdade, tendo como objetivo máximo a construção da justiça. Essas potencialidades criaram no ser humano uma autoconsciência de senhorio e força, obscurecendo a percepção da sua fragilidade e fazendo esquecer a vulnerabilidade do seu entorno.

A degradação do ambiente natural e social fragiliza e ameaça o próprio ser humano. A única atitude responsável diante de seres vulneráveis e frágeis é o cuidado.

O critério da moralidade é o conjunto dos indivíduos na sociedade. Por isso, Kant diz “Age de tal maneira que o teu agir possa ser lei para todos”.

Portanto, o critério da ética é a universalidade (normas válidas para todos) e o conteúdo é a dignidade da pessoa (indivíduo considerado como fim em si mesmo).

Esses são em rápidos traços os pilares da ética moderna: a autonomia como condição, a universalidade como critério e a pessoa humana considerada fim em si mesmo como conteúdo. Assim, chegou-se a uma formulação consistente da dignidade da pessoa humana, quando Kant distingue entre as coisas que tem preço, pois são puros meios para atingir outro fim, e a pessoa que não pode ser reduzida a meio, porque é fim em si mesma e deve ser tratada como tal. O processo cultural, movido e inspirado por esse paradigma ético, desembocou na formulação dos direitos humanos e no respeito absoluto à dignidade humana.
As instituições brasileiras declarando falência.

Olhem o que diz um Senador de República: "A indignação tem que ocupar as ruas, pois sem manifestações populares e a ação das redes sociais, não acontece nada", acrescentou o senador, para quem "não adianta esperar nada do Congresso ou do Judiciário, o que funciona é a pressão das ruas, como adconteceu com a Lei da Ficha Limpa".

Isso foi publicado no blog do Senador Pedro Simon (http://senadorpedrosimon.blogspot.com), após a Câmara Federal ter absolvido a Deputada Jaqueline Roriz da acusação de falta com o decoro parlamentar.

Como ficamos então? Se até os que estão lá dentro, não acreditam mais nas instituições brasileiras, declarando-se incapazes de fazer algo, só resta mesmo a nós, fazer o que o próprio Senador sugere.

Vamos REAGIR.

O QUE É O SER HUMANO?

O QUE É O SER HUMANO?
            A pergunta pelo ser humano sempre ocupou lugar de destaque no mundo do conhecimento. E hoje, na modernidade, está cada vez mais patente a necessidade de perguntar por esse Ser tão complexo.
A vida humana surgiu há cerca de 10 milhões de anos na África e, durante todo esse tempo, mostrou grande flexibilidade, sendo capaz de adaptar-se a todos os ecossistemas, dos mais gélidos (nos polos) aos mais áridos (trópicos), no solo, no subsolo, no ar e fora do nosso planeta, nas naves espaciais e até mesmo na lua. É o milagre da espécie homo que “submeteu-se às demais espécies, menos a maioria dos vírus e das bactérias. É o triunfo perigoso da espécie homo sapiens e demens[1]
            A humanidade percorreu um longo caminho no ensaio de decifrar a essência  do ser humano. Para tal, serviu-se das artes e pinturas nas cavernas, passando pela Filosofia e pelo universo virtual até as hermenêuticas holísticas dos nossos dias.
Leonardo Boff entende que o processo da civilização humana  começou há mais de dois milhões e seiscentos mil anos  e, até hoje, ainda está no começo.  O Homo Habilis - Homem inteligente - criou uma linguagem própria; modificou o equilíbrio químico e físico do planeta através da revolução agrária, industrial e cibernética; criou símbolos que o ajudaram a dar sentido às suas relações com a vida. Essa vitória da espécie humana foi perigosa porque, ao se colocar dono e senhor das espécies, e consequentemente das coisas, o ser humano não se reconheceu mais como parte desse ecossistema vivo. Colocou-se sobre, esquecendo-se de que é parte, e que, portanto, precisa estar com. Por isso, o Homo Sapiens - inteligente - dotado de extrema capacidade de transformação, se tornou Homo demens, demente. Diante da pluralidade de hoje, nosso autor  adverte:
                   Podemos responder de muitas e de diferentes maneiras à pergunta: o que é o ser humano? A questão e sua correspondente resposta encontram-se subjacentes às formações sociais, nas diferentes visões de mundo, nas diversas filosofias, ciências e projetos elaborados pelo ingênio  humano[2].

              Levando em conta a atual cultura, que enaltece a racionalidade científico-técnica, a imagem do ser humano é de um animal racional; um ser de necessidades; desejos; participação; sonhos; utopias; transformações; de imanência e transcendência. Mas, afinal, o que é o ser humano? Respondendo a essa pertinente questão Leonardo afirma: “é um ser de abertura. É um ser concreto, mas aberto. É um nó-de-relações voltado em todas as direções”[3]. Ou seja, é um sujeito histórico, pessoal, que se apresenta como masculino e feminino e traz consigo o germe do coletivo que se concretiza na construção de relações.  
            O ser humano se revela, inevitavelmente, como masculino e feminino. Porém, segundo Boff, nos últimos séculos a revelação entre esses dois gêneros foi sempre marcada pelo desequilíbrio. A cultura patriarcal acentuou o princípio masculino e renegou à mulher todas as características femininas. Aquele foi considerado o único detentor de racionalidade, e esta, um apêndice e adorno de satisfação daquele.  Esse desequilíbrio surgiu porque a harmonia foi quebrada através da dominação do varão. Para Leonardo, o masculino e o feminino entendidos no seu sentido filosófico como princípios, devem buscar a complementariedade na reciprocidade. Nesse contexto, ele faz referência à Simone de Beauvoir: “a mulher só se torna mulher sob o olhar do homem; o homem só se torna homem sob olhar da mulher”[4].
            Boff dá ênfase à valorização do feminino tanto no homem como na mulher; pois ao renegar o feminino o homem se tornou desumanizado e a mulher perdeu suas características determinantes. Aqui, as mulheres pagaram o maior preço, porque foram submetidas aos desejos e caprichos dos homens durante séculos, pra não dizer até nossos dias. Por isso, se torna fundamental o resgate da figura feminina, pois, “as mulheres são mais centradas na teia das relações pessoais, entregues ao cuidado da vida, sensíveis ao universo simbólico e espiritual, capazes de empatia e comunhão com o diferente”[5]. A sociedade atual é fria e calculista, pautada pelo lucro e pelo poder, justamente porque durante séculos perdeu a referência feminina como fonte originária da vida.
            Ao afirmar que somos nó-de-relações, Leonardo quer dizer que estamos em constante relação com tudo o que nos rodeia, pois desde a grande explosão do Big Bang o ser humano já estava lá em potencialidade. Ele nasce inteiro, porém, inacabado. Está em constante mudança e nunca chega ao fim, se encontra em permanente construção de sua existência. Nesse processo de desenvolvimento ele precisa cultivar relações saudáveis consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus.
Destarte, o ser humano se encontra em permanente construção, e, como ser desejante está sempre voltado para o ilimitado. Contudo, ele tem consciência de sua mortalidade, por isso, precisa buscar o equilíbrio entre o desejo que é infinito e sua realidade quotidiana que é finita; mantendo assim, uma fidelidade à sua interioridade. Para tanto, é imprescindível considerar a dialética que consiste em “manter juntos o enraizamento e a abertura”[6]. E isso acontece na concretude de vida, porém, numa perspectiva de transcendência.



[1]ARRUDA, M; BOFF, L. Globalização: Desafios Socioeconômicos, Éticos e Educativos. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 105.
[2] BOFF, L, Saber Cuidar. Ética do Humano - Compaixão pela Terra. 5ªed. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 34.
[3] Id., Tempo de Transcendência. O Ser Humano como um Projeto Infinito. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 36.
[4] MURARO, Rose Marie; BOFF, Leonardo. Feminino e masculino – uma consciência para o encontro das diferenças. Rio de Janeiro: Sextante, 2002,  p. 61.
[5] Ibid.,  p. 49.
[6] BOFF, L. Tempo de Transcendência, p. 63.

O problema ético na Mediação de Conflitos

     A mediação de conflitos pode ser entendida como um processo de intervenção instrumentalizadora por parte do profissional ou grupo preparado para fornecer às partes, condições para que estas encontrem por si mesmas, opções de solução nas crises instaladas em seus conflitos, buscando evitar os atos violentos comuns da não dialetização observada na vivência do cotidiano.
     O objeto da mediação é definido pelas tradutoras do livro Dinâmica da Mediação, de Jean-François Six, como “auxiliar os seres humanos a investigar suas melhores alternativas, suas mais satisfatórias possibilidades em face das suas situações de impasse, ou até para evitá-las...”

     A mediação deve promover a via do diálogo e da reflexão, levando as partes a uma postura alteritária e de respeito à heteronomia indispensável nas relações humanas. Mais que isso, a mediação visa a prevenir a violência.
     Considerando que a mediação vai fazer de uma forma ou de outra, uma intervenção na realidade das pessoas, há de se supor que algum critério ético seja desejável, ante tal intervenção.

     Leonardo Boff recentemente trouxe a público sua Ética para a Nova Era, propondo uma Ética do Cuidado, a qual vincula cuidado a responsabilidade. Para ele, as intervenções humanas na realidade requerem o cuidado e a responsabilidade coletiva.
“...a ética do cuidado protege, potencia, preserva, cura e previne. Por sua natureza não é agressiva e quando intervém na realidade o faz tomando em consideração as consequências benéficas ou maléficas da intervenção. Vale dizer, se responsabiliza por todas as ações humanas. Cuidado e responsabilidade andam sempre juntos”.

     Três questionamentos estabelecem a base da inquietação responsável pela busca de uma clarificação de ideias no que diz respeito à ética da mediação de conflitos. São eles:
1. Que princípios éticos regem a conduta das partes demandantes da mediação de seus conflitos por um terceiro?
2. Por outro lado, como e onde vai se posicionar, do ponto de vista da ética das relações, o mediador, ora sujeito, ora objeto do processo?
3. E o processo em si, até que ponto pode interferir, seja sobre as partes, seja sobre o próprio mediador, sem extrapolar os princípios éticos mais elementares em relação aos paradigmas culturais dessas pessoas?

     Ora, o simples fato da necessidade de intervenção de um terceiro, seja o Estado, seja outro indivíduo qualquer, já pressupõe uma postura ética, no mínimo questionável, por parte dos envolvidos no conflito, que demonstram pouca capacidade de dialetizar, ou seja, de enxergar como possível, ou legítima, a demanda do outro em coexistência com a sua própria.

     O mediador é um indivíduo sujeito às influências dos sentimentos próprios do ser humano que é, mais ainda os que possuem o dom natural da mediação, assim entendido como a capacidade inata de se identificar com o problema do outro e se dispor a colaborar na busca por solução. Esse indivíduo é exposto a uma situação que pode facilmente ser parecida ou igual à sua, o que pode ser demasiado danoso à sua necessária e indispensável imparcialidade. Isso, dentre outras inúmeras possibilidades de situações nas quais pode haver grande dificuldade para uma intervenção equilibrada e eficaz, nos permite questionar sobre a ética do mediador.

     Os resultados esperados do processo e mediação como tal, seja antes de tudo a emancipação da pessoa, com vistas à construção de uma sociedade menos vitimada pela violência, trazem em si uma grande responsabilidade, uma vez que implicam em dar a essas pessoas instrumentos para a libertação de situação de dependência, apontar para sua latente capacidade de criação e de autonomia e finalmente, despertar nelas o poder de discernimento e julgamento adequado de seus atos e posturas diante dos conflitos, bem como o respeito pelo outro como princípio orientador de conduta.
     Certamente isso implica no surgimento de novas demandas por parte dessa pessoa transformada e de possível frustração diante de uma nova realidade, carente de cuidado, tal como o homem que acaba de conhecer a luz do ambiente exterior à caverna de Platão.

     Além disso, há ainda a situação do próprio mediador enquanto objeto do processo, exposto que fica, à identificação, ou a situação análoga ao que em Psicanálise se chamaria de transferência, que podem, em maior ou em menor grau, trazer dano ao indivíduo.
   
     Eis, portanto, motivos justos para se indagar quanto à ética do processo como tal.

     A partir dessas três questões iniciais, que envolvem os principais atores do processo e o processo como tal, é possível desenvolver um estudo com vistas a apontar os aspectos relevantes no que diz respeito à mediação de conflitos como processo e ainda, às pessoas que o compõem, sob o olhar da ética aplicada, ou seja, sob a vigilância da aplicação da ética normativa, seja esta, a qual determina o que se deve fazer, ou, qual a melhor forma de se fazer algo, tendo em vista as consequências das ações.

     É por aí que estamos caminhando...

Estruturas psíquicas segundo a Psicanálise.

Estruturas psíquicas segundo a Psicanálise

Weverton Duarte Araújo.



O método psicanalítico passa pela elaboração do discurso do indivíduo.


Vale esclarecer que este trabalho visa a apresentar uma síntese do curso introdutório às estruturas clínicas, de modo que não haverá aqui a intenção de abordar com profundidade o tema. Assim, serão trabalhados apenas os aspectos principais e mais marcantes de um conteúdo muito maior e mais abrangente.

O analista precisa ter o pensar psicanalítico embutido em seu discurso. A ideia deste trabalho é tentar, pela via da construção de um discurso compatível com o discurso da psicanálise, elencar os aspectos que individualizam, ou pelo menos, dão pistas em direção a uma ou outra entre as possibilidades pelas quais se desenvolve a estruturação psíquica do ser humano, uma vez que nada é muito claro, nem estático, ou padronizado, no desenrolar da experiência analítica, assim como também não o é, no desenvolvimento das estruturas acima mencionadas e a qual estudo nos dedicaremos a seguir.
Assim sendo, tentaremos construir um discurso acerca da forma pela qual o analista pode chegar ao "diagnóstico" da estrutura psíquica do indivíduo submetido à análise.
Vale lembrar que o analista tem por objeto de sua escuta, entre outros, fazer um diagnóstico prévio e atualizá-lo constantemente. Não se pode, portanto, estabelecer um diagnóstico com base na teoria puramente, mas, e principalmente, pela experiência de se escutar o analisando e avaliar suas manifestações de transferência.
O diagnóstico estrutural é feito a partir da estrutura da linguagem. Essa linguagem é que traz à luz a estrutura, através da leitura que o analista faz do conteúdo do discurso do paciente. Isso só é possível na clínica, onde se dá a transferência ideal. 
Identificar o tipo de estrutura com a qual se está lidando pode poupar esforço e minimizar o sofrimento do analisante e a angústia do analista, uma vez que a repetição do obsessivo clássico não é a mesma repetição do histérico, por exemplo, embora em alguns pontos possam se aproximar e conduzir a uma interpretação equivocada.  É preciso escutar o sujeito e o seu inconsciente.

Neurose, Perversão e Psicose:

soluções de defesa diante da 

angústia da castração.


Há um dado momento, dentro do período conhecido como primeira infância, aproximadamente, mas não exatamente por volta dos 2 a 6 anos, quando o indivíduo é exposto à vivência da fase fálica (terceiro dos cinco estágios do desenvolvimento psicossexual segundo a teoria freudiana: (oral-anal-fálico-latência-genital)1 e se vê obrigado a optar por um posicionamento em relação à falta (castração) que se impõe.
Essa castração é percebida pela criança quando a presença do pai imaginário, introduzido pelo discurso da mãe como objeto de seu desejo, abala as "certezas" da criança sobre ser ela o objeto de desejo da mãe e de ser a mãe, objeto de desejo unicamente seu. Estabelece-se aí a rivalidade e o Complexo de Édipo, cujos desdobramentos vão ser decisivos na elaboração da estrutura desse indivíduo.
Todos nós optamos, em algum momento dentro daquele período de constituição do sujeito acima citado, por uma forma de nos relacionarmos com a ruptura imposta pelo acréscimo da figura paterna na relação mãe-bebê.
A esta opção se deve a forma pela qual esse indivíduo vai se relacionar com o mundo ao seu redor.
O indivíduo então se estrutura, em uma operação de defesa. A opção pela estrutura é involuntária. É uma escolha dirigida por diversas forças circunstanciais que são regidas pelas experiências individuais. Como e em que direção vai se dar essa estruturação é o que veremos adiante.

Diante da angústia da castração o indivíduo cria soluções de defesa e, irreversivelmente, se estrutura como neurótico, perverso ou psicótico. Essas categorias foram consolidadas basicamente a partir dos estudos e proposições de Sigmund Freud, relidos e atualizados e desenvolvidos por Jacques Lacan, principalmente.
Diversos outros estudiosos continuaram e continuam no trabalho de contextualização e atualização. Não se pode deixar de citar, por exemplo e a título de esclarecimento acerca do fato de que não se deve perceber as estruturas como algo fixo, imutável e inflexível, as incontáveis contribuições que o tema já recebeu e continua a receber. 
A exemplo disso, temos a proposição de Jean-Claude Maleval, que sugere a possibilidade do autismo como uma estrutura além daquelas acima citadas e já bem assimiladas. Resumidamente podemos apresentá-las como mecanismos de defesa diante da castração simbólica.
Convém destacar que há oposições diversas à proposição de Freud, o que não obsta estarmos estudando-a agora, a mais de cem anos depois de sua aparição.

O mecanismo da neurose (Verdrängung), que se manifesta sob as formas de histeria e obsessão, se baseia em uma sintomática nostálgica em função da perda a que o sujeito se submete ao aceitar (recalcar) o imperativo da castração simbólica.
No mecanismo da perversão (Verleugnung), o sujeito sintomatiza fixação ou denegação da realidade, uma vez que reconhece a castração simbólica unicamente com o intuito de transgredi-la (renegar – desmentir).
O mecanismo da psicose (Verwerfung), fortemente marcado pelos delírios e alucinações, se caracteriza pela rejeição total da castração simbólica, que o indivíduo forclui (deixa fora) de seu psiquismo, daí o termo “foraclusão da castração”.

Essas estruturas apresentam sintomas e traços, os quais, mormente os últimos, são importante fator para a distinção entre as estruturas ao se buscar um diagnóstico. Na coleta de traços marcantes da estrutura do analisando, o PAI e sua LEI formam o aspecto central a ser observado pelo analista. Como ele se relaciona com a metáfora paterna, aponta para a origem de sua estrutura psíquica.

Estrutura neurótica


A neurose pode ser caracterizada pela submissão (recalque) à Lei do Pai. O efeito do recalque permite o esquecimento do sofrimento do atravessar o Édipo, mas deixa a possibilidade do retorno desse recalcamento. A criança percebe que a mãe é castrada, quando ela percebe que a mãe deseja o falo representado pelo pai.
Assim, percebe que a mãe deseja outro, que não ela própria. Daí surge o sentimento de ódio pela mãe e pelo pai e começa a estruturação do neurótico. O neurótico mostra seu sintoma. Ele goza do sintoma. Inconscientemente ele se alimenta da repetição do sintoma a fim de manter o gozo. Ele prefere não se lembrar do recalcado para não abrir mão do sintoma.

Neurose histérica 

Se uma pessoa não consegue falar de seu desejo sem passar pelo desejo do outro, provavelmente se trata de uma estrutura histérica, pois sempre diz através do outro. Quando o sujeito escolhe pelo desejo do outro, apresenta-se o discurso histérico, onde o seu desejo se manifesta através do desejo do “grande Outro”.

Neurose obsessiva 

O obsessivo tem um desejo impossível. Realizar seu desejo é realizar o incesto com a mãe. Ele não pode realizar o desejo. Assim, vai "empurrando com a barriga", sem chegar a lugar nenhum. Ele imagina que o pai vai lhe castrar por ciúmes da mãe. Se o indivíduo não resolve esse problema na infância, há grande possibilidade de se tornar um adulto neurótico de estrutura obsessiva. O obsessivo se acha na impossibilidade de poder demandar, tornando-se servo do desejo do outro.


Estrutura Perversa


O perverso faz questão de transgredir a lei do pai e ficar com a mãe para si. Ele deixa a castração entrar parcialmente em seu psiquismo. Ele recusa terminantemente que a lei de seu desejo seja submetida à lei do desejo do outro.
Ao enfraquecer a figura do pai, negando-lhe o status de “suposto ter o que a mãe deseja”, o perverso pode voltar a se sentir o único objeto de desejo da mãe, capaz de sustentar-lhe o gozo.
A angústia da castração do perverso se dá na dificuldade de assimilar a diferença real entre os sexos. Ele se sente estimulado a não renunciar o objeto de seu desejo (a mãe), partindo para o desafio ao pai e à transgressão de sua lei. Ele busca produzir a angústia no outro.
O perverso tem modificada sua pulsão quanto à meta e quanto ao objeto. Isso explicaria tendências fetichistas e homossexuais, respectivamente.

Estrutura Psicótica


O indivíduo psicótico forclui (deixa de fora) a castração simbólica, por não dar conta mesmo da castração, porque a ideia de pai remete à ideia de falta. Ele faz então, uma suplência através de diversos subterfúgios.
A construção delirante é um traço forte e a alucinação auditiva é marcante na psicose. O psicótico fixa no oral.
O sujeito da psicose não é barrado pela castração como os neuróticos e nem reconhece parcialmente, que seja, a lei do pai, como os perversos. Ele simplesmente não deixa entrar a metáfora paterna em seu psiquismo.
O desejo do psicótico é ilusório, delirante, alucinado. No delírio o sujeito “inventa” um Outro do desejo, que sustente o lugar de sua falta, a qual, embora negada, é presente.


Conclusão


Posto que o fetiche na perversão, a fantasia na neurose e o delírio na psicose são, em resumo, sempre uma resposta do real à falta, cada um desses "sintomas" com seus diversos traços, podemos apostar preliminarmente, a partir desses pontos em que diferem as estruturas, para estabelecer o diagnóstico.
Cabe então, ao analista, estar apto a escutar no discurso do analisando, seus “ais” (angústias, inibições, sintomas) que a linguagem não esconde, antes, explicita.

1Freud, S. (1905). Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade