Compartilhe nosso conteúdo

Homens velhos, meninos ainda.

Weverton Duarte Araújo


O momento que vivemos é de incertezas, insegurança, bem ao tom do conceito central da obra de Bauman. Vivemos sim, tempos de liquidez dos conceitos. Nenhuma ideia, nenhum posicionamento, nem quando vindos de parte de indivíduos ou grupos reconhecidamente radicais, ou fundamentalistas, podem receber nossa aposta cega. No dia seguinte, é muito fácil depararmos com uma declaração de que "não foi bem isso que eu quis dizer", ou, "minha fala foi tirada de contexto".

Tornou-se comum, aceitável, "normal", as pessoas não precisarem mais se responsabilizar por seus atos, por suas falas. Homens velhos, que antes eram respeitados por sua trajetória, por sua experiência de vida, maturidade e equilíbrio, hoje se tornam motivo de chacota, ao se envolverem em imbróglios que até uma criança mais atenta evitaria.

Os jovens, da mesma forma, e até com certa justificativa, já que se espelham nos seus antecessores (para copiá-los ou fugir de seus exemplos), tem confirmado a previsão possível de ser encontrada nos textos lacanianos, já por volta de 1960, de que o século XXI traria uma geração de perversos, movidos pela falta da falta. Aí está essa geração, herdeira do excesso de direitos e da falta de limites, de pais que se orgulham em dizer "meu filho não vai passar o que eu passei". Liberdade sem responsabilidade. Eis o que nos aflige.

Demandar, todos nós demandamos. Viver é um sem fim de buscar o aval do outro como norteador de nosso desejo. Mas, entregar nossa vida nas mãos desse outro, negar nossa subjetividade em prol do desejo do outro e a ele nos submeter, é, no mínimo, preocupante. E o que mais temos visto nos últimos tempos, é essa negação da subjetividade, em favor de uma receita pronta, que não tem dono. Filhos que não tiveram falta, não sabem lidar com ela. Não percebem que o que não tem dono não é do outro, mas também não me pertence.

Estamos fugindo de repetir um modelo que repudiamos, e assim, caímos na tentação niilista de crer no não ser, para não ser como o que não queremos ser. Mas, o que queremos ser, não sabemos. Desse modo, não estabelecemos vínculos, não criamos ou adotamos conceitos já conhecidos, vivendo como eternos fugitivos da própria sombra, "exilados e sem destino", segundo Maria Ester Jozami, psicanalista e escritora argentina.

Não crescemos para não ter que assumir os papéis destinados aos adultos. E o mundo vai de mal a pior, abarrotado de cegos guiando cegos. Meninos birrentos que insistem em repetir a sina de Peter Pan, do Pequeno Príncipe, de Alice, de Truman... Mal sabem eles, esses nossos meninos, que somente gritar "parole", não faz abrir as portas da prisão.