Em Belo Horizonte, pelo que se pode constatar no noticiário dos
últimos dias, é mais vantajoso ser um gorila ou uma capivara, que
ser humano.
Sim, pois, os gorilas do zoológico municipal receberam tanta
atenção, que agora, até o Ministério Público (como se faltasse
assuntos legitimamente humanos para lhes justificar os altos
salários), a título de prevenir uma possível associação das
origens dos símios com as origens de certa parte dos humanos (origem
essa que é fato inegável, posto que ambos vieram do continente
africano, como nos ensinaram os livros escolares), partiu para diante
dos holofotes em disputa com a administração municipal, afim de
evitar que o gorilinha recém nascido receba nome que faça lembrar a
verdadeira origem de seus ancestrais africanos. Temem os Promotores
que algum indivíduo humano que tenha ancestrais africanos possa se
sentir comparado aos gorilas e por isso, menosprezados, vitimado por
algum tipo de racismo.
A administração municipal, por sua vez, visivelmente sem trabalho
importante a fazer em prol dos humanos citadinos, gasta seu tempo em
estudar um modo de esterilizar as capivaras da Lagoa da Pampulha, de
modo que em alguns anos a população dos roedores diminua, fazendo
sumir milagrosamente os carrapatos estrela, verdadeiros responsáveis
pela transmissão da febre maculosa. Essa história das capivaras já
virou novela, e das ruins.
Ora, preciso desesperadamente repetir o que tenho dito, como se fosse
eu uma daquelas matracas litúrgicas, que ninguém quer ouvir: Ou
mudamos o foco das ações dos governantes e administradores da coisa
pública neste país, ou logo logo, não teremos mais país a ser
governado ou administrado. Ou cuidamos do que tem que ser cuidado,
deixando de lado as ambições pessoais, as vaidades e as paixões
individuais, ou a sociedade não suportará tanto desmando, tanto
egoísmo e tanto erro. pagamos caro demais para receber tanta
incompetência.
Insisto na tese de que nenhuma pessoa poderia ser empossada em cargo
na administração da coisa pública, sem que tivesse, antes de
postular tal cargo, se submetido a uma formação específica em
administração pública. Escolas boas para proporcionar tal
conhecimento, é certo que temos. Falta então, a boa vontade e o
envolvimento do próprio povo, posto que os atuais administradores,
pelas suas ações, certamente não vão querer investir na
capacitação de seus sucessores.
Aos que, pelo contrário, se dão ao louvável trabalho de defender
as causas da sociedade que lhes remunera e sustenta, parece faltar
foco, ou sobrar criatividade, posto que investem em empreitadas que,
se não inúteis, no mínimo perdem em importância para tantas
outras que são deixadas de lado.