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Do excesso nosso de cada dia.

Weverton Duarte Araújo

Há tempos estamos em silêncio, eu e minhas inquietações. Não que nada esteja me incomodando, mas, se impôs sobre nós um silêncio sepulcral, daqueles que deixa a gente sem palavras mesmo. Mas, diante das circunstâncias, dou conta de me perdoar.

Nestes últimos tempos eu tenho lido muito; tenho estudado. Até voltei para a faculdade. Sim, estou estudando Filosofia pelo método EAD, coisa que eu achei que nunca faria.

Mas, de onde vem esse silêncio? Por que a gente fica tão calado diante de um mundo tão tumultuado e barulhento? As coisas estão aceleradas, amontoadas e desorganizadas. Muitas vozes a dizer muitas coisas, mas as palavras adequadas nos faltam. Faltam posicionamentos inteligentes e opiniões menos categóricas. O que ouvimos todos os dias são pessoas desesperadas, iracundas, esbravejando suas certezas de que o outro é culpado de tudo o que não está bem para seu gosto.

Virou moda acusar, apontar erro alheio, condenar e exigir punição. As redes sociais, já dissemos em outra oportunidade, deram voz a uma multidão, antes muda por falta de espaço, agora verborrágica, por falta de limites e excesso de espaço. Poucos são os que contribuem com uma reflexão sensata, isenta de julgamento e de ódio pré-formatado.

Diante de um ano que começou com poucas expectativas e se encaminhou para um futuro mais incerto que se pudesse esperar, todos fomos pegos de surpresa. Ninguém neste mundo estava preparado para algo como a pandemia que abalou toda a economia e influenciou a política mundial de forma talvez jamais observada. O mundo globalizado e de conceitos líquidos é muito mais frágil que o mundo que enfrentou a pandemia anterior, há cem anos.

Mas ainda há algo a ser observado, que vem crescendo de forma assustadora e perigosa: um excesso nas relações, que antes não era tão perceptível. Se observarmos os noticiários, os boletins de ocorrência, as nossas próprias experiências cotidianas, fica fácil perceber esse excesso. O ódio pelo outro, que deveria ser algo mantido sob o controle da civilização, está florescendo e frutificando aos borbotões.

A pressa em julgar e condenar, em determinar rapidamente um culpado, não parece querer atingir a Justiça, mas antes, ocultar a própria incapacidade de sermos justos, apontando para o erro do outro e exigindo punição urgente e exemplar. Muitas vezes a "justiça" é feita ali mesmo, ao arrepio das leis e do sistema jurídico.

O que buscamos com isso e onde chegaremos se permanecermos posicionados como se vivêssemos em guerra constante contra tudo e contra todos? A que lugar esse excesso nos levará?
Bom... Quebro meu excesso de silêncio para dizer que a vontade que tenho é de não dizer nada. Tantos já falaram... De Sócrates a Zaratustra, de Jesus a Gentileza... Mas a humanidade parece não querer ouvir. E vamos todos nos permitindo contaminar pelo ódio, pelo narcisismo e pelo egoísmo sem limites.

Há sim, um excesso de desinteresse das pessoas pelas outras. Só nos interessa o que o outro pode nos oferecer. E não há, na maioria de nós, pelo que se pode observar, uma disposição a mudar o estado das coisas. Ao que parece, estamos secando, nos tornando menos capazes de amar a cada dia que passa. Isso preocupa a quem leu e creu em Freud, já que ele afirmou que "precisamos amar para não adoecer".
E estamos adoecidos e agravando a cada dia o estado clínico de nosso adoecimento. Caminhamos para um isolamento que poderá ser fatal à humanidade. 

O narcisismo além do necessário (sim, uma dose de narcisismo é essencial); o egoísmo idólatra (sim, há que se investir no ego um certo tanto); o ódio desmedido e injustificável (sim, deve haver espaço em nós para odiar também); a violência descontrolada (sim, a violência está em nós, mas carece de controle); todos esses e outros excessos, precisam ser equilibrados em cada um e em todos nós urgentemente.

Pronto. A teoria está aí (incompleta, obviamente). Como colocar em prática???