Compartilhe nosso conteúdo

Autofagia social - Os fortes sobreviverão.

Nossa sociedade está atravessando uma das maiores crises de sua história. É possível que este momento venha a ser lido no futuro como um marco, a partir do qual se definiu o começo da mudança de hábitos e de costumes no Brasil.
Não creiamos que essas mudanças se darão de forma suave, sem sofrimentos. Há que se cortar na carne de cada um. Na carne mesmo.
Exemplo de que há que se mudar posturas é a falta de água nos grandes centros, como já começa a ocorrer em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo. Se no ano passado choveu menos que o esperado, em três meses deste ano já se mostrava o colapso do sistema de abastecimento da maior metrópole do país. Governos se alternam há décadas, sem que uma ação preventiva (de inteligência de Estado) tenha sido seriamente considerada, ou posta em andamento. Agora, quando a natureza não faz cair o maná das nuvens, os "especialistas em ações emergenciais" aparecem com os planos mais exóticos, que todos sabemos, não resolverão o problema. Mais provável é que alguns oportunistas venham a engordar suas fortunas a partir da desgraça e do desespero coletivo. 
É possível que de agora em diante, se perceba que fugir do Nordeste para São Paulo não significa fugir da escassez de água, mas, disputá-la com mais gente em menos espaço. Talvez essas sejam as palavras tortas da Providência a nos advertir sobre o quanto temos andado em círculos, o quanto somos míopes e imediatistas.
Outro aspecto intrigante, resultante da aglomeração de indivíduos em um espaço resumido e inadequado, nos aproxima de outros animais, como as galinhas, cujas sociedades, em casos de superpopulação, entram em colapso e partem para o canibalismo como mecanismo de controle populacional, o que resulta em uma autofagia étnica, um tiro no pé da própria espécie.
Isso de certa forma, explica o acelerado e injustificável aumento dos níveis de violência que temos experimentado. Indivíduos, cada vez mais jovens, se envolvendo em atos de violência jamais vistos, sem uma motivação plausível, ou algo que ao menos explique.
Se não fomentássemos o acúmulo de pessoas nas metrópoles; se, pelo contrário, houvesse investimento em uma distribuição pulverizada de condições de sobrevivência pela vastidão de terras de que dispomos, certamente não se consumiria toda a água dos reservatórios paulistanos, por exemplo.

É possível que em breve, por mera questão de sobrevivência mesmo, haja uma inversão nos movimentos de migração interna no Brasil. Para fugir da violência e da falta de recursos indispensáveis como a água, precisaremos nos dispersar, “desinchar” as grandes cidades. Se não for assim, ficaremos sujeitos ao que previu Darwin: só os mais fortes sobreviverão.

Olho por olho... como conter o efeito colateral do remédio caseiro?

Olho por olho, dente por dente. Acabaremos todos cegos e banguelas.

Há pouco tempo eu mesmo conclamei aqui as pessoas a saírem da inércia e a reagirem contra a violência do dia-a-dia, contra a violência institucionalizada, contra o não reaja imposto pelos que nos querem dependentes.
É claro que não sou eu, nem um outro pensador qualquer, o motivador de quem quer que seja. As pessoas reagem quando sentem que não há quem o faça em seu lugar. Assim, como muitos previam, já estamos experimentando a sensação de insegurança social que prevemos há poucos meses. E nós mesmos não acreditávamos que isso aconteceria tão cedo. Mas já está acontecendo.
Espalham-se pelo país, já dezenas de casos em que os cidadãos, cansados de esperar pela ação da Justiça, cansados de ver se multiplicar a injustiça e a sucumbência da segurança pública, partem para a ação em defesa de si mesmos e de seu patrimônio.
Ladrões estão sendo amarrados em postes, acorrentados, espancados e como era de se esperar, a primeira morte já ocorreu. Sim, um infeliz tentou perpetrar um roubo em um coletivo em Belo Horizonte no dia 01 de março de 2014. Os próprios passageiros, sabedores de que se ele fosse preso, não ficaria na cadeia mais que alguns dias, resolveram dar vazão ao desejo de justiça. Espancaram o sujeito ali mesmo dentro do ônibus e o despejaram em um ponto de parada, já sem vida.
É de se lamentar que as coisas tenham chegado a tal ponto. O Estado não tem, nem terá condições reais de conter a criminalidade e pior que isso, não poderá evitar que o povo, desprovido da proteção pela qual paga e paga caro com impostos e taxas sem fim, parta para a ação e se defenda a si mesmo.
Certamente surgirão os defensores dos direitos humanos, que só aparecem mesmo para defender os direitos dos criminosos, para pregar a não violência por parte da sociedade, a despeito da violência que esta sempre sofre, como vítima que historicamente tem sido. Mas isso também não conterá os justiceiros da causa própria, os quais não podem mesmo ser acusados, já que agem em legítima defesa.
Daí que corremos o risco de entrar em um círculo vicioso sem precedentes e sem uma perspectiva de saída desejável. A lei de Talião é um sopro etílico na centelha de violência em nós contida pela repressão da civilização. Se não se consegue conter a doença, como agora conter o efeito colateral do remédio caseiro?