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31 de março. Não se cura falta de ética com falta de liberdade.


Diante da insistência de alguns na defesa de uma intervenção militar no Brasil, face ao caos que se implantou no nosso sistema de governo e administração pública, contribuo com o seguinte:
 
A vida da caserna pode ser instigante, excitante, moralizante e portadora de um sem fim de adjetivos nobres. As organizações militares são capazes de desempenhar tarefas de alta complexidade quase sem erro, devido à organização, a disciplina e o espírito de equipe que obrigatoriamente une  seus componentes.
Há, porém, dois aspectos fundamentais que não podem ser negligenciados na formação de um grupo de militares, sejam estes a voluntariedade e a finalidade. É necessário que alguém opte, seja qual for a motivação, por se submeter a um regime militar, para que sua participação seja eficaz e produtiva para com as finalidades do grupo. Também sabemos que um exército tem a finalidade de impor pela força, não de governar. Governar é função de qualquer outro, menos de um exército.
Este preâmbulo tem a finalidade de evocar o grande equívoco cometido pelos que entronizaram os militares no Brasil em 31 de março de 1964. Não desprezemos qualquer ganho obviamente obtido durante os 20 anos que se sucederam após aquela data. É claro que muitos pontos positivos poderão ser apontados pelos que hoje defendem, mesmo sem ter experimentado de per si, o retorno da administração militar sobre o país.
A titulo de advertência a tais incautos, ainda que bem intencionados e assim como nós, descontentes com os 30 anos de desordem que se acumularam após o fim do chamado governo militar, trazido pelo movimento legítimo e voluntário de grande parte da população, bem como, com a necessidade de acompanhar a evolução que o resto do mundo já experimentava, vale lembrar que o mundo continua evoluindo e a largos passos, em sua eterna oscilação cíclica.
Não se vê atualmente, antes pelo contrário, sociedades se fechando em regimes anti-democráticos. As poucas exceções se observam na África e no Oriente Médio, onde o que se tem de resultado são as infindáveis guerras civis, ou o domínio de sangrentas teocracias militarizadas, ou seja, violência, guerra, fome e miséria. Daí podemos apreender uma lição simples: Em um tempo de evolução crescente e acelerada, com inúmeras possibilidades de divulgação de informações acessíveis a todos, não cabe, definitivamente, desprezar aqueles aspectos anteriormente citados.
A liberdade de escolha, a submissão voluntária (ainda que movida por necessidade, ou algum interesse vil), o envolvimento popular, não podem ser desrespeitados. A democracia é um conceito já bem assimilado, mesmo que sua prática ainda não tenha sido levada a termo. Ainda isso não seria motivo par buscar sua substituição por qualquer regime que a negue.
Assim, há que se pensar se queremos salvar a perna ferida, ou arranca-la inteira, mesmo antes de tentar uma das diversas outras possibilidades de tratamento disponíveis. Não alcançamos nossa incipiente democracia por meio de posicionamento radical ou violento. Nas urnas temos tentado – mais errando que acertando – e ali, nas urnas, temos que continuar a buscar essa construção.

Por fim, tendo vivido esses 50 anos de equívocos administrativos, posso deixar minha contribuição para o futuro. O que falta ao Brasil não é mera aparência de rigidez no comando de um poder executivo autocrático, que desrespeita, suborna, ou manipula os demais poderes e a opinião pública. O que nos falta é educação, desde o berço. Observemos o que o governo que se aproxima da ideia da militarização tem feito com o ministério da educação e com outros interesses sociais da nação.
 
Uma coisa é certa: Observem nossos presídios. Não se cura falta de ética com falta de liberdade.

Economia da informação

     Hoje eu quero falar de economia. Na verdade, quero falar de desperdício. Do desperdício enorme de energia, de tempo, de capacidade produtiva que podemos perceber ao acessar as redes sociais, especialmente o Facebook, que já está ficando chato, de tanta bobagem, de tanta inutilidade, de tanta má utilização de recursos, os quais poderiam fazer diferença na vida de muitas pessoas ao nosso redor, se usados de forma racional e inteligente. 
     Mas o que temos é uma legião de crianças mal criadas, com muitos direitos e poucos deveres, sem a menor noção do espaço que ocupam, sem respeito, sem educação mesmo. A sociedade de consumo trouxe a liberdade de expressão e as ferramentas necessárias para essa expressão estão disponíveis a todos e a qualquer um. Mas as regras de utilização do espaço da informação não foram estabelecidas.  
     Não podemos esperar que o mercado crie regras de conduta, uma vez que este seria papel de antigas instituições  que já não existem. Falo das instituições que outrora eram responsáveis pela formação e manutenção dos valores morais. Falo da família, da igreja, da escola. Falo desses redutos de disseminação valores que a sociedade mercantilista moderna precisa sufocar e manter contidos para que as fábricas continuem a produzir, as lojas se mantenham abertas e os consumidores tenham o que comprar. Não importa o futuro do planeta, nem mesmo dos seus habitantes. O que importa é fabricar e vender.
     Pois a cada dia novas ferramentas de comunicação são desenvolvidas. Isso é bom e poderia ser de grande utilidade. Infelizmente nos falta saber como utiliza-las. Daí vivermos reféns do que o mercado nos oferece. Nossos limites são estabelecidos por discursos cujas origens jamais questionamos. Nossa educação é determinada não por conceitos sociais, mas por interesses  comerciais. E não sabemos quem define os limites, quais interesses os orientam. Apenas nos cabe curtir, compartilhar e, raras vezes comentar. 
     Pensar é um verbo que está caindo em desuso. O tempo que gastaria pensando é melhor gasto - disse gasto e não utilizado - em jogos digitais ou aprisionado na repetição de curtidas e compartilhamento de informações que já vieram prontas e parecem boas - com imagens fortes e o mínimo de texto. Pouco importa o conteúdo, a fonte ou a veracidade.
     Então gastamos desordenadamente o nosso tempo, sem compromisso com o futuro do mundo, da sociedade que estamos construindo para nossos filhos e netos. Procuramos apenas algum tipo de satisfação da necessidade individual de pertencimento, de forma hedonista e irresponsável.
     É a economia da construção social atual, que derruba paredes em nome da liberdade, mas não oferece substitutivo à função protetiva que as paredes desempenhavam. Ficamos livres das limitações sociais, mas completamente expostos e desprotegidos, presos  a regras desconhecidas, impostas por desconhecidos.

A plebe patética aplaude...

Algumas coisas precisam ser tratadas com mais cautela que outras, se queremos ter o respeito de quem nos ouve. Nossas palavras precisam ser pensadas antes de estarem prontas a sair de nossas bocas, se queremos estar de acordo com o que a sociedade cobra das pessoas equilibradas, ou seja, se desejamos ser contados entre os racionais. Não estamos falando de racionais que usam a razão para embasar suas palavras com certo grau de lógica em sua articulação, mas de racionais que raciocinam, ponderam, buscam equilíbrio, agem com sobriedade e bom senso.
Bom senso é o que tem faltado a muitos brasileiros que, não todos é claro, mas certamente alguns, até movidos por louvável intenção, sem entretanto fazer uso da racionalidade à qual me refiro acima, usam e abusam indiscriminadamente da não menos louvável liberdade que, a despeito de ser escassa em muitas partes do mundo, desfrutamos sem limites cá nas terras brasileiras.
Sim. Aqui podemos falar e fazer tudo o que desejamos. Nem as leis precisam ser respeitadas. Isso mesmo!!! Para quem não percebeu ainda, vivemos em um estado de exceção velado. Prova disso é que membros do Ministério Público, poder paralelo que se tornou a partir da promulgação da Constituição de 1988, já estão se sobrepondo aos princípios legais mais básicos, em nome da autopromoção, em busca da fama a qualquer custo.
Ou é outra coisa o que busca o senhor promotor de justiça Cassio Consentino, ao expor na mídia uma investigação envolvendo pessoa pública, antes mesmo de formalizar acusação, assim como tem feito alguns outros promotores e também juízes?
Ora, os cargos ocupados por estes senhores nos leva a pressupor que sejam exímios conhecedores das leis do país, responsáveis que são pela defesa da legalidade e do cumprimento das leis pelos paisanos seus pares. Mas, pelo contrário, são eles próprios grandes ofensores dos ditames legais. São eles que, ofuscados pelo egoísmo, deslumbrados com a fama (mesmo que à custa da exploração da desgraça alheia e em detrimento de seu juramento de fazer cumprir a lei), se entregam ao delicioso calor dos holofotes, ao inebriante espoucar dos flashes e aos aplausos ridículos de alguns representantes desesperados da velha e decadente classe média que se vê cada vez mais longe dos ricos e mais perto dos pobres.
E esses servidores do povo, que deviam perseguir a todo custo o cumprimento das leis que regem nossa sociedade, atropelam eles mesmos tais regimentos, banalizando, vulgarizando, empobrecendo um sistema jurídico que por si mesmo já é pobre, frágil, envelhecido e desatualizado. E que se dane nossa jovem e não menos frágil democracia.
Para que não haja parcialidade no que digo, reprovo com a mesma veemência a atitude do Juiz Sérgio Moro, que deveria, como Juiz de Direito envolvido em um caso de tanto vulto, fugir das câmeras, evitar falar fora do processo. Mas ele sai a dar palestras, catar premiações e expor sua opinião pessoal em público. O mesmo serve para Delegados de Polícia que se manifestam publicamente acerca de inquéritos em andamento, vulgarizando o trabalho de investigação e promovendo o próprio nome para as próximas eleições ao legislativo.  
Se colocar diante das câmeras afirmando que fulano ou sicrano é responsável por isso ou aquilo, certamente não é o papel de investigadores, promotores ou juízes. Aos investigadores cabe reunir provas e encaminhar à Justiça, aos promotores cabe, quando for o caso, ratificar a investigação e oferecer denúncia à Justiça. Aos juízes cabe julgar. Não há previsão legal para que algum desses servidores levem ao público suas opiniões. Qualquer rábula perceberia o abuso e os atropelos.
Mas, como disse acima, eles estão atropelando as leis e fazendo do exercício de sua função, palco e palanque.

E a plebe patética, de pé aplaude...