Quem já dirigiu um carro
antigo, fabricado antes dos anos 1960, que usava sistemas de freios a tambor
nas quatro rodas, vai ter noção do que pretendo usar como ilustração. Eram
freios fracos, lentos, mas, adequados aos veículos da época, que por sua vez,
tinham motores menos eficientes, menos potentes, mais lentos. Já a sociedade da
época, essa andava a passos moderados, com tendência a acelerar, mas tinha fortes e eficientes sistemas de freio social.
O sistema de freio social
composto pela família, pela escola, pela igreja, impunha limites éticos,
morais, relacionais. É claro que ninguém se submetia com total prazer às
limitações impostas pelo sistema, mas temos que admitir que ele funcionava.
Acontece que os sistemas de
freios foram se aprimorando conforme os veículos foram se desenvolvendo. Mas,
os freios sociais foram abandonados pelos construtores da sociedade, tratados
como item supérfluo e até mesmo indesejável. Assim, começaram a ser copiados os
modelos sociais de povos em estado de desenvolvimento completamente diferente
do nosso, mas, tidos como modelos mundiais. E esses modelos já estão dando
sinais de mau funcionamento há tempos, embora continuem sendo largamente
copiados, pra não dizer adorados.
Os carros passaram a usar
sistemas de freios hidráulicos e recentemente, o ABS já é usado na maioria dos
veículos, dando grande segurança nas frenagens, evitando alguns acidentes. Mas,
na contramão dessa evolução, os freios sociais foram completamente
abandonados, tratados agora, como coisa de gente atrasada.
Os jovens vão para as ruas,
quebram tudo, jogam bombas e coquetel molotov na polícia e fica por isso mesmo.
Os jovens, por não terem sido dotados de sistema de freio social individual, o
qual deveria ter sido instalado na criança e testado com frequência, pegam os
carrões potentes, com excelentes sistemas de freios, mas não o usam
adequadamente, matando pessoas nos passeios públicos e se matando entre as
ferragens retorcidas. Um sistema de freio social devia ter funcionado para
evitar tais situações.
Concluo pois, que a indústria
automobilística parece estar melhor capacitada para criar filhos e formar
cidadãos, que as nossas famílias, nossas instituições, nosso Estado.
Seguindo o mesmo princípio que parece ter sido usado
pelos desenvolvedores de veículos, não deveríamos aumentar a capacidade dos
freios sociais, à medida que se desenvolve a capacidade de aceleração das
pessoas? Sim. As pessoas a cada dia conseguem fazer as coisas mais rapidamente,
com mais liberdade, com acessibilidade, com menos entraves. Quem quer correr,
corre.Quem quer voar, voa. Mas, onde está o pedal de freio?
Muito , muito feliz a analogia. Muitas vezes escutamos comentários de que o tempo está passando rápido demais. Creio que tal sensação de vertigem temporal está ligada ao que o autor descreve como falta (ou mau uso) dos freios sociais e a vontade de se ter o máximo de prazer com um mínimo de tempo de espera - se for nenhum, melhor ainda! Onde a maturação do desejo? Onde a resiliência da vontade se formará? Sacrifício, disciplina, trabalho e ordem são vistos como anacrônicos e inimigos da felicidade e da liberdade. Criamos toda uma geração de gente hedonista, preguiçosa e egoista. E o pior: tem muita gente dita "madura" com tais convicções. A escola é um lugar priviliegiado de observação desses fenômenos. Hoje adora-se a velocidade e se perde com isso a beleza da paisagem.
ResponderExcluirAssocio-me ao Professor Geraldinho parabenizando o autor e dizendo que a comparação é extremamente feliz e pertinente. Hoje vivenciamos a "falta de freios" a todo momento e é necessários que os nossos governantes como "engenheiros sociais" apresentem novos projetos de tecnologia avançada para o caos que se instala. Velhos problemas que precisam de novas soluções!
ResponderExcluirótimo texto! Dando sequencia a analogia feita pelo autor, Quando se descobre problema em um veiculo que já está nas ruas, o correto é chamar de volta a fábrica e fazer o recall, vejo que isso não é possível na sociedade uma vez que a própria já desgovernada quase sem freio não tem condição nem mesmo de ser guiada para uma possível restauração do sistema.
ResponderExcluirEntão a minha visão é no futuro, pois é certo que uma sociedade quase sem freio não ira gerar filhos com freio ABS.
Por fim vejo que o freio está no investimento da educação, onde os
mini-veículos que "deveriam" e estão na escola possam aprender com eficiência o correto e que seja-lhes instalado o freio ABS dentro da escola, visto que as vezes esse item não sairá de fábrica.
Então Erick,vc tem toda razão. E dando sequência à metáfora, penso que, assim como as montadoras treinam seus funcionários para o uso das novas tecnologias em seus sistemas de freios ABS e outros...o Estado devia assumir a obrigação de preparar melhor seus professores, pois talvez estes sejam os únicos que ainda nos possibilitam um fio de esperança em uma sociedade melhor; pois como vc mesmo disse, a familia não está dando conta de colocar os limites nos filhos. Agora, se tudo é descarregado na escola, ela devia receber preparação humana e tecnológica para isso. E aqui mora minha maior preocupação: ela está sucateada, assim como as outras instituições, a diferença é que ainda algumas pessoas acreditam em sua recuperação e funcionamento. Tudo isso gera algumas preocupações em nós, que fazemos parte do sistema educativo,mas também nos enche de esperança.E isso é muito bom!
ExcluirDe fato meu nobre amigo os freios sociais funcionaram, mesmo que proporcionando disprazer em muitos até o século XIX. Sua característica conservadora, valorizava o Estado e a família, como se seus próprios códigos de organização e conduta fossem princípios universais indicadores de perfeição. Mas se retrocedermos para o seculo XVIII identificamos um tempo de liberdade baseado na razão o que lhe daria o titulo de Século das Luzes em detrimento dos séculos anterios em que o primitivo era o instinto mais dominante. O príncipe de Wied-Neuwied em visita ao Brasil no início do século XIX e aqui estudou a flora, a fauna e as populações indígenas, descreveu da seguinte maneira os botocudos:
ResponderExcluir“Domina as suas faculdades intelectuais a sensualidade mais grosseira, o que não impede que sejam às vezes capazes de julgamento sensato e até de uma certa agudeza de espírito. (…) Mas, como não são guiados por nenhum princípio moral, nem tampouco sujeitos a quaisquer freios sociais, deixam-se levar inteiramente pelos seus sentidos e pelos seus instintos, tais como a onça nas matas.”
O que parece é que os botocudos contra-atacam novamente ou melhor, o que assistimos hoje é a Fenix dos botocudos.
É fantástico seu texto, assim como são contundentes os comentários acima. O diagnóstico é certeiro, preciso.
ResponderExcluirSinto que estamos cada dia mais eficazes em diagnosticar em perceber as mazelas, as fraquezas de nossa sociedade, pois, a doença da banalização já tomou conta da maior parte das instituições sociais que poderia pelo menos apresentar convicções de modelos morais e éticos de conduta social.
Urge buscarmos os caminhos afim de avançar para além do diagnóstico.
O tratamento, a cura para essa sociedade sem freios qual é?
Olá! adorei a metáfora dos carros e das pessoas! Hoje temos super máquinas e também super cérebros, pessoas turbinadas com seus neurônios potentes realizando tantas atrocidades. Fico pensando quando vamos turbinar o coração? Pois só assim encontraremos o freio adequado para mentes desenfreadas , a sabedoria para vida vem do sentir e não do entender!
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
Mônica Alvares
O gigante está acordando de um sono de anos e anos.Acorda Brasil!
ResponderExcluirTriste verdade, além de desprovidos de freio estamos ladeira a baixo, alcançando a cada dia maior velocidade. Ai de nós quando chegarmos ao fim da ladeira.
ResponderExcluirExcelente texto e os comentários acima são todos coerentes e, no meu ponto de vista, certos.
ResponderExcluirMas concordo no que se refere à urgência de aprimorarmos os freios sociais, pela família e pelo Estado.
O texto continua atual. Ainda mais agora, momento em que os bandidos assumiram o comando oficialmente!
ResponderExcluirE me pergunto : este Estado tem condições impor algum tipo de limites? Como? Se perdemos a referência ética!