Ousei fazer um trocadilho
com o título do clássico de Max Weber, a fim mesmo de tentar
atingir os brios dos que se dizem cristãos sem ao menos saber as
implicações éticas, morais e sociais a que se vê exposto aquele que
resolve ostentar tal título.
Acontece que uma grande
parcela da sociedade brasileira abraçou nos últimos anos o direito
à livre manifestação de culto garantido pela Constituição
Federal, muitos levados pelo modismo, outros pela pura ganância
mesmo. Uns se tornaram verdadeiros tietes de “cantores gospel” ou
de padres, missionários, pastores, bispos e bispas, apóstolos e sei lá
mais quantos títulos sob os quais se escondem pessoas de atitudes
nada recomendáveis a quem se diz pregador da Palavra de Deus. Outros
demonstram, pelo seu discurso e prática, estarem dispostos a fazer o
que for preciso para se verem no direito de exigir de Deus a bênção
(material na maioria dos casos), pela qual pagam aos autointitulados
retromencionados. Não precisamos lembrar as frequentes denúncias de
enriquecimento ilícito a eles atribuído.
Mas o que me move aqui,
não é mais que demonstrar o quanto estão inculcados nas pessoas os
valores da lei do mercado consumista no qual vivemos, a ponto de
ofuscar a muitos, impedindo-os de discernir entre o que é regra do
mercado capitalista e o que deveria permanecer na esfera do sagrado,
do transcendente. Pois se tornou normal e aceitável nas igrejas, as
pessoas negociarem com Deus, com prazos, valores e condições bem
estabelecidos. Não é mais como antes, quando Deus, por sua vontade
estabelecia pactos e ditava as regras. Agora o crente vai a Ele (a
seus representantes) com o pedido pronto, estabelece a forma de
pagamento e já começa a exigir a entrega.
A semelhança com o
mercado não para aí, pois, assim como temos que adquirir um bem
novo, às vezes antes de acabarmos de pagar o anterior, também os
cristãos do Século XXI buscam nos shoppings da bênção os
produtos importados do mundo espiritual. E são produtos de vida útil curta e que atendem a fins muito específicos.
A concorrência entre
esses shoppings é tão interessante, que os pontos de instalação
são cuidadosamente escolhidos e as lojas ganham nomes sugestivos
como Universal, Internacional, Mundial, do reino, da graça, do
poder. Tudo muito grandioso e ao mesmo tempo subjetivo, deixando à
imaginação do consumidor a formação do sentido.
Outras redes de lojas
funcionam como franquias e mudam de nome conforme o público-alvo e o
local onde se estabelecem. É sim, a aplicação de recursos de
marketing para a comercialização daquilo que, por sua essência
incomensurável era para ser doado, a saber, o impalpável refrigério
da alma angustiada dos consumidores por meio da etérea e não menos
comprovável ação do transcendente, a bênção de Deus..
O futuro dessa ilusão já
pode ser sentido. A sociedade tem se desmoronado em atos antes
impensáveis de violência e degradação. As decepções recrudescem os corações de alguns e outros se tornam como os viciados em
drogas, eternos dependentes dos fornecedores de alívio temporário.
A ética dos pseudo-cristãos do Século XXI, no Brasil pelo menos,
em nada lembra o proposto no sermão da montanha, que podemos
certamente usar como parâmetro da ética do Cristo, modelo desde
sempre abandonado pelos cristãos.