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A ética pseudo-cristã e o espírito do consumismo no século XXI

Ousei fazer um trocadilho com o título do clássico de Max Weber, a fim mesmo de tentar atingir os brios dos que se dizem cristãos sem ao menos saber as implicações éticas, morais e sociais a que se vê exposto aquele que resolve ostentar tal título.
Acontece que uma grande parcela da sociedade brasileira abraçou nos últimos anos o direito à livre manifestação de culto garantido pela Constituição Federal, muitos levados pelo modismo, outros pela pura ganância mesmo. Uns se tornaram verdadeiros tietes de “cantores gospel” ou de padres, missionários, pastores, bispos e bispas, apóstolos e sei lá mais quantos títulos sob os quais se escondem pessoas de atitudes nada recomendáveis a quem se diz pregador da Palavra de Deus. Outros demonstram, pelo seu discurso e prática, estarem dispostos a fazer o que for preciso para se verem no direito de exigir de Deus a bênção (material na maioria dos casos), pela qual pagam aos autointitulados retromencionados. Não precisamos lembrar as frequentes denúncias de enriquecimento ilícito a eles atribuído.
Mas o que me move aqui, não é mais que demonstrar o quanto estão inculcados nas pessoas os valores da lei do mercado consumista no qual vivemos, a ponto de ofuscar a muitos, impedindo-os de discernir entre o que é regra do mercado capitalista e o que deveria permanecer na esfera do sagrado, do transcendente. Pois se tornou normal e aceitável nas igrejas, as pessoas negociarem com Deus, com prazos, valores e condições bem estabelecidos. Não é mais como antes, quando Deus, por sua vontade estabelecia pactos e ditava as regras. Agora o crente vai a Ele (a seus representantes) com o pedido pronto, estabelece a forma de pagamento e já começa a exigir a entrega.
A semelhança com o mercado não para aí, pois, assim como temos que adquirir um bem novo, às vezes antes de acabarmos de pagar o anterior, também os cristãos do Século XXI buscam nos shoppings da bênção os produtos importados do mundo espiritual. E são produtos de vida útil curta e que atendem a fins muito específicos.
A concorrência entre esses shoppings é tão interessante, que os pontos de instalação são cuidadosamente escolhidos e as lojas ganham nomes sugestivos como Universal, Internacional, Mundial, do reino, da graça, do poder. Tudo muito grandioso e ao mesmo tempo subjetivo, deixando à imaginação do consumidor a formação do sentido.
Outras redes de lojas funcionam como franquias e mudam de nome conforme o público-alvo e o local onde se estabelecem. É sim, a aplicação de recursos de marketing para a comercialização daquilo que, por sua essência incomensurável era para ser doado, a saber, o impalpável refrigério da alma angustiada dos consumidores por meio da etérea e não menos comprovável ação do transcendente, a bênção de Deus..
O futuro dessa ilusão já pode ser sentido. A sociedade tem se desmoronado em atos antes impensáveis de violência e degradação. As decepções recrudescem os corações de alguns e outros se tornam como os viciados em drogas, eternos dependentes dos fornecedores de alívio temporário. A ética dos pseudo-cristãos do Século XXI, no Brasil pelo menos, em nada lembra o proposto no sermão da montanha, que podemos certamente usar como parâmetro da ética do Cristo, modelo desde sempre abandonado pelos cristãos.

Precisamos mesmo de heróis?


Cazuza cantou que seus heróis morreram de overdose. Ali, o garoto que não conheceu as regras e morreu precocemente por causa disso, deixava uma verdade no ar, mesmo sem necessariamente saber o que dizia. Dai podermos afirmar que, ou não temos heróis na essência da palavra, ou perdemos a exata noção do conceito de herói. Digo bobagem?
Macunaíma é o protótipo do herói brasileiro. Malandro, hedonista, safado, preguiçoso e esperto. Adepto e praticante da "lei de Gerson", pronto a levar vantagem sobre a própria sombra. Há quase cem anos Mário de Andrade já sabia disso, ao criar o personagem. E se algo mudou em todo esse tempo, mudou para pior.
Nossos heróis são trambiqueiros, gambiarreiros, catireiros, mas não admitimos que os outros errem conosco. Não suportamos a falta de ética do governo e das autoridades, como se eles fossem uma classe diferente de gente, distante de nós e obrigados a nunca falhar. Elegemos gente de passado sombrio e esperamos futuro brilhante. Elegemos palhaços e queremos seriedade.
Mas a culpa não é nossa. Somos vítimas dos heróis de ontem, que não nos ensinaram a nos defender deles mesmos e de seus sucessores. Desde a antiguidade, como em Homero na Odisséia, Ulisses, o protótipo do herói moderno, navega anos seguidos em uma luta sem fim, contra monstros e poderes diversos, sem qualquer benefício a quem quer que fosse, enquanto sua família sofre as maiores humilhações e privações. O herói protege seus amigos aventureiros, mas abandona à sorte sua casa, mulher e seu filho.
Assim, cada um que se ergue em defesa de algum interesse que agrade a mais de cem pessoas, já está apto a se candidatar ao cargo de herói do Brasil. E não importa mesmo o que ele já tenha feito, o que esteja propondo ou o que vá realizar.
Nossa carência de heróis é tão grande, que tomamos por defensor qualquer imbecil que saiba cantar, jogar futebol, ou se saia bem no púlpito de uma igreja. Sua ficha, sua formação e seu conhecimento é o menos importante. Basta que brilhe onde está, que o colocamos onde não deve. E depois, fazemos piada, lastimamos e culpamos alguém pela má escolha, menos a nós mesmos.
O que nos absolve de receber sozinhos o título de idiotas é o fato de que em todos os tempos, todos os povos construíram heróis e sempre buscaram enaltecer características que, se levadas a uma analise crítica sem restrições, vai nos mostrar que boa parte dos mitos, se não todos, enaltece homens de caráter moralmente reprovável.
Os heróis da Bíblia, por exemplo, em sua maioria, são homens de procedimento inadequado e de uma ética duvidosa, de práticas moralmente condenáveis, como Abraão, chamado o pai da fé, mas que duvidou da providência divina e depois abandonou o filho e a concubina à sorte no deserto; Jacó, mentiroso e enganador, usurpador do direito do irmão, herda a astúcia de seu pai Isaac e seu tio Labão, família de trambiqueiros; Moisés, assassino violento e descontrolado, a ponto de não poder ver a “terra prometida”, pela qual lutou a vida inteira; Davi, sanguinário indigno de erguer templo ao Santo dos Santos, manda para a morte seu mais fiel servo, para lhe tomar a mulher; Sansão, homicida contumaz, que desobedece aos pais, trai seu juramento e leva toda sua tribo à desgraça por, de forma infantil, confiar e se entregar a uma mulher inimiga.
Mas esses mesmos mortais cheios de falhas mais que evidentes nos foram dados como modelos de heróis e aprendemos a relevar seus deslizes. Assim, nos perdoamos pelo mal que faremos, como apregoa Paulo de Tarso, o grande disseminador do cristianismo ao mundo: O mal que não desejo faço-o sempre. Já o bem que desejo, quase nunca o faço.

Então fica a dúvida: Precisamos mesmo de heróis, ou devíamos, cada um e todos nós, sabedores que nossa natureza de indivíduo tende ao socialmente indesejável, exercitando a vigilância sobre nossos instintos (pulsões, se soar melhor), produzirmos por nós e em nós uma sociedade mais equilibrada? Já que optamos pela civilização,  não deveríamos ser todos, heróis de batalhas diárias contra nossos desejos individuais em favor do bem coletivo?

Quem somos em verdade?

Uma pergunta me persegue desde que resolvi me entender por gente. Começa pela dúvida sobre o que é ser gente e parece não ter fim, quando a gente se aprofunda na busca da verdade sobre a própria existência.
Verdade é o que menos encontramos em nós e em nosso modo de viver, embora seja um valor tido como apreciável entre os amantes da virtude. Mas, isso é pouco se considerarmos que poucos são os defensores das virtudes, ante os milhões que publicamente preferem os vícios. Isso também não é coisa tão espantosa. Se formos sinceros, nos veremos obrigados a admitir que as virtudes perdem para os vícios, se comparado o potencial de ambos em produzir prazer. E prazer é o que o mundo quer. Prazer é o ideal do nosso tempo, quiçá de todos os tempos.
Assim, como nossos antepassados de todos os tempos, vivemos em um mundo de mentiras, um mundo falseado para que se torne suportável. Basta observar ao nosso redor, nas nossas crenças, na formação do nosso caráter. O que há de verdadeiro em tudo isso?
A começar pelas nossas origens. De tudo o que nos ensinam desde a mais tenra infância, o que pode ser comprovado mais tarde, nos leva à decepção. Nossos pais mentiram para nós e nos ensinaram a mentir para os nossos filhos. Talvez isso explique a nossa incapacidade de produzir uma sociedade justa e perfeita. Fomos forjados sob mitos, sob estórias cheias de fantasias até bonitas, mas insustentáveis a uma analise séria, a uma avaliação madura e responsável.
Nossos deuses são substituídos à medida em que perdem sua utilidade. Cada substituição nos custa uma decepção, um trauma. Somos forçados a eleger novos deuses em um panteão limitado e dominado por interesses de uma época.
As virtudes e os vícios se alternam de tempos em tempos na função de dirigir nossas intenções e ações. Assim, atualmente é muito comum as pessoas mais jovens agirem de modo que os remanescentes de gerações anteriores reprovam veementemente.
Não desejamos ser bons, educados, gentis e solidários. Apenas nos sujeitamos a assim agir, como forma de evitar a rejeição pelo sistema. Na verdade é uma espécie de covardia apoiada na necessidade de sobrevivência, mas jamais qualquer manifestação de amor pelo outro.
Amor mesmo, é um conceito bastante controverso, já que nunca amamos o que nos desagrada, ou seja, só amamos mesmo o espelho, que reflete o que queremos ver. O diferente de nós, tememos, odiamos, afastamos, matamos. Leia os jornais. Assista os noticiários na TV. Como é possível se falar em amor em meio a tanta violência, a tanto egoísmo?
A verdade como conceito foi relativizada de tal forma, que tem ficado cada dia mais difícil distingui-la entre as imagens dela criadas pela civilização, na busca louca de se sustentar a qualquer preço. Precisamos mais que ser humanos, ser civilizados. Não importa o outro, mas o todo, onde todos se escondem e fingem ser o que parece ser mais seguro para a manutenção do todo.

Sim, a humanidade se rendeu à civilização. O homem se perdeu em civilizar-se. O que há de verdadeiro em nossas intenções? Seja honesto o que arriscar responder. E não seja afoito em repetir o que ouviu ser repetido pelos meios de massificação, mas pare e pense sobre si e sobre o resto do mundo. Olhe o mundo e se olhe. Agora construa sua própria resposta, suprimindo o discurso falseante e ilusório ditado pela cultura na qual e pela qual foi lapidado. O que há que não seja imposto por interesses da civilização? O que há de verdadeiro em nós?
Se fossemos cristãos ao ponto de crer que somente a verdade nos libertará, estaríamos inevitavelmente condenados à prisão perpétua, nas masmorras da ignorância e do erro, pois, da verdade, preferimos passar ao largo.

Cadê as luzes do Natal?

Weverton Duarte Araújo 


O olhar infantil, romântico, ingênuo e sem maldade, em oposição ao maquiavélico olhar adulto, focado na coisa e não na pessoa.
Há anos atrás, quando éramos crianças, tudo tinha um brilho especial, não só por nossos olhos serem olhos de crianças, mas pelas próprias circunstâncias. As coisas eram diferentes e as pessoas eram mais amáveis, menos interessadas no valor das coisas que no valor das pessoas e dos relacionamentos.
Gastávamos tempo em montar árvores de Natal, trabalho sempre feito à noite, depois que a maioria da família já tinha chegado do trabalho. Então participávamos alegremente da verdadeira cerimônia que era a montagem das bolinhas coloridas de vidro finíssimo, que muitas vezes quebravam durante a brincadeira e lamentávamos cada quebra, pois seria uma bolinha a menos, já que não tínhamos mesmo muito dinheiro e aquelas coisas não eram assim tão baratas.

O individualismo nos afasta de compartilhar o prazer das pequenas coisas.
Tinha também aquelas gambiarras de luzinhas que montávamos na fachada da casa, em torno das janelas, nos primeiros dias de dezembro e só eram tiradas no dia seis de janeiro. Ficavam ali, piscando, verdes, azuis, vermelhas. Sempre queimavam algumas, mas vinham no kit umas de reserva. Trocavam-se e pronto.

A desvalorização do sentido do tempo, em favor da urgência mercantil.
Quase todas as casas da rua, em todas as ruas de todos os bairros da cidade. Os ricos e os pobres se igualavam nessa época, pelo menos no quesito decoração de fachada. É claro que a nossa era bem simples, como as de muita gente como nós. Mas era algo mágico, que envolvia as pessoas numa aura de alegria, de uma doçura fora do comum. Todos ficavam mais mansos, mais flexíveis, como se tocados por algo sobrenatural. Era assim o encanto dos dias que antecediam a chegada das festas de fim de ano.
Hoje os noticiários trazem desgraças, desastres, violência e mais violência. Nada de luzinhas piscando, nem musiquinha de harpa. Só vemos nos shoppings uns velhos gordos idiotas com uma barba branca ridícula cobrando para tirar fotos com as crianças.
Hoje em dia, já pela metade de dezembro, olho pela janela e não vejo mais que duas ou três casas iluminadas com um pisca-pisca modesto e sem graça. Não se renova mais a pintura das paredes, nem se substituem móveis, nem se compram brinquedos antecipadamente, para ficarem escondidos até o dia 24, sob deliciosa tensão da ansiedade dos pais e das crianças.

As pessoas desempenham papéis na sociedade automaticamente, pela mera necessidade de parecerem ser o que a moral social dita como desejável. O sujeito cede espaço ao indivíduo.
O que se vê são pessoas sendo entrevistadas nas compras de última hora, por repórteres sem escrúpulos, explorando a pobreza e a desorganização da correria a que se submetem quase que obrigatoriamente as pessoas para cumprir o ritual de comprar algo para não se sentirem inferiores. É a hora das compras apulso e de se dizer "feliz natal" a todo mundo, de forma frívola e impessoal. Hipocrisia desgraçada.

Reflexão e perspectiva
Cadê as luzes do Natal? Onde foram parar os enfeites, as guirlandas, os presentes baratos e os garrafões de vinho tinto de mesa suave para acompanhar o peru ou o lombo recheado?
Assim como desapareceu um dia o sentido original do natal como comemoração do nascimento do Ícone do cristianismo, também já perdeu o sentido a confraternização, a reunião de família e tudo mais que remetia àquelas bucólicas e deliciosas noites dos dezembros que ficaram na memória, mas que não mais existem. Não há mais luzes de natal.
O Natal que conhecemos não existirá mais em poucos anos. Sem a valorização do rito do nascimento, sem renovação cíclica, sem geração de vida, o mito da humanidade vai se deteriorando, cavando seu túmulo com as próprias mãos.

Morreu Mandela. Perdemos o quê?


Morreu Mandela. Ele descansa agora. Não sofre mais.
A Africa não morreu, não tem descanso, não para de sofrer ataques de todos os lados, pelos cristãos, pelos muçulmanos, pelos ricos, pelos pobres. A Africa, poucos sabem, morre todos os dias, mas ninguém vê. Ninguém divulga, nem faz homenagem.
Mandela é a manifestação de um mito. Nunca morre na verdade. Assim como ele, tivemos muitos. Tivemos o alferes Tiradentes, o escravo Zumbi, Jesus de Nazareth, Judas Macabeu, Homero, Hércules, Muhammad, Abraão, Mahatma Gandhi, Sidhartha Gautama... Tantos outros, que encheriam páginas.
Esses representantes míticos da capacidade do ser humano de mudar as coisas, assim como Mandela, cada um em seu tempo, foram usados pela força transformadora latente na humanidade, que de tempos em tempos se manifesta, como se não fosse possível mais ser contida.
Mas a Africa, o Brasil, a Grécia, a Índia, o mundo todo é maior que seus heróis. Os homens são todos portadores, em maior ou menor grau, dessa capacidade de transformar-se e transformar o mundo ao seu redor. Resta saber o motivo pelo qual só um número muito reduzido de pessoas chega ao ponto de se entregar heroicamente por uma causa, na maioria das vezes, dando a vida em lugar de milhares, milhões. Por que motivo os milhões de redimidos não são capazes de agir como age um redentor? Não era ele nascido de uma mulher como todos nós?
Não perdemos nada com a morte de Mandela, pois ele fez o que tinha que fazer. E se perdemos algo, esse algo seria a oportunidade de imitá-lo, assim como a todos os mártires, todos os santos, todos os heróis, todos os cristos. Perdemos sim, todos os dias, a oportunidade de sermos como eles, de agir como eles, já que a oportunidade está aí, de igual forma para todos.

Todos os grandes homens eram, são e serão, acima e antes de tudo, homens, assim como eu, como você. O que os diferencia do resto da raça humana é a coragem de ser aquilo que manda seu coração, sua razão, sua humanidade.

A cara do Brasil


Assim é moleza. Renunciar ao cargo, escapando da desonra da cassação parece ter virado moda entre os políticos brasileiros. Alegam perseguição, ficam muito chateados, tentam se aposentar por invalidez e por fim, renunciam. Mas não abrem mão da aposentadoria equivalente à que mais de vinte trabalhadores honestos jamais auferirão juntos, não depois de dois mandatos de enrolação no congresso, mas de trinta e cinco anos de trabalho duro e dependendo ainda de idade mínima e coisa e tal.
Genoíno, assim como outros já fizeram, mostrou total incapacidade de provar sua inocência, tanto que, diante da iminente possibilidade da cassação, já que seus pares não encontraram a menor possibilidade de salvá-lo sem se enlamearem junto. Assim, sem alternativa melhor, resolveu renunciar ao cargo e curtir sua sentença em casa.
Genuíno o descontentamento dos cidadãos de bem, que se sentem palhaços manipulados por quem mais tinha a obrigação de defendê-los. Então nós (eu não) elegemos o sujeito para nos representar e ele, depois de meter os pés pelas mãos, participando direta ou indiretamente, trai nossa confiança e permite a usurpação o patrimônio que devia administrar e proteger.
E quando a Justiça consegue, apesar de todas as tentativas de manipulação, condena-lo, ainda lhe é permitido renunciar ao cargo, já anunciando que se trata apenas de uma pausa? Ele pensa em voltar? E vamos elegê-lo novamente?
Assim é moleza. Ser condenado por desvio de dinheiro público e formação de quadrilha e encontrar imediatamente uma empresa que lhe ofereça emprego com salário dez vezes maior que a média do mercado, parece brincadeira. Mas na verdade é uma grande falta de respeito com quem trabalha honestamente.
A situação de José Genoíno e José Dirceu, assim como a de Roberto Jeferson e dos demais envolvidos no vergonhoso caso do mensalão, junto aos muitos outros casos de corrupção na administração estatal que não param de chegar ao conhecimento público a cada dia, representa o fim da crença na honestidade como valor. Não se pode esperar que o cidadão aceite passivamente a enorme carga de impostos que o país lhe cobra, uma vez que todos sabem onde todo esse dinheiro vai parar.
Covarde o Sr. Genoíno. Moleque o Sr. Dirceu. Ou eu ganharei o mesmo que eles ganham se fizer o mesmo que eles fazem? Serei premiado com aposentadoria de R$20.000,00? Receberei proposta de emprego com salário de R$20.000,00 se ficar provado que sou corrupto, membro de grupo de criminosos? Nego até o fim. Se não colar, renuncio, me aposento ou meus comparsas me arranjam um excelente emprego de fachada e fico na boa. Dormir na cadeia por uns tempos é moleza.
O descaramento é tão grande, que esses senhores de idade avançada posam de herois, com as mãos cheias de lama. E riem da nossa cara, pois, assim como os menores de idade que cometem crimes, sabem que não vai dar nada pra eles.

É assim que o Brasil quer ser visto? É assim que devemos ser todos? É essa a cara do Brasil?

Polícia X Polícia. Quem ganha?

Imaginem a cena.

O legendário Sun Tzu, protótipo do general invencível, ensina em “A arte da guerra” que, o comandante de exército que conhece o seu contingente e também o do adversário, tem maiores chances de vitória que aquele que desconhece um dos dois lados, ou seja o seu ou o outro. Já o que desconhece ambos os potenciais, perde a batalha com certeza.
Assim podemos ver acontecer com o Estado de Minas Gerais, bem como todo o Brasil, no que se refere à atitude em relação à segurança pública. Os agentes de segurança pública não são capazes de reconhecer entre um policial e um bandido. São mal treinados e não dispõem de equipamento adequado para trabalhar. Não se conhecem, nem são capazes de reconhecer o adversário. Estão fadados ao fracasso.
Em mais uma ocorrência pitoresca, digna de um pastelão mexicano em preto e branco, ou dos saudosos Três Patetas, experimentamos outra vez uma desinteligência entre policiais militares e civis, na qual os agentes da polícia judiciária, mal preparados que são, usando veículo sem identificação, sem algum tipo de identificação que os distinguísse, descem da viatura com armas em punho, em direção a um terceiro, que por sua vez, descera de uma moto e entrava em um estabelecimento comercial. Imaginem a cena.
Nada de errado para eles, policiais que acredito, estavam, mesmo que de forma inadequada, no cumprimento de seu dever. Mas para quem vê a cena pelo ângulo da sociedade vitimizada diariamente por assaltos e ainda, pelo ângulo de um policial militar cheio de disposição para defender a vida e o patrimônio de sua família, a história é bem diferente. Ora, o PM também estava em trajes civis e segundo algumas versões, já chegou atirando, o que é compreensível, a partir da sua convicção momentânea de que lidava com bandidos, mas parece ter contribuído para confundir os outros policiais, que devem ter ficado sem opção e sem entender o que acontecia. Imaginem de novo a cena.
Quem já participou de algum tipo de abordagem policial sabe que a situação é sempre tensa. O policial é uma pessoa sujeita à influência das emoções como qualquer outra pessoa. Aquilo deve ter sido um inferno, que só eles, os envolvidos, podem descrever.
Resumo da opereta: falta de preparo por parte de todos, gerando uma sequência de ações equivocadas, sem o uso das técnicas e dos recursos adequados para a execução das abordagens. Fizeram tudo errado e ainda mostraram ao povo que, quando o interesse é o corporativismo barato, conseguem encher a praça de viaturas e de policiais em poucos minutos. Os chefes dão entrevistas dizendo como sempre, que tudo será devidamente apurado e os culpados serão severamente punidos.
Felizmente os danos físicos foram menores, passíveis de reversão, ao contrário dos danos morais, psicológicos e outros, que não se pode medir de imediato, mas que deixam marcas profundas nesses homens e também na sociedade que os remunera. Pior é que as causas continuam e continuarão os efeitos. Não se trabalha na prevenção. Resta-nos esperar pelo próximo incidente e torcer para que não seja mais grave. Imaginem a cena...

O buril querendo brilhar mais que o ouro.

Queria poder dizer algo neste dia em que se propõe a exaltação da consciência negra. Queria poder relacionar nomes de personalidades brasileiras representantes da porção afro-descendente que compõe nossa sociedade.
Presenciamos recentemente, embora não seja novidade alguma, atitudes inadequadas por parte de pessoas que deveriam ser muito mais cautelosas em suas ações e palavras, que a grande maioria dos membros da sociedade, exatamente por se encontrarem ocupando cargos ou funções que os colocam em evidência, como formadores de opinião de um país inteiro.
Assim fala, quando fala, o senhor Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé, cujas palavras não são dignas nem mesmo de comentário. Esse, por sua completa inutilidade, só é lembrado aqui, para exaltar o desperdício de oportunidade, já que espaço midiático é o que não lhe faltaria, se algo houvesse em sua consciência.
Assim vem agindo e parece fazer questão disso, uma das pessoas que tem se tornado sinônimo da falta de humildade, falta mesmo de consciência do espaço que deve ocupar como pessoa pública, antes de tudo.
Ora, se não for assim, que outros motivos teria o presidente do Supremo Tribunal Federal para, após nenhuma pressa por parte de todos os membros daquela côrte no julgamento da Ação Penal 470, o famoso caso do mensalão, emitir em pleno feriado, de forma apressada e mal feita, mandados de prisão contra os condenados?
Qual o motivo técnico, estratégico, ou o que seja, para mandar a Polícia Federal recolher todos os condenados em Brasília, de forma cinematográfica e espalhafatosa, gerando alto e desnecessário custo para o erário público? Mais que isso, gerando descontentamento, críticas internas e mais descrédito na Justiça.
Pois já circulam nas redes sociais, fotos do Ministro Joaquim Barbosa, ao lado do senador Aécio Neves e do governador de Minas, Antônio Anastasia. Dizem as más línguas que já se cogita a candidatura de Joaquim para o governo de Minas. Isso poderia explicar suas atitudes populistas, mas completamente inadequadas.
Joaquim e Edson, dois brasileiros que claramente desperdiçam a oportunidade de manifestar o exercício da consciência negra, da consciência cidadã, da consciência como tal. É uma pena tamanho desperdício, tanto orgulho, tanta vaidade.

Mensaleiros presos. O que comemorar?

Após oito anos de idas e vindas, chegamos perto de desanimar, de não crer mesmo que a sociedade brasileira lavaria sua honra, colocando atrás das grades alguns dos envolvidos no vergonhoso escândalo do mensalão. Pronto. Missão cumprida.
Uma ova... não somos tão inocentes, ao ponto de acreditar nesse drama, com data e hora marcados, com Juízes querendo aparecer mais que galã de novela, com presos se exibindo como se sua prisão fosse um troféu. Um ladrão descarado, condenado a quase 40 anos de prisão, desacatando policiais diante das câmeras, pra não perder a oportunidade de aparecer. A pirotecnia é tão ridícula, que um “manifestante” exibe um cartaz dizendo que não houve justiça, mas, “vingansa”. Assim mesmo, com s.
Ora, não podemos perder de vista o que essa enorme cortina de fumaça pretende ofuscar. Nem podemos nos deixar enganar pela aparente resolução do problema.
Então, o que temos de fato? A maioria dos ladrões continua à solta, podendo “trabalhar” durante o dia. Alguns até continuarão com cargos de deputado. Mais que isso, nosso dinheiro continua com eles. O dinheiro que surrupiaram, dos impostos injustos que somos obrigados a recolher, não foi retomado deles. Assim, na pior das hipóteses, o mensaleiro que recebeu a maior pena, não ficará mais que cinco anos preso, se ficar. E quando sair, rirá de nós e continuará gastando o dinheiro que desviou.
Dá pra entender o riso e a pose de vitoriosos deles, se entregando à Justiça debaixo de flashes e até de manifestações de apoio. Eles parecem comemorar. E nós?

Vitória no futebol, derrota na cidadania.




OK. Vamos parabenizar os jogadores do Cruzeiro Esporte Clube, que venceram o campeonato brasileiro de futebol de 2013.
Mas, o que devemos pensar e sentir, com a atitude dos animais travestidos de torcedores do mesmo Cruzeiro, que para comemorar o título, destruíram a Loja do Galo na Savassi, quebraram outras lojas, incendiaram motos na rua e destruíram o que acharam pela frente?
É assim que se comemora alguma vitória? E, que vitória é essa? O que aponta essa atitude agressiva, animalesca?
Vem apenas reafirmar nossa certeza de que não estamos exagerando, se afirmamos que nossa sociedade está apresentando um defeito grave e que requer reforma urgente.
Ontem mesmo comentei que estávamos numa pausa nas manifestações violentas que até poucos dias assolavam o país. Mordi a língua, pois, por muito menos que insatisfação com o governo, ou com empresas que maltratam animais, atos de vandalismo voltam à cena. E em que circunstâncias? Em comemoração a algo tão insignificante para a sociedade, como é uma vitória de campeonato de seja lá o que for. 
Mesmo que fosse significante, jamais justificaria a destruição do bem alheio, o vandalismo, a baderna. O que presenciamos é sim, a falta do conceito de certo e errado, ou a não crença nesses conceitos. Esses indivíduos não acreditam na sociedade em que vivem. Como porcos soltos na lama, se lambuzam até onde puderem, pela mera satisfação do instinto que busca o alívio de sua tensão animal, de sua fome irracional. Nem as mães deles conseguiriam, se lá estivessem, detê-los em sua fúria animalesca.
E estavam comemorando. Estavam alegres e felizes.  Imagine-os com raiva...

Utilidade ou vantagem?

Cipriano de Valera, ao traduzir o célebre texto de Calvino conhecido pelos presbiterianos como “As Institutas”, uma espécie de sistemática teológica que fundamenta o presbiterianismo, inicia sua introdução, isso em 1597, dizendo que “Dos puntos hai, que comunmente mueven á los hombres á preziar mucho una cosa: el primero es la exzelenzia de la cosa en si misma; el segundo, el provecho que rezebimos ó esperamos della”.
Ora, aquele Teólogo da Reforma traz uma intrigante observação sobre o modo como as pessoas se relacionam com as coisas, que certamente não mudou de lá pra cá.
Em relação a certas questões altamente relevantes em nossos dias, sejam elas, a redução da maioridade penal, a revisão do código eleitoral, ou a instalação de bloqueadores de telefones nas penitenciárias, precisamos entender os motivos que levam os nossos legisladores à completa estagnação, como se esses assuntos não fossem da maior importância e urgência.
Se não prezam tais temas com o devido cuidado, assim como deseja a grande maioria pensante da população, ou é porque não conseguem perceber o óbvio, ou porque não percebem algum lucro, alguma vantagem para si mesmos, em prover a sociedade de recursos mais modernos em tempo hábil, antes que mais prejuízos sejam contabilizados.
Então pergunto: porque o resto do mundo enxerga as coisas de uma forma que nossos administradores rejeitam? E mais: porque nosso povo insiste em manter no comando e na administração da coisa pública pessoas notadamente incapazes, ineficientes e de hábitos tão reprováveis?
Se convidássemos Sigmund Freud a responder estas duas perguntas, ele certamente diria que, enquanto não for mais vantajoso ser justo e honesto, não se poderá esperar que o homem o seja. O pai da Psicanálise foi quem também sustentou que nós somente nos submetemos à moral social por absoluta necessidade de permanecermos agrupados em sociedade. O ser humano em seu estado natural não tende à socialização, mas à realização de seus desejos "instintuais", assim como os cães e os símios. 
O futuro talvez nos remeta ao dilema dos porcos-espinhos de Schopenhauer. Morreremos no frio do já comprovado inviável individualismo, ou aprenderemos a suportar as espetadas dos nossos iguais, em busca do indispensável e vital calor dos relacionamentos?

Mais uma vez, o equilíbrio é a chave. No que se refere à escolha dos administradores de nossas coisas, precisamos aprender a discernir entre o utilitário e o vantajoso. Com isso, quero ressaltar que há grande diferença entre utilidade e vantagem. Mais ainda, há enorme diferença entre postura ética, baseada em princípios morais, que em relação à utilidade das coisas, as valora coletivamente, acima da vantagem que elas possam trazer individualmente.
 

Muitos direitos, nenhum respeito.

     Hoje de manhã, eu estava parado em um cruzamento na área hospitalar de BH. Quando abriu o sinal, ia arrancar meu carro, mas parei, pois um senhor de uns sessenta anos ou mais, atravessou a avenida lentamente, olhou pra mim, apontou para a faixa de pedestres, olhou para o chão e continuou sua lenta travessia. Pensei em mostrar para ele que o sinal estava fechado para os pedestres, mas, percebi que seria perda de tempo. Aquele senhor parecia se deliciar em usufruir da condição de "mais fraco protegido pela lei", ao ponto de não observar que estava contrariando a regulamentação de trânsito, pois  atravessava no sinal fechado. 
     Ontem mesmo, num cruzamento de grande movimento próximo de minha casa, parei no sinal, mas, como não havia trânsito, um sujeito começou a buzinar atrás, insistindo para que eu avançasse o sinal vermelho e deixasse a pista livre para ele. Gesticulou e falou palavrões ao passar por mim, que é claro, não arranquei antes da luz verde.
     Os dois fatos me incomodaram muito, ao ponto de me inspirar este desabafo. Mas isso aponta para algo muito maior e pior. Aponta para a crise de conceitos que sempre tenho trazido à reflexão dos que ainda tem paciência para me ler. O certo, o adequado, o justo, a alteridade, estão a cada dia fazendo menos sentido.
     Agora há pouco, vi um post com uma foto publicada no Estadão, onde alguns aposentados da Petrobras tiraram as roupas em frente ao Palácio do Planalto, em protesto a sei lá o que. Não consigo entender isso. Homens velhos, aposentados, que deveriam inspirar sobriedade, serenidade... Homens que deveriam servir de exemplo, se desvalorizam, se expõem de forma ridícula. É uma pena. Como querem ser respeitados?
     As pessoas descobriram que se fizerem barulho, a imprensa corre pra cima. Então, não calculam o resultado de seus atos. Apenas fazem qualquer coisa que chame a atenção. Observemos como isso tem acontecido aqui bem perto de nós. Todos os dias ouvimos que há uma manifestação, um protesto em algum ponto da cidade. Invadiram o terreno de uma empresa e querem a posse reconhecida pelo poder público. Para isso, fecham a 040, impedindo a passagem de milhares de trabalhadores na volta pra casa.
     Isso é justo? É direito? Não importa. Querem exercer seu direito de manifestar, de possuir bens, de ir aonde desejarem. Mas se esquecem do outro. Se esquecem do direito do outro. Nem pensam nisso.
     O motorista de ontem, o pedestre de hoje, os invasores, os vândalos destruidores, os manifestantes pelados e todo mundo, gatos no mesmo saco. Cada um pensando no seu direito. Nenhum lembrando do seu dever. O equilíbrio entre direito e dever que as leis deveriam proporcionar a uma sociedade organizada, está longe do nosso alcance. Isso me intriga e assusta.
 

 

Inversão de valores.

A inversão de valores neste país é muito interessante. Já não bastava os bandidos serem defendidos publicamente, em detrimento das vítimas indefesas.
Agora, as agências reguladoras, criadas pelo governo para defesa e proteção do consumidor, jogam no outro time. Olhem o que fez a Anatel, entrando na Justiça em defesa das empresas, contra o consumidor.

Da mesma forma, também invertendo valores, os dois senadores de Minas Gerais, que não aparecem no cenário político, nem apresentam propostas de utilidade pública, ou defesa dos direitos dos que os elegeram, se apressaram em pressionar o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), conseguindo, em menos de 24 horas, reverter punição aplicada ao Cruzeiro Esporte Clube, face ao tumulto provocado por duas torcidas organizadas do mesmo time, durante jogo contra o Atlético Mineiro.

Acontece que, em ambos os casos as vítimas acabam sendo revitimizadas.

No caso das operadoras de telefonia, a agência governamental criada para defender a parte mais frágil, nunca o faz, mas quando age, é exatamente em defesa das empresas. E ainda alegam que o fizeram a fim de evitar novos aumentos de preços.
O mesmo ocorre no caso dos dois senadores (Zezé Perrela e Aécio Neves), que não são vistos defendendo os interesses populares, mas correm em socorro a um grande clube. Esses não vão ter nem o que alegar. Ou vão? Só falta alegarem que a intervenção de dois senadores, forçando a reversão de sentença judicial já dada, seja coisa digna de aplauso.

Inversão de valores. Posturas completamente contrárias ao que se entende por adequado e defendidas exatamente por quem deveria evitá-las.

Precisamos reagir, urgentemente.

Empresas substituem mães?




Em uma reunião de família, mais exatamente, no aniversário de 73 anos do meu pai, tive a oportunidade de bater papo com parentes e amigos que não vejo todo dia. Como não gosto de perder oportunidade, tendo surgido o assunto, voltei à tona com meu tema predileto dos últimos tempos, quiçá de sempre, ou seja, a causa, ou as causas do desmantelamento da nossa sociedade.
Lembramos o caso recente de uma criança de pouco mais de um ano de idade que foi mordida por outra, de idade aproximada, em uma creche, ou "escolinha", em um município da região metropolitana de Belo Horizonte. Obviamente, diversas opiniões surgiram. Foi bom ouvir minhas irmãs, minha tia, meu pai e outras pessoas, já que são essas pessoas que, na verdade, compõem a sociedade. Essas mesmas pessoas que compõem nossas famílias. Cada família com suas particularidades e seus conceitos diversos.
Então surgiu minha oportunidade de voltar ao meu polêmico tema. Minha pergunta a todos foi: Onde estavam as mães das crianças no momento do fato? Porque não estavam elas cuidando de suas crias?
Ser mãe, como podemos observar em todos os animais, exige dedicação, renúncia. A experiência nos mostra que os filhotes de seres humanos são totalmente dependentes de cuidados básicos. Até muito mais tarde que a grande maioria dos mamíferos, precisamos de alimentação, higiene, contato com a mãe. Sem esses cuidados nossos filhos não sobrevivem.
Então, minha inquietação se prende ao seguinte problema: As mulheres adquiriram espaço na sociedade. Se emanciparam. Atualmente há mais mulheres que homens nos bancos das faculdades, na maioria dos cursos. Nas empresas, nas oficinas, nos postos de gasolina, mulheres ocupam as mais diversas funções e os cargos mais altos. Isso não seria problema, se essas mesmas mulheres não desejassem, ao mesmo tempo, exercer o sacerdócio da maternidade.
As mães modernas estudam e trabalham, se realizam. Elas estão mudando o mundo. Ocupam a lacuna deixada pelos guerreiros ou pelos vagabundos. São dignas de admiração. Mas, quanto à maternidade, convenhamos, há décadas, deixam a desejar. Nesse caso das mordidas, as duas crianças foram abandonadas pelos pais, aos cuidados de pessoas que, por mais boa vontade que tivessem, estariam desempenhando um papel de outrem.
Podemos entender, se uma criança de cinco anos é levada pelos pais à escolinha, para começar a se socializar, a conhecer ambientes além da família. Mas, criança de apenas um ano precisa acima de tudo do contato com a mãe, do cheiro da mãe, do calor de seu colo, da sua voz. Não há como você pagar alguém e querer que seu dinheiro transforme tal pessoa em mãe do seu filho.
Mas o grande reflexo dessa mudança de atitude das mulheres só pode ser percebida anos depois, quando os filhos crescem desajustados, sem compreender o significado da palavra não. E nunca vão poder ser cobrados, porque as funcionárias das escolinhas jamais dirão não para os filhos de seus clientes, até mesmo para não perdê-los como clientes. Daí, as mães modernas não passam de parideiras, que não amamentam, não dão carinho, não ensinam, não protegem. Pagam para que outros o façam.
Agora, depois do acidente, os pais da criança mordida, assim como a imprensa faminta de escândalo, já buscaram todos os defeitos e descobriram todas as irregularidades da "empresa substituta da mãe" onde as crianças foram abandonadas à sorte. Vão querer indenização, fechar a empresa, etc. Vão processar a empresa por abandono de incapaz. E pergunto: quem abandonou primeiro? A quem caberia primeiro o dever de cuidar, de proteger? 
Mas as mães de hoje são bastante espertas e arranjarão outros meios para se esquivarem de sua responsabilidade em relação à criação de seus filhos. Dessa forma, esses substitutos, sejam empresas, escolas, ou qualquer outra entidade, menos as próprias progenitoras, serão os responsáveis e culpados pelo fracasso de tais indivíduos quando se tornarem adultos instáveis, desequilibrados, já que privados do essencial pela omissão daquelas que optou por trazê-los ao mundo e ao mundo os abandonaram.


Triste o futuro deles e do mundo.