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Intolerância e violência. Marcas de nossos dias.

O paradoxo da tolerância é uma formulação que requer esforço das mentes menos preparadas para pensar. Nele, o pensador Karl Popper em seu livro The Open Society and Its Enemies, afirma que a tolerância sem limites leva ao extermínio da própria tolerância. Ou seja, ele quis dizer, e disse, que não devemos tolerar tudo, inclusive os intolerantes, posto que esses, sendo tolerados ilimitadamente, farão com que desapareçam os tolerantes e a própria tolerância.

Desse modo, podemos pensar que os intolerantes precisam ser contidos, pelo bem da sobrevivência da civilização, que a intolerância ameaça. Não é difícil aceitar tal proposição, se nos ativermos aos fatos assustadores que o Brasil tem presenciado nos últimos tempos, quando a evolução da sociedade, proporcionada pelo maior acesso à educação e aos meios de comunicação, tornou evidentes algumas diferenças, que antes, eram sufocadas, ou simplesmente relegadas à marginalidade, de onde raramente tinham suas indefesas vozes ouvidas.

Em outubro de 2022, quando poderíamos estar comemorando grandes avanços tecnológicos alcançados pela humanidade, o que vemos? Intolerância generalizada por todos os lados.

E não falo do Brasil, apenas, mas do planeta como um todo. Mas, fiquemos só por aqui, que já é muito. Vamos aos fatos…

Que tipo de intolerância nos assusta, ou deveria nos assustar neste momento?

O cantor negro reconhecido nacionalmente, não somente por sua voz inconfundível, mas por sua história de vida e de sua capacidade de reagir às adversidades, foi vitimado pela incapacidade de parte de nossa população em lidar com as diferenças. Ao deixar claro seu posicionamento político, foi chamado de macaco e vaiado por um grupo que gritava mito, mito.

Da mesma forma, intolerantes extremistas mancharam no dia 12, uma das maiores festas católicas no Brasil (o dia da padroeira), com atos de vandalismo e violência, agredindo trabalhadores da imprensa local e tentando impedir o curso normal da programação oficial do evento.

Os debates públicos na TV entre os candidatos à presidência apresentaram um show de horrores, uma falta de respeito com a inteligência dos espectadores. Mentiras deslavadas de um lado e despreparo emocional do outro. A partir daí, nos dias seguintes, o que se viu foi uma guerra de narrativas completamente vazias de proposta para a administração do país. Precisamos entender que o problema ultrapassa a disputa eleitoral que se encerra em 30 de outubro.

Os governadores, deputados e senadores eleitos no dia 2, refletem o tamanho da incapacidade desse povo, de escolher com coerência seus representantes.

Continuamos elegendo para o legislativo, jogadores de futebol, artistas polêmicos, líderes religiosos, comunicadores em geral e representantes de grupos étnicos, sociais e comerciais. Não se percebe aí a intenção de promover igualdade de direitos para todos, mas, quando muito, de buscar marcar espaço para seu pensamento, ou sua demanda específica e particular. Dentre essas pessoas, eleitas para nos representar, muitos são analfabetos funcionais, ou não possuem uma formação mínima, que os habilite a minimamente, conhecer a história do Brasil e do mundo, ou as ciências em geral. Muitos, nem ao menos conseguem se comunicar na forma padrão, ou conhecem a legislação brasileira. É uma lástima, um atraso de anos e anos, com consequências lastimáveis e irreparáveis.

Nosso povo, em sua grande maioria, infelizmente, não recebeu educação suficiente para discernir entre os sentimentos envolvidos em grupos de torcedores por equipes de futebol (que frequentemente exibe cenas da mais pura brutalidade), grupos que defendem posições políticas antagônicas e grupos religiosos com percepções distintas.

Esses três tipos de agrupamento de pessoas, que deveriam ter pontos de vista, discursos e atitudes marcadamente distanciados, estão agindo da mesma forma. E de uma forma que não deveria existir em nenhum deles.

O jogador de futebol que está sendo processado por sonegação de impostos e fraude processual, apoia o candidato que chama o opositor de ladrão; o cantor evangélico que diz defender os princípios bíblicos, inventa e publica uma farsa que não consegue sustentar por dois dias; o senador eleito, acusado de parcialidade no exercício da magistratura, adere à campanha do candidato que há pouco chamou de ladrão e corrupto, numa clara intenção de se autopromover. E a cereja do bolo: o ex-deputado armamentista, processado pelo STF por afrontar publicamente as instituições democráticas, tendo sua prisão domiciliar revogada, recebe a Polícia Federal com tiros de fuzil e lança granadas sobre a viatura, ferindo dois policiais.

Lamentavelmente, a oposição ao atual governo (que se propõe como solução aos atuais problemas), numa atitude desesperada e que sugere despreparo, também está usando as armas usadas pelo adversário, quais sejam, a mentira e a disseminação de informações claramente focadas na intenção de plantar a dúvida no eleitor.

Engana-se, quem imaginar que a solução está na eleição de Lula ou Bolsonaro.

O ódio pelo diferente, a discriminação do dissonante e a intolerância a tudo que não seja espelho, são marcas do “modus operandi” dos nossos tempos, não só de jovens afoitos, de centro, esquerda ou direita, mas de velhos alucinados, mulheres desequilibradas e crianças sem limites. Isso nos leva de volta ao estado de barbárie, provando que a civilização não tem atingido o objetivo a que se propôs.

Os pedófilos (de ambos os sexos e todas as idades), os assassinos (homens e mulheres, pobres e ricos, famosos e anônimos) e os ladrões (que roubam um celular ou pagam por mansões em dinheiro vivo), estão circulando e se proliferando livremente.

Atribui-se a Nicolau Maquiavel a afirmação de que "os preconceitos têm raízes mais profundas que os princípios". Assim sendo, podemos identificar em nós mesmos, as origens arcaicas de nossas crenças equivocadas e buscar transformá-las. Da mesma forma, urge identificar aquilo que não podemos aceitar no comportamento da sociedade que compomos e fazer com que alguma mudança ocorra.

A intolerância e a violência, em todas as suas formas, precisam ser contidas, rechaçadas e não toleradas, se desejamos que a civilização prevaleça à barbárie.

Darcy Ribeiro pode nos servir como modelo de atitude diante da atual situação, quando disse que "só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.

Agora é com você...

Véspera de eleição.

Véspera de eleição.

Amanhã logo cedo, ou na hora que for mais adequada, levarei minha contribuição à urna, com uma intenção clara em mente: eu preciso fazer algo pelo país, por Minas e pela cidade onde moro. Eu, como membro dessa república, tendo em vista os princípios republicanos que eu tenho a obrigação de conhecer e que devem reger meu agir, tenho a obrigação moral de opinar de forma séria e responsável, ciente dos efeitos que meu voto pode trazer. 
A melhor forma de cumprir esse papel, de modo a correr menos risco de me arrepender, é olhando para trás, analisando o passado dos candidatos, seus feitos pessoais e suas participações em feitos coletivos. Também devo olhar para o presente e ver com quem eles andam hoje e o que fazem, quem apoiam e com quem se aliam.
Mais ainda, devo olhar para o futuro, já que minhas escolhas farão efeito lá. Essas pessoas vão me representar por algum tempo e não é fácil tirá-las de lá se a escolha não for boa.
A história (não as narrativas apaixonadas e tendenciosas) pode me ajudar a discernir entre homens dignos e vermes oportunistas.
Amanhã,  bem cedinho, na primeira oportunidade, vou depositar meu voto de confiança em algumas pessoas que pensam parecido com o que eu penso, para me representarem. Não a fim de atender os meus anseios particulares, ou de um certo grupo do qual participo. Vou tentar eleger pessoas interessadas no bem comum; vou tentar eleger pessoas focadas na maioria e não em interesses de grupos específicos.
Depois de amanhã, eu e todos nós, devemos respeitar a escolha da maioria. Isso é o que precisa acontecer em uma república democrática.

Weverton Duarte Araújo.