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Tsunami

    
Pois é... a História não deixa escapar nada. Nossa memória sim, sempre seleciona, conforme a perspectiva de quem fala. Ao tomar as terras cananéias, o "povo de Deus" subiu matando e devastando tudo... abençoados; Constantino transformou perseguidores em perseguidos do dia para a noite... santo; A igreja (católica) matou milhares, encoberta pelo manto sagrado das cruzadas e da famigerada inquisição... normal; o Calvinismo matou sei lá quantos, por divergirem da fé oficial... (cristã).
   Agora, como manifestação natural do aspecto cíclico do desenvolvimento da humanidade, eis que estamos em franca e visível decadência (por culpa de quem?)... É hora de chorar e reclamar? Não, certamente que não. É hora de ação.
      Na verdade, sempre é hora de ação, mas, como somos movidos por emoções, certos momentos são especialmente facilitadores do surgimento de novas ideias. Creiamos e aguardemos: Novas ideias surgirão, a partir do desmoronamento que estamos experimentando, embora muitos neguem, da fé no transcendente, da esperança no sobrenatural.
     Não temos atualmente, mais que doentes em busca de curas, pobres em busca de riquezas, usurpados em busca de ressarcimento, todos dando o que não têm para furar a fila da sorte e da bênção. Por outro lado, as pessoas estão se matando por nada. Roubam e matam como se o outro não fosse um espelho de si. Não se reconhecem no outro. Não se vê mais no outro uma obra de Deus.
     Faliu o cristianismo. Apenas não nos demos conta disso ainda e insistimos em pregar uma cura milagrosa para o mal que requer ação racional.
     É como numa tsumani, que começa com um abalo sísmico imperceptível. As pessoas só percebem o estrago depois que a grande onda passa e destrói tudo. Pois o abalo na estrutura moral da nossa sociedade já ocorreu. O esvaziamento da praia já pode ser percebido. Em alguns pontos já se pode sentir a devastação que arrastou de nós o senso ético, o conceito de moral.
     Há que se abrir os olhos e se acender a luz. Há que se abandonar o fanatismo, os discursos vazios e inúteis e se partir para ações práticas e objetivas, a partir de cada um, a partir de cada família, de cada comunidade.
A culpa, a responsabilidade não está no outro, mas em nós. Em cada um de nós.

Ação, antes que a onda venha e nos engula sem misericórdia.

Amor à vida. Revolucionários "ad hoc"?

Enquanto os intolerantes radicais, donos da verdade insustentável, se mordem em sua incapacidade de apresentar algo novo e continuam patinando nas suas promessas fantásticas e em falaciosas acusações contra os que divergem de seu radicalismo retrógrado, os que acompanham a evolução se esbaldam em mostrar cada vez mais a realidade, cada vez com menos pudor, cada vez com mais ousadia.
A verdade é o que se tem de fato. Os radicais nunca conseguiram e é claro, não conseguirão jamais, ocultá-la em nome de suas convicções puritanas, machistas, escravistas, que a cada dia se tornam mais e mais rejeitadas pela grande massa, mormente pelos que pensam, mas até mesmo pelos que vão na onda.
E o mundo se arrasta numa evolução trôpega, recalcitrante em regredir um passo a cada outro dado adiante. Mas, há os descompromissados com isso e com tudo, que acabam por fazer diferença, embora nem sempre imbuídos da mais nobre das intenções, mas, na ausência, ou na procrastinação dos legítimos revolucionários, agem e fazem “ad hoc” uma revolução “pelos cocos”, “por tabela”. E assim as coisas mudam. Os hábitos mudam e as pessoas também.
Muitas pessoas esperaram o fim da novela, ávidas para ver um beijo entre dois homens. Mas o que queriam todos? Que os dois atores, que não são necessariamente homossexuais (isso se nos permitirmos acreditar que exista nos seres humanos uma sexualidade completamente definida em direção ao igual ou ao distinto), se responsabilizassem por, sem dizer uma só palavra, levantar a voz em defesa da livre manifestação de carinho ou de desejo sexual de um ser humano por outro, independente da anatomia de seus corpos físicos.

E eles, em uma cena suave de poucos segundos, empurrados por uma imensa torcida, muda e incapaz de beijar a liberdade, berraram ao vento, na cara da estupefata e preconceituosa sociedade brasileira: Pronto! Tá aí o que vocês queriam. A realidade bate à porta. Agora podem relaxar. Já fizemos a sua parte. Podem se amar em paz. Mas se cuidem, pois a contra-revolução vem aí.