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Muitos direitos, nenhum respeito.

     Hoje de manhã, eu estava parado em um cruzamento na área hospitalar de BH. Quando abriu o sinal, ia arrancar meu carro, mas parei, pois um senhor de uns sessenta anos ou mais, atravessou a avenida lentamente, olhou pra mim, apontou para a faixa de pedestres, olhou para o chão e continuou sua lenta travessia. Pensei em mostrar para ele que o sinal estava fechado para os pedestres, mas, percebi que seria perda de tempo. Aquele senhor parecia se deliciar em usufruir da condição de "mais fraco protegido pela lei", ao ponto de não observar que estava contrariando a regulamentação de trânsito, pois  atravessava no sinal fechado. 
     Ontem mesmo, num cruzamento de grande movimento próximo de minha casa, parei no sinal, mas, como não havia trânsito, um sujeito começou a buzinar atrás, insistindo para que eu avançasse o sinal vermelho e deixasse a pista livre para ele. Gesticulou e falou palavrões ao passar por mim, que é claro, não arranquei antes da luz verde.
     Os dois fatos me incomodaram muito, ao ponto de me inspirar este desabafo. Mas isso aponta para algo muito maior e pior. Aponta para a crise de conceitos que sempre tenho trazido à reflexão dos que ainda tem paciência para me ler. O certo, o adequado, o justo, a alteridade, estão a cada dia fazendo menos sentido.
     Agora há pouco, vi um post com uma foto publicada no Estadão, onde alguns aposentados da Petrobras tiraram as roupas em frente ao Palácio do Planalto, em protesto a sei lá o que. Não consigo entender isso. Homens velhos, aposentados, que deveriam inspirar sobriedade, serenidade... Homens que deveriam servir de exemplo, se desvalorizam, se expõem de forma ridícula. É uma pena. Como querem ser respeitados?
     As pessoas descobriram que se fizerem barulho, a imprensa corre pra cima. Então, não calculam o resultado de seus atos. Apenas fazem qualquer coisa que chame a atenção. Observemos como isso tem acontecido aqui bem perto de nós. Todos os dias ouvimos que há uma manifestação, um protesto em algum ponto da cidade. Invadiram o terreno de uma empresa e querem a posse reconhecida pelo poder público. Para isso, fecham a 040, impedindo a passagem de milhares de trabalhadores na volta pra casa.
     Isso é justo? É direito? Não importa. Querem exercer seu direito de manifestar, de possuir bens, de ir aonde desejarem. Mas se esquecem do outro. Se esquecem do direito do outro. Nem pensam nisso.
     O motorista de ontem, o pedestre de hoje, os invasores, os vândalos destruidores, os manifestantes pelados e todo mundo, gatos no mesmo saco. Cada um pensando no seu direito. Nenhum lembrando do seu dever. O equilíbrio entre direito e dever que as leis deveriam proporcionar a uma sociedade organizada, está longe do nosso alcance. Isso me intriga e assusta.
 

 

Um comentário:

  1. ...E agora José?
    Percebemos o quanto a racionalidade instrumental nos tirou a capacidade de nos sentir como um nó-de-relações em meio ao mundo que nos rodeia e sustenta. Estamos (não somos) como fios soltos, na grande teia da vida! Nos julgamos donos de tudo, até do outro igual a nós. Porém, fragilizados! Talvez essa ânsia por direitos, queira demonstrar um pouco esse vazio existencial com o qual não estamos dando conta de conviver.

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