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Santa Maria: Os urubus não largam os ossos.

     Cinco dias se passaram e os abutres continuam a bicar os restos, revirando-os em busca de algo mais e mais e mais... É como se nada mais tivesse acontecido no país durante toda a semana.
     Agora, esgotadas as cenas fortes dos primeiros momentos, bem como as emocionantes tomadas de familiares se desmanchando em lágrimas, outras especulações começam a ocupar os espaços jornalísticos, com os mesmos repórteres falando as mesmas coisas de ontem, mudando apenas os entrevistados, mas, repetindo mais da metade do que já foi dito centenas de vezes, como se fossemos idiotas desmemoriados.
     Depois que os familiares enlutados desapareceram da cena principal, não resta muito a fazer, além de investir em especulações sem fim, como entrevistar vizinhos notívagos, frequentadores da boate que começam a lembrar de fatos similares ao que provavelmente deu início à tragédia, relatos de atitudes inadequadas por parte dos seguranças em ocasiões passadas, etc.
     O foco inicial, que era a dor da perda e a tentativa de fabricar heróis, mudou um pouco para o clamor por "justiça", mas permanece a tentativa ridícula de fabricar heróis.
     Foi patética a cena do vizinho do prédio incendiado, todo produzido, com gel no cabelo (valorizando a muleta por ter operado o joelho recentemente) e dizendo que quando viu que a coisa era séria, correu logo pra ajudar (ao que parece, ele não fez mais que registrar algumas cenas e "correu" pra postar no youtube). Virou estrela em programa matinal da Globo.
     Inversão de valores: Até um pichador que invade uma área que em princípio deveria estar isolada e escreve qualquer coisa, é aplaudido e exibido em rede nacional. Será que nessas circunstâncias, os fins justificam os meios? E que fins? Ignora o protótipo de herói às avessas, que seu ato é tipificado como crime ambiental no artigo 65 da Lei 9.605/98? Ou para pedir justiça já se pode infringir as leis?
     Inversão de valores: a emissora de TV expõe ridiculamente repórteres de biceps trabalhados, em camisas de mangas curtas, para rapar qualquer palavra de qualquer um que se atreva a falar qualquer bobagem, que lembre algo parecido com o horrível acidente, o qual querem por que querem, transformar em celeiro de culpados.
     Então eu repito o que me custou algumas críticas: De que adianta apontar culpados?
     Muito melhor que isso já fez um deputado mineiro, que na primeira oportunidade, apresentou um projeto de Lei visando a prevenir ocorrências do gênero em sua área de atuação. Aí sim, creio estarmos no caminho. Aprender com os erros sim, para não cometê-los novamente, prevenindo. Caçar culpados pelo mero prazer de expô-los e ainda por cima, lucrar com isso, não. Isso não.
   

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