Cada um no seu quadrado.
Weverton Duarte Araújo
Grande polêmica circundou o caso da PEC 37, uma proposta de emenda
constitucional que tentava remendar mais uma prática tida por muitos
como equivocada, ou, no mínimo, inadequada, mas muito comum em todo
o território nacional, mormente depois da grande mudança imposta
pela Constituição de 1988, quando o legislador deu
enormes poderes ao Ministério Público. Trata-se, em resumo, do fato
de que muitos membros dos MPs Brasil afora, entendem ser legal a
instauração por eles, de procedimentos investigativos na esfera
criminal e assim o fazem.
Ora, os delegados de polícia se sentiram usurpados de sua função,
o que causou o impasse que por fim, gerou a citada PEC, que em
resumo, se propôs a conceder à Polícia Federal e às Polícias
Civis a exclusividade de competência para a instauração de tais
procedimentos. No mínimo, tal situação aponta para um
desconhecimento, ou uma má definição dos papeis institucionais de
entes públicos estratégicos e fundamentais para o bom funcionamento
da república.
Assim também ocorre em diversas outras esferas da administração
pública, onde raramente alguém sabe exatamente qual é seu papel.
Uma certeza existe quando questionamos pelo motivo de as coisas não
funcionarem no Brasil. Essa certeza é que as pessoas e instituições
não fazem aquilo que deveriam fazer e pior, procuram fazer o que
seria competência de outrem. Imaginem se em uma peça de teatro, um
ator deixasse de executar seu papel e procurasse fazer o de outro,
que lhe parecesse mais interessante, ou que rendesse mais status...
Vamos ver se tenho razão?
Os agentes penitenciários, ao transportar presos, deveriam usar da
maior discrição, mas, pelo contrário, abrem sirenes e viajam
perigosamente em alta velocidade, em viaturas escandalosamente
identificadas. Outro dia, em uma parada de beira de estrada, enquanto
tomávamos um café, parou uma dessas, da qual desceram três
agentes, impecavelmente uniformizados, de óculos escuros e armados
de fuzis, em atitude um tanto agressiva, até parecendo PMs em
operação de invasão de favela. Juro que não entendi o motivo da
pitoresca cena, quase cinematográfica.
Os guardas municipais falham em proteger o patrimônio público e
insistem em assumir o papel da PM. Não que seja papel da PM agredir
os skatistas por manobrar suas pranchas pelos bancos da praça e em
seguida, borrifar gás de pimenta pra afastar o restante da turma. Em
Belo Horizonte eles cismaram de querer aplicar multas de trânsito
também. Fico a imaginar se será necessária a criação de outra
guarda para o patrimônio público, que permanece desprotegido.
Os deputados, que deveriam legislar, preferem fazer parte de CPIs
(isso é compreensível pelo fato de que “investigar” escândalos
"dá ibope"). Aí a vaca foi pro brejo, porque, se boa
parte dos deputados não demonstram a menor capacidade e aptidão, nem mesmo
para criar leis, já que não estudaram pra isso, como irão
investigar sem ter feito curso de investigador?
Os policiais militares deixam de patrulhar para “investigar”
(igualmente compreensível pelo mesmo motivo acima). Entramos na
borda do caos, pois, se a PM não faz o trabalho para o qual foi
criada, menos fará a guarda municipal (eventual substituta dos PMs
que estiverem investigando), formada por pessoal muito menos
preparado.
Os promotores de justiça perdem a oportunidade de promover
plenamente a justiça, para investigar. Pronto! Fim da linha e das
esperanças. O MPE, que de 1988 pra cá ganhou notoriedade no cenário
da justiça, surgiu como alento aos que sonhavam com uma justiça
mais célere, menos avacalhada. Eis que também eles já abandonam o
alvo e se arvoram sobre a função dos outros. E ainda justificam
essa ação na incompetência das Polícias Civis;
Os policiais civis deixam de investigar para administrar delegacias,
cadeias públicas, IMLs, DETRANs e postos de identificação
(interessante é que isso não traz nenhum holofote. Apenas mantém a
sensação de detenção de poder). E administrar da forma mais torta
possível, pois o delegado de polícia não tem formação em
administração, mas é sempre o encarregado de administrar na
Polícia Civil, quando sua função seria presidir o inquérito
policial, ferramenta obsoleta, como disse recentemente um ilustre e
respeitado Promotor de Justiça de Minas Gerais.
Pois é... o pior de tudo é que nada aponta para um futuro melhor.
Enquanto as instituições não se entendem, nem se conhecem a si
mesmas e aos limites de suas próprias atribuições, o povo vai
sofrendo os efeitos dessa ignorância institucional, privado dos mais
básicos serviços, pelos quais paga e paga caro.
Bom seria se cada um se adonasse do seu “quadrado” e ali fizesse
bem o que lhe competisse.
Mas isso é sonho para uma longa noite.
Concordo com o amigo,e acrescento ao seu texto o seguinte:quando todas essas instituições citadas precisam trabalhar em conjunto aí a "coisa fede" pois os cheresia em todos os níveis não aceitam opiniões e comentários muita vaidade não aceitam ser chefiados por uma pessoa que não seja de sua instituição,o cumprimento da missão fica de lado. Só vejo uma saída a longo prazo, na minha singela opinião, Ciclo Completo de Polícia,como acontece em outras nações,mas para isso ocorrer no nosso país,tem que se implantar academias de polícia que formem nas mesmas salas os policiais que atuariam neste ciclo completo,sem vaidades e ciúmes.
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