Segundo ato (ceteris
paribus)
Ao ouvir o noticiário matinal no rádio ao caminho do
trabalho, me dei conta de que, apesar de o dia ter começado diferente, nublado
em Contagem ao ponto de não se poder contar com a vista do belo horizonte pra
onde o trânsito fluia. Cá no mundo de sempre, de todo dia, nenhum novo
horizonte se podia descortinar. Tudo o que se podia esperar de um dia comum já
se dava a sentir no ar menos respirável e no trânsito pouco aconselhável.
O mesmo
repórter anunciou que o aeroporto de Confins se encontrava fechado para pousos
e decolagens desde as cinco e cinco da manhã. Percebi na voz dele um certo prazer em anunciar algo
diferente do que faz todo dia, quando anuncia os aeroportos de BH sem atrasos e
sem cancelamentos.
O mesmo não
posso dizer das notícias nacionais e internacionais, pois o bicheiro que todos
queriam preso, foi posto em liberdade na virada do dia; Israel não parou de
bombardear Gaza, como o povo de bem queria. Mas, pensando bem, isso também, não
é novidade.
Na minha
idade, já se podia esperar o movimento cíclico em que caminha a humanidade. É
assim que sempre foi e sempre será. Pelo menos até que se saiba se o que
voltaria voltará.
Aí, ouço a
notícia me até me arrepia. Um brasileiro está preso nos EUA, por haver agredido
comissários de bordo que não permitiram que ele viajasse na primeira classe
(ele pagou passagem econômica). O homem, segundo consta, virou o cão, babou e
mordeu o povo, até ser contido, preso e algemado em pleno avião.
Mas isso não é
o pior. Destino vil. Ele pode ser condenado a vinte anos de cadeia. Pela idade
que tem, vai ficar preso a vida inteira. Bem diferente daqui no Brasil, onde
apesar de terem provas e mais provas de que o homem fez muita coisa feia, por
ele estar envolvido com gente grande e poder levar muitos consigo, pasme você
meu amigo, já puseram na rua o tal cachoeira.
E assim vamos
levando o cruel dia-a-dia. Dá vontade de não mais ligar o rádio, nem de ler os
jornais. Dá vontade de nem acordar, de dormir como uma criança que não sabe
dessas coisas de gente grande no tamanho e pequena nas ações. Mas não é assim
que ocorre. Temos que nos contentar com estarmos vivos e viver essa vida de
repetição, onde cada dia se sobrepõe ao outro, repetindo suas mazelas, o hoje
reproduzindo os crimes do ontem em busca de ser mais cruel, mais sacana, até
que o amanhã não consiga superá-lo.
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