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A plebe patética aplaude...

Algumas coisas precisam ser tratadas com mais cautela que outras, se queremos ter o respeito de quem nos ouve. Nossas palavras precisam ser pensadas antes de estarem prontas a sair de nossas bocas, se queremos estar de acordo com o que a sociedade cobra das pessoas equilibradas, ou seja, se desejamos ser contados entre os racionais. Não estamos falando de racionais que usam a razão para embasar suas palavras com certo grau de lógica em sua articulação, mas de racionais que raciocinam, ponderam, buscam equilíbrio, agem com sobriedade e bom senso.
Bom senso é o que tem faltado a muitos brasileiros que, não todos é claro, mas certamente alguns, até movidos por louvável intenção, sem entretanto fazer uso da racionalidade à qual me refiro acima, usam e abusam indiscriminadamente da não menos louvável liberdade que, a despeito de ser escassa em muitas partes do mundo, desfrutamos sem limites cá nas terras brasileiras.
Sim. Aqui podemos falar e fazer tudo o que desejamos. Nem as leis precisam ser respeitadas. Isso mesmo!!! Para quem não percebeu ainda, vivemos em um estado de exceção velado. Prova disso é que membros do Ministério Público, poder paralelo que se tornou a partir da promulgação da Constituição de 1988, já estão se sobrepondo aos princípios legais mais básicos, em nome da autopromoção, em busca da fama a qualquer custo.
Ou é outra coisa o que busca o senhor promotor de justiça Cassio Consentino, ao expor na mídia uma investigação envolvendo pessoa pública, antes mesmo de formalizar acusação, assim como tem feito alguns outros promotores e também juízes?
Ora, os cargos ocupados por estes senhores nos leva a pressupor que sejam exímios conhecedores das leis do país, responsáveis que são pela defesa da legalidade e do cumprimento das leis pelos paisanos seus pares. Mas, pelo contrário, são eles próprios grandes ofensores dos ditames legais. São eles que, ofuscados pelo egoísmo, deslumbrados com a fama (mesmo que à custa da exploração da desgraça alheia e em detrimento de seu juramento de fazer cumprir a lei), se entregam ao delicioso calor dos holofotes, ao inebriante espoucar dos flashes e aos aplausos ridículos de alguns representantes desesperados da velha e decadente classe média que se vê cada vez mais longe dos ricos e mais perto dos pobres.
E esses servidores do povo, que deviam perseguir a todo custo o cumprimento das leis que regem nossa sociedade, atropelam eles mesmos tais regimentos, banalizando, vulgarizando, empobrecendo um sistema jurídico que por si mesmo já é pobre, frágil, envelhecido e desatualizado. E que se dane nossa jovem e não menos frágil democracia.
Para que não haja parcialidade no que digo, reprovo com a mesma veemência a atitude do Juiz Sérgio Moro, que deveria, como Juiz de Direito envolvido em um caso de tanto vulto, fugir das câmeras, evitar falar fora do processo. Mas ele sai a dar palestras, catar premiações e expor sua opinião pessoal em público. O mesmo serve para Delegados de Polícia que se manifestam publicamente acerca de inquéritos em andamento, vulgarizando o trabalho de investigação e promovendo o próprio nome para as próximas eleições ao legislativo.  
Se colocar diante das câmeras afirmando que fulano ou sicrano é responsável por isso ou aquilo, certamente não é o papel de investigadores, promotores ou juízes. Aos investigadores cabe reunir provas e encaminhar à Justiça, aos promotores cabe, quando for o caso, ratificar a investigação e oferecer denúncia à Justiça. Aos juízes cabe julgar. Não há previsão legal para que algum desses servidores levem ao público suas opiniões. Qualquer rábula perceberia o abuso e os atropelos.
Mas, como disse acima, eles estão atropelando as leis e fazendo do exercício de sua função, palco e palanque.

E a plebe patética, de pé aplaude...