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Nosce te ipsum (conhece-te a ti mesmo).

Conhece-te a ti mesmo.
Weverton Duarte Araújo.

Nunca é demais lembrar o célebre dito atribuído ao lendário general Sun Tzu, o qual alerta para o fato de que uma batalha já está meio perdida, se entramos nela sem conhecer nosso próprio exército, mesmo que conheçamos as forças do oponente. Mas em que isso nos interessa, se não estamos em uma guerra?

Ouvi há certo tempo, pela manhã no rádio, notícia sobre o fato de que o governo do Paraná estaria trabalhando na regulamentação do uso da força contra trabalhadores em manifestações, quando o comentarista usou a expressão em inglês para "uso progressivo da força". Falou o termo até com sotaque "norteamericanizado", mas disse que não se lembrava como se falava em português. Foi preciso a redação soprar.

Ora, a fala do radialista deixa clara a falta de investimento na própria cultura e a inversão de valores que tanto incomoda aos brasileiros preocupados com nossa cultura, nossa economia, etc. Desde os tempos de Cabral, valoriza-se entre nós o "importado", banhado antes do charme europeu do francês e hoje, da economia linguística estadunidense. Economia porca, já que o inglês deles é pobre e sintético, voltado à utilização cada vez menor de sons na representação de um sintagma, ao contrário da língua portuguesa, mormente a falada no Brasil, que se enriqueceu ao assimilar e agregar termos de outros idiomas.

O problema que enfrentamos na corrida alucinante imposta pela globalização e pela evolução do capitalismo, no que se refere à utilização da linguagem falada como meio de transmissão de uma ideia, se prende exatamente à desvalorização do vernáculo, em favor da economia de tempo na transmissão das informações. Um efeito cascata se desencadeia a partir daí. Observemos que raramente um comercial veiculado na TV ou no rádio contem exclusivamente palavras em português. Pelo contrário, parece que os profissionais da mídia querem dar um ar de superioridade ao produto, acrescendo ao anúncio termos em inglês. 
Exemplo disso são os anúncios de carros: de uns tempos pra cá, junto ao nome da marca sempre se ouve uma frase em inglês, francês e até em alemão. Uma frase inteira, como se todas as pessoas que ouvem estivessem em condições de entender. Já observou isso? Qual a utilidade disso? Qual a finalidade disso? Você não se sente manipulado? Não existe aí um tipo de exclusão?

Mas voltemos à problemática da batalha, já que vivemos sim, em meio a uma guerra. É óbvio que existe alguma utilidade em conhecer outras línguas, pelos mais diversos motivos. O que não pode acontecer e ser aceito como normal, é um jornalista, formador de opinião que é, saber falar qualquer outra língua e não dominar a sua própria. 
Teria sido ele muito menos infeliz, se ficasse calado e não tentasse "fazer média", exibindo um conhecimento que nada acrescentou à matéria e declarando ignorância sobre algo essencial, como é essencial a um comunicador saber falar o idioma do país onde nasceu, vive e trabalha. A menos que ele seja adepto da "república do Paraná", (onde as pessoas falarão inglês após acumularem atos contrários ao bem estar dos brasileiros e fugir para os EUA, depois voltarem e tentarem se eleger a um cargo no legislativo de outra Unidade da federação).

Assim como ele, muitos brasileiros, principalmente os que atuam nos meios de comunicação, costumam, sem a menor necessidade, mas para dar um ar de intelectualidade à fala, acrescentar a tradução de um ou outro termo em inglês, como se essa fosse a nossa segunda língua obrigatória. A eles diria o oráculo de Delfos: Conhece-te a ti mesmo.
 
Acerca do tema do uso progressivo da força, indico o excelente artigo de Gabriela Sutti Ferreira, disponível em: https://www.ibccrim.org.br/noticias/exibir/7436/
 

Um comentário:

  1. É mesmo lamentavel! Tenho observado essa mania de introduzir outra liguas em nosso português!
    Mais o ironico e ate ridiculo que hoje não se aprende nem a propria liguagem nas escola,ja nos paises africanos apesar de ser mais pobres politicamente falando.La eles são obrigados hà aprender 5 indiomas alem do proprio e olha que as escola em alguns lugares la não tem a minima estrutura que se tem aqui.

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