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De onde vem o mal que nos governa?

Pode o sujo cobrar limpeza do mal lavado?


O Jornal O Tempo de Belo Horizonte publicou um perfil dos manifestantes que compareceram à Praça da Liberdade no dia 16 de agosto de 2015 em manifestação contra o governo federal. Aproximadamente 60% dessas pessoas foram classificadas como brancas, com ensino superior completo, pós-graduadas ou em formação e com salário acima de 5 mínimos.
     Ora, não eram desempregados, nem miseráveis, nem excluídos sociais que estavam reclamando. Não são as minorias excluídas, exploradas e sem voz. Muitos deles, provavelmente, devem sua formação superior à política educacional em vigor. A maioria não sofre preconceito racial, nem mora em condições desfavoráveis nas favelas. Não são viciados em crack, nem doentes sem atendimento. Não são sem-terra, sem-teto, sem-comida. Quem são e o que querem?
     A pesquisa promovida por estudantes da UFMG aponta a corrupção como o maior problema do Brasil no imaginário de grande parte dos manifestantes. Aí aparece um problema de grandes proporções e que merece maior cuidado e análise desapaixonada. A corrupção não existe se não houver corrupto e corruptor. Não parece adequado focar na punição dos corruptos descobertos, estigmatizando o PT por exemplo, como se não houvesse corruptos em outros partidos políticos e como se os corruptores fossem vítimas.
     Não é difícil entender que no problema das drogas, por exemplo, toda a responsabilidade seja atribuída aos traficantes e ao governo, mas o usuário percebido como vítima. Poucos param para pensar que se não existissem usuários, compradores, demandantes, não faria sentido o tráfico. O mesmo se dá no mercado de carros roubados. Quem sustenta o mercado de peças originadas pelos desmanches são os compradores, receptadores, cidadãos de bem, acima de qualquer suspeita. Sem esses clientes, os desmanches quebrariam, os roubos e furtos diminuiriam, a violência, os homicídios....
     Na verdade, quem sustenta a violência do tráfico de drogas são os usuários de drogas, sem os quais o traficante não existiria. Diminuiria também o roubo de carros, o tráfico de armas, os homicídios, a violência.
     Entre as pessoas que exigem justiça e honestidade, apontam culpados e cobram punição severa, não estão os sonegadores de impostos, compradores de peças sem procedência, usuários de drogas, abusadores da boa fé alheia e corruptores de toda espécie? 
     Eu conheço gente que reclama da desonestidade do governo, mas que usou diploma falsificado para ingressar na faculdade paga por esse mesmo governo. Todos nós conhecemos alguém que manipula as informações na declaração do IR, fraudando o Estado; que pede nota acima do valor pago e enche a boca para chamar de ladrão o síndico que não apresentou nota de todos os gastos.
Todos os anos se verificam milhares de tentativas de violação ENEM. Candidatos fraudam os vestibulares para medicina, concursos públicos para polícia, exames de CNH e qualquer prova a que se tenham de submeter. Que se espera dos profissionais que serão formados daí?
     Nosso senso de justiça é desequilibrado e tendencioso. Antes de lançarmos sentenças precipitadas, precisamos entender que a justiça que cobramos deve ser aplicada sobre nós mesmos, com a mesma intensidade e força que a desejamos ver cair sobre o outro.

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