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Resenha do texto Clínica e Transmissão: o que a morte pode nos ensinar disso? de Andrea Vilanova

VILANOVA, A. . Clínica e Transmissão: o que a morte pode nos ensinar disso?. In: Ana Cristina Figueiredo. (Org.). Psicanálise - pesquisa e clínica. 1 ed. Rio de Janeiro: Edições IPUB / CUCA, 2001, v. , p. 25-55.



Andréa Vilanova, Psicóloga com mestrado em Psiquiatria, Psicanálise e Saúde Mental, é atuante na clínica e também na pesquisa no Rio de Janeiro.

Em seu capítulo Clínica e transmissão: o que a morte pode nos ensinar disso?, no livro Psicanálise – Pesquisa e clínica, ela apresenta a Pesquisa Clínica em Psicanálise desenvolvida no Instituto de Psiquiatria IPUB/UFRJ, que busca manter a fidelidade à proposta de Freud, de que a clínica deve manter-se como produtora de resultados diretos sobre o fazer e o pensar psicanalíticos, ao incidir sobre o analista. Seu ponto de partida é a orientação de Freud, respeitando-se a manutenção do trabalho clínico orientado pela descoberta do inconsciente como aspecto indispensável do discurso analítico.
A autora chama a atenção para o fato de que a transmissão da Psicanálise se faz fundamental para que esta tenha um lugar na clínica contemporânea. E propõe, com base em Lacan, que a clínica é o que há de indispensável para que esta transmissão ocorra. Assim, define o mote do trabalho que pretende apresentar: como os vieses dessa transmissão atravessam a clínica do psicanalista numa instituição médica.
Vilanova então, seguindo a direção de uma discussão da prática do psicanalista no hospital geral, em contato com pacientes terminais, orienta seu trabalho de pesquisa de mestrado na direção de situar os limites estabelecidos pela psicanálise e pela medicina em relação à morte. Como resultado, adianta, atinge a possibilidade de estabelecer novos parâmetros para a morte sob a perspectiva psicanalítica, que se distanciam da visão da medicina.
Para estabelecer o alicerce de suas afirmações, Vilanova evoca Foucault, cuja companhia lhe serve de aporte teórico para rememorar numa detalhada explanação, o desenvolvimento da ciência médica desde o século XVIII, bem como de como se desenvolveu também o conceito da morte no decurso dos tempos, frente à evolução da medicina, destacando como marco da assimilação da morte pelo discurso médico, a introdução do método anatomopatológico, no final do século XVIII. A pesquisadora pontua que a clínica, configurada por este método e precursora da ciência moderna, estabelece o estatuto epistemológico que funda o sujeito da ciência, ao qual Freud dá voz pelo método psicanalítico. A Psicanálise então, se solidariza com a medicina, sem perder sua visão diferenciada, pois, enquanto a medicina percebe a morte com o caráter de finitude, Freud a apresenta como princípio regulador da vida.

Após muitas postulações com referencia ao método da medicina em comparação ao da Psicanálise, Vilanova se posiciona firmemente na defesa de que o médico sempre vai se deparar com a situação em que não há o que fazer, mesmo porque seu saber é orientado pela manutenção da vida. Assim sendo, o psicanalista sai em vantagem, pois, diante da iminência da situação sem solução, seu discurso é que: ``suportar a falta radical que o trágico exacerba não significa buscar freneticamente uma solução, mas, suportar o impasse``. Nesse ponto a autora já conduz o leitor à tônica do discurso psicanalítico, citando exemplos de casos clínicos, nos quais se evidencia a necessidade de dar voz ao sujeito, especialmente diante da proximidade da morte, quando parece que já não há mais o que se dizer.
Por fim, a autora credita ao psicanalista o ônus de criar instrumentos que proporcionem a tradução do que a prática da clínica psicanalítica produz de saber que se faz necessário ser transmitido.
O texto é de uma técnica lingüística de alto nível, claramente destinado a portadores de conhecimento acerca do tema, até mesmo pela aplicação de terminologia específica. O leitor incauto pode perceber um tom de crítica à medicina, pela forma apaixonada com que a autora apresenta a psicanálise dando respostas onde a ciência se cala.

Vale a pena ler. Fala da morte e uma perspectiva dos seus mistérios.

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