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O que sonha o oprimido?

Em Israel, quem ataca Israel é terrorista, embora Israel possa bombardear impunemente escolas e hospitais e matar crianças, protegido pelo eterno discurso vitimista ancorado na sombra da inquestionável violência da segunda guerra e até mesmo nas milenares diásporas impostas sobre esse povo, cujo próprio deus é um símbolo de prepotência e arrogância. Israel jamais se humilha.

Nos Estados Unidos, quem não bajula os EUA é "terrorista-comunista-narcotraficante", mas os EUA podem destruir impunemente Hiroshima e Nagasaki; invadir dezenas de países, como invadiu o Iraque e o Afeganistão, impor sansões e bloqueios comerciais, com fez a Cuba e Venezuela; bombardear áreas civis; fornecer armamentos para fomentar a guerra, em nome da paz, como fez na guerra da Ucrânia. Os EUA jamais se humilham.
 
No Brasil, pelo menos para certa parte do nosso povo, quem não bajula os EUA, não ora pela paz em Israel e não é de extrema-direita, armamentista e evangélico (ou católico radical), é um "demônio-terrorista-narcotraficante-esquerdopata". Por outro lado, os "cidadãos de bem" legitimados pelo seu deus sanguinário e controverso, além de disseminar notícias falsas, ideias terraplanistas, anti-vacinas,  apoiar movimentos antidemocráticos e até mesmo atos terroristas, podem andar armados ameaçando seus opositores, roubar ou destruir o patrimônio público, espancar mulheres, discriminar e oprimir pobres, negros, pessoas cuja sexualidade não se enquadre em seu discurso moralista e qualquer um que não aprove seus hábitos, os quais, invariavelmente contradizem o próprio discurso.
 
Assim temos um mundo em completo descontrole, habitado por humanos que odeiam humanos, mas se vangloriam de serem abençoados por um deus que autoriza a matar seus desafetos. E para maior tristeza nossa, um Brasil de uma cultura frágil, sem um deus próprio a quem cultuar, sem passado, sem expectativa de futuro, que insiste em imitar e se aliar ao pior que existe na Terra. Diante de Israel e dos EUA, o Brasil se humilha.

Compramos a briga dos cachorros grandes, que sequer percebem nossa existência... Temos vivido um egoísmo cada vez mais acentuado... Copiamos um narcisismo sem o menor escrúpulo... E importamos deuses estranhos à realidade e à cultura local. Essa mistura tem nos levado a agir cada vez mais, em prejuízo de nós mesmos e dos nossos semelhantes.
 
Triste fim nos alcançou, quando percebemos que temos nos tornado aquilo de que fugimos outrora.

Mas, podemos ouvir as vozes da sabedoria, que nos alertam sobre uma característica própria do ser humano. Disse Paulo Freire, que quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.
Da mesma forma, Simone de Beauvoir já dissera que o opressor não seria tão forte, se não encontrasse cúmplices entre os próprios oprimidos. 

Precisamos pensar sobre isso.

E tome guerra...

Nem respiramos ainda um ar livre das bombas russo-ucranianas, voltam os velhos eternos rivais, Israelitas e Palestinos a trocar ofensas armadas e a praticar atos terroristas, atingindo propositalmente alvos civis, violando direitos humanos, negando acesso a recursos básicos, etc.
O belicismo desenfreado, desde Ismael e Isaac, jamais abandonou aquela região e não é sem motivo. 
Obviamente, há interesses econômicos, estratégicos e políticos, justificados por discursos religiosos extremistas, elitistas e nacionalistas... egoístas mesmo. Pouco se diferenciam daquilo que abominam e que, de alguma forma, lhes prejudicou em um momento passado. Tanto judeus  quanto árabes, hoje impõem, cada um a seu modo, mas ambos de forma violenta e cruel, sua ideologias banhadas na crença construída e mantida há séculos, de serem herdeiros exclusivos de um deus que aprova tudo o que eles fazem e abomina os demais seres humanos, que  por não pertencerem à linhagem dos escolhidos, merecem a morte.
E eles mesmos comprem essa sentença: matam indiscriminadamente, até mesmo os seus pares, caso destoem de seu discurso megalomaníaco e paranoico.
Em resposta ao questionamento centenário de Freud e Einstein: Por quê a guerra?, o que diríamos hoje?

Não nos iludamos. Não há vitimas inocentes nessa história. 
Os herdeiros de Abraão se multiplicaram como prometido pela divindade, mas se dividiram em ceifeiros que somam atrocidade e a cada dia subtraem valor da humanidade.

Não é frescura.

Não é  frescura.

É uma sutura,

que nos perfura,

tortura enquanto costura

sem a menor doçura.

Causa certa tontura,

mas só assim nos cura

de nossa loucura;

reestrutura a tecitura.

Eis a pura agrura

dessa vida dura.

A prima Vera

Era Vera prima do verão 
O senhor do calor, sem noção
Depois dela chegava e luzia 
Se queimava e de inveja morria
Mas esta lhe jogava flores
Só queria lhe dar bons odores
Que amores já teve no inverno
Com dores, com choro, o inferno. 

Prima Vera, se riu disso então 
E também do outono já ria
Que esse outro tão cheio de cores
Não consegue colorir seu terno.

Ela sim, porta em si o condão
De trazer cor e luz, alegria
Nos fazendo esquecer nossas dores 
Isso sim, dava pra ser eterno.

A louca varrida

Ai que canseira
Vem já você novamente
A me fazer pouco caso
Com seu desditoso olhar

E sua eterna maneira
De ser assim com a gente
Nos tratando com descaso
Em nós cuspindo ao passar

Como se fosse uma herdeira
De grande fortuna, a doente
Nem planta tem em seu vaso
Nem água com que se lavar

Mas olha por cima, altaneira
E tudo ignora, indolente
Mas seu vôo é sempre raso
E o chão é seu lugar