Weverton Duarte Araújo
Quando eu era criança o dia das mães era experimentado
como um culto a uma divindade de carne e osso. Esperávamos ansiosos
o dia dedicado à bajulação, à oferta de singelos presentinhos
(canecas de louça, panos de prato, enfeites, ou qualquer outra
bobagem que nos custava algum esforço, diante da fraqueza dos nossos
recursos, mas nada de absurdo, que não pagássemos com uma semana de
pequenos trabalhos).
Era um momento de verdadeiro êxtase, poder chorar de
emoção diante das lágrimas da homenageada e tê-la tão por perto,
tão vulnerável e humana. Mas, no dia seguinte, a divindade retomava
seu lugar e o distanciamento entre mãe e filho reaparecia, para
durar mais um bom tempo, pelo bem da função materna, do indivíduo
em formação e da sociedade como um todo, que tinha por meio daquela
relação a garantia de sua subsistência.
Mas o tempo passa... as singelas homenagens passam.
Passam os presentinhos baratos e agora somos quase obrigados a
comprar algo de valor para não sermos vistos como mesquinhos, diante
do esforço sobrenatural que ela nos dedicou a vida inteira. As
homenagens do dia das mães não são mais um prazer, nem um culto,
mas uma formalidade enjoada e sem graça.
Nos quinze dias que antecedem a data, minha caixa de
entrada de e-mails fica atolada de ofertas ridículas, com apelos não
menos ridículos. As lojas insistem em empurrar como “o sonho de
toda mãe” os produtos que não foram vendidos em outra ocasião.
Querem nos vender algo, não importa o quê. Tudo combina com sua mãe
e você tem que dar algo para ela nesse dia. De preferência algo
além de suas posses, que comprometa seu cartão de crédito até o
fim do ano.
Não se recitam mais versos, jograis, poemas. Poucos
mandam flores. No dia seguinte, a mãe de crianças vai continuar
ausente, pois os pequenos vão para a “escolinha” e a divindade
vai trabalhar o dia inteiro, por não ter um marido que a sustente ou
por que se submeteu aos ditames da sociedade que exige que ela
trabalhe para ter como consumir produtos. Mas sua voz, que ensinava,
corrigia e direcionava, não é ouvida pelos filhos. Quem lhes fala é
a escola, que nada pode dizer.
Mãe como função exercida por uma pessoa, numa relação
de cuidado com um ser a quem ela ama incondicionalmente, não se vê
mais.
Mãe como formadora de pessoas, como principal educadora
do indivíduo, antes mesmo de ele ser submetido a qualquer tipo de
educação formal. Aquela que ensina os primeiros conceitos e fornece
a base para que uma pessoa estabeleça e desenvolva seu caráter, onde se acha?
Mãe como insubstituível cuidadora de um animal que não
sobrevive até completar pelo menos um ano de idade se não tiver em
torno de si as atenções diuturnas de uma figura materna.
Mãe como disseminadora do ethos da sociedade em que
vive, ao inculcar desde cedo naquele que vai ser um cidadão, os
princípios básicos de convivência em grupo.
Mãe como a que conduz e introduz por seu discurso a
lei-do-pai, que fornece limites ao pequeno ser humano ainda
desconhecedor da necessidade de regras.
Mãe como inspiradora do super-ego, que desafia,
critica, cobra, instiga e, acima de tudo, está sempre ali, mesmo
quando não puder ser vista fisicamente.
Naquela relação entre mães e filhos de menos de meio
século atrás, a mãe não pedia, mandava. E mandava apenas com o
olhar, às vezes. O respeito era algo quase palpável. A mãe trazia
ainda em seu discurso a ameaça de contar para o pai, esse sim,
portador da ação punitiva, inibidora e suficiente forte para
induzir o filho a se encaixar no modelo apreciado pela sociedade.
Não
podemos dizer que isso funcionava cem por cento, mas podemos, com
certeza, afirmar que a falta disso não está dando muito certo.
Aquelas mães já não são encontradas facilmente hoje
em dia. Hoje os filhos não temem a ameaça ou a punição, até por
que a figura do pai também se transformou no decorrer dos anos. Não
existe mais o perigo das chineladas e surras com “vara de marmelo”,
ou cinto de couro.
O pai perdeu seu poder e a mãe sua ferramenta de
contenção da euforia desmedida, típica da infância e da juventude.
Os resultados estão aí, para se ver, ou para nem se querer ver. As
crianças são criadas soltas por aí, sem regras, sem ensinamento de
valores, sem punição pelos pequenos erros. É claro que não vai
dar em coisa boa.
A pergunta que fica é: Quem vai ocupar o espaço que
ficou vago quando as mães saíram de casa para "competir" com os
homens no mercado de trabalho, buscando igualdade de direitos, direito de trabalhar,
equiparação salarial, respeito pela diferença, tratamento
diferenciado pela condição feminina, etc, etc.?
Não vamos entrar na polêmica de se é certo ou errado
a mulher ir à luta e deixar a criação dos filhos para alguém. O
fato é que as coisas estão assim e assim não está dando certo.
Falta alguém para fazer o que as mães faziam e funcionava melhor do
que agora.
Isso sim, é importante e precisa ser pensado. Se não,
dentro de pouco tempo nós nos destruiremos uns aos outros, por não
termos recebido educação de base, dentro de casa, enquanto era tempo de
aprender.
Neste dia das mães, comemoramos dias sem mães, na essência do termo.
Se tivesse uma distribuição de renda justa em nosso país,as nossas esposas não precisariam trabalhar fora e teria todo seu precioso tempo para educação dos nossos filhos. Quem dera se tivéssemos homens honrados na nossa política.
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